Comandante afirma que focará trabalho em gestão, policiamento e nos direitos humanos
A 2ª Companhia da Polícia Militar, uma das bases da corporação estadual no município, ganhou novo comandante no mês passado. O 22º Batalhão de Polícia Militar do Interior (ao qual a 2ª Cia é subordinada) empossou o capitão Kleber Vieira Pinto na vaga até então ocupado pelo capitão Benedito Tadeu Galende.
Nascido em Tatuí e tendo atuado por duas vezes como tenente na PM local (1996 e 2003), Kleber conta que, ao ser promovido a capitão, manifestou ao comando do batalhão o interesse de retornar à terra natal. De 2009 até novembro deste ano, ele comandou uma companhia da PM em Porto Feliz. “Agora, fui agraciado com este retorno”, destacou o capitão, em entrevista a O Progresso, quinta-feira, 1o.
O capitão destacou o modelo de trabalho que pretende adotar no comando da 2ª Cia. “Trabalharemos com base em três princípios: policiamento comunitário, direitos humanos e gestão pela qualidade”, anunciou. De acordo com ele, esta linha de trabalho não vai diferir muito da adotada pelo antigo comandante. “Cada um tem um estilo de comando, e nós vamos implementar algumas ações que concernem à minha linha de trabalho”, acrescentou.
Neste sentido, uma das metas do novo comandante é “aproximar” a PM ao máximo da comunidade. “Isto é importante para fazer um bom policiamento e proporcionar segurança à população”, comentou Kleber.
Segundo explicou, a ideia consiste em fortalecer os conselhos comunitários de segurança, abrindo canais de comunicação com diversos segmentos, como lideranças políticas, representantes dos bairros, imprensa e a população em geral. “O quartel estará aberto, e a gente gostaria de estreitar ao máximo o relacionamento”, disse.
Kleber também pretende focar o trabalho no respeito aos direitos humanos, “proporcionando dignidade às pessoas”, inclusive, os infratores da lei. Ele ressalta, no entanto, que isto não significa menos rigor no combate ao crime. “O infrator da lei, o agressor da sociedade, tem que ser tratado de maneira enérgica e firme, mas sem deixar de atentar para os direitos humanos”, argumentou o capitão.
Paralelamente à busca pelo bom relacionamento com a comunidade e ao respeito aos direitos humanos, o comandante afirma que pretende otimizar o uso dos recursos policiais disponíveis e intensificar o serviço de inteligência. “A gestão pela qualidade é importante para conseguir resolver os problemas da sociedade no que tange à criminalidade”, ressaltou.
A área de atuação das duas companhias da PM de Tatuí obedece a uma divisão geográfica determinada principalmente pela rua 7 de maio. O lado sul desta rua, na direção do centro da cidade, é de competência da 2a Cia, que também é responsável pelo policiamento em Cesário Lange, Capela do Alto e Quadra. Enquanto isso, o lado ao norte da rua 7 de maio “pertence” à 4a Cia, junto com as cidades de Boituva e Cerquilho.
A “gestão pela qualidade”, citada pelo capitão, consiste em análise diária dos crimes cometidos no dia anterior. “Assim, imediatamente, nós apuramos que crimes foram cometidos, os locais, os ‘modus operandi’ dos criminosos, e desenvolvemos ações com base nestas informações”, explicou.
De acordo com o capitão, a área de atuação da 2a Cia está dividida em setores, e a atuação da PM acontece de acordo com a demanda de problemas constatados. Conforme o comandante, a área central, durante o horário comercial e as periferias, no horário vespertino, são os locais onde os indicadores da PM apontam maior número de crimes.
Ele lembra, no entanto, que os problemas a serem considerados não se referem apenas à criminalidade. “Às vezes, tem uma região que não está tendo crime nenhum, mas a população não vê o policiamento. A gente pretende identificar isso, para que a comunidade tenha sensação de segurança”, afirmou.
Kleber ressalta que uma das missões precípuas da PM é o trabalho ostensivo: “As ações de presença das viaturas, da farda, do logotipo, das nossas cores, isso tudo é muito importante para gerar sensação de segurança e buscar a prevenção”. Para que a PM “apareça”, ele pretende otimizar o uso dos recursos humanos e materiais.
“Não é que até agora ela não estivesse aparecendo, mas eu pretendo fazer com que apareça cada vez mais, dentro das nossas possibilidades”, disse Kleber. Ele reconhece que existem algumas dificuldades, como as escoltas de presos para outras cidades. “Este trabalho onera bastante a presença de policiais nas ruas da cidade, mas é uma função legal que temos que desempenhar”, adicionou.
A grande maioria dos crimes, na opinião do capitão, está relacionada ao tráfico de entorpecentes. Os outros crimes gravitam em torno do problema das drogas. Para ele, isso não diz respeito somente ao município, mas a todo o Brasil. “Os homicídios acontecem, salvo acessões, porque há dívidas de drogas, desentendimento entre usuários, ou porque alguém não tem dinheiro para comprar, aí rouba e pode matar”, citou.
“Combatendo-se o tráfico, nós conseguimos diminuir os outros crimes”, analisou Kleber. Segundo informou, a análise criminosa considera todas as modalidades existentes, mas existem cinco mais importantes, costumeiramente relacionadas ao tráfico: homicídio, furto, roubo, furto de veículo e roubo de veículo. “Sabemos que o combate ao tráfico está sendo forte aqui no município e que os números da criminalidade em Tatuí estão caindo há um longo período”, comentou.
Um dos objetivos de Kleber é atuar constantemente em conjunto com as demais forças policiais e com o Judiciário. Ele considera a parceria entre PM e GCM (Guarda Civil Municipal) de suma importância, e lembra que o atual comandante da Guarda, Doraci Dias de Miranda, já atuou como policial militar.
“O comandante Miranda trabalhou comigo no Pelotão de Força Tática aqui em Tatuí e, diga-se de passagem, foi muito importante para o desempenho do nosso serviço naquela época”, disse. Segundo Kleber, nos primeiros dias em que esteve à frente da 2a Cia, já houve um contato com a GCM para troca de informações.
ABORDAGENS
Segundo números disponibilizados no “Quadro de Produtividade”, de janeiro a outubro, foram realizadas 8.983 abordagens a pessoas (média de quase 900 ao mês) e 9.322 abordagens a veículos (média de 932 por mês).
Para o novo comandante, a abordagem é uma ferramenta importante para a Polícia Militar. “Existem campanhas em andamento para se esclarecer a importância e a eficácia deste tipo de procedimento”, informou.
Ele explica que as abordagens e revistas pessoais permitem apreender armas ilegais e captura de pessoas procuradas pela Justiça, além de demons-trarem que o policiamento está atento e fiscalizando.
As abordagens também servem para realizar o controle do comando sobre a equipe. “É um mecanismo para ‘puxar a orelha’ do policial que não está fazendo muitas abordagens e elogiar aquele que está abordando bastante”, comentou.
O novo comandante pede à população que aceite as abordagens da PM. “A abordagem e a revista pessoal não são demérito para cidadãos de bem, que são a maioria”, garantiu. Segundo o comandante, a PM enfrenta dificuldade para abordar pessoas e veículos, porque os cidadãos não estariam “acostumados”. “Muitos dizem: ‘Eu não sou bandido, então porque tem que me revistar?’”, relatou Kleber.
“A revista pessoal, dentro da legalidade, com o policial sendo educado, seguindo o procedimento padrão operacional, o cidadão tem que aceitar, entender a situação”, argumentou o capitão. No entanto, ele afirma que, no caso de a revista não acontecer de acordo com o procedimento padrão, o cidadão tem o direito de reclamar.
“Se o policial for truculento, agir de forma ilegal, agredir o cidadão, aí sim a pessoa tem todo o direito de reclamar, fazer sua queixa, para se tomar providências e apurar disciplinarmente a conduta daquele policial”.
Do jornal O Progresso de Tatuí, edição online de 04.12.2011