LAMPEJOS DE MINHA ALMA
NA SOMBRA DA NOITE IMENSA TENEBROSA E VAZIA
A SAUDADE QUE NADA MAIS É DO QUE,
VERDADEIRO REGRESSO AO PASSADO CRIA,
LAMPEJOS DE UMA ESPERANÇA CRISTALINA EM NOSSAS ALMAS,
ANTE UMA LEMBRANÇA QUE VALE POR TODAS,
DA DISTÂNCIA E DO TEMPO QUE PASSA IMPIEDOSAMENTE.
O MEU DEVANEIO BORBOLETEANTE PARECE DETER-SE,
E, VAI AO SABOR DE MINHA FANTASIA, APANHANDO,
ATRAVÉS DOS BALÕES, JUNTO DA FOGUEIRA DE SÃO JOÃO,
AO SOM DA BANDINHA, DO PAU DE SEBO, DA ROLETA DE PRENDAS,
DOS QUEBRA-POTES, DO LEILÃO, O FOGUETEIRO E AS BATERIAS DE BOMBAS,
DA PROCISSÃO, O LEITÃO ENSEBADO, VIOLEIROS E A RODA DE CURURU.
FICAVA A SONHAR COM FADAS, A BRINCAR NA INFÂNCIA TRAVESSA,
AS MAIS DOCES E DELICADAS EMOÇÕES DESSA ESTAÇÃO: O PIÃO,
MINHAS BOLINHAS DE GUDE, MEU ESTILINGUE, A PETECA,
O AÇUDE DO SEU MANDUCA, ONDE NADAVA E PESCAVA.
MEU CAMINHÃOZINHO DE MADEIRA, A MINHA ARAPUCA.
O FUTEBOL COM BOLAS DE MEIAS DA MAMÃE... E OS MEUS AMIGOS!
ERA O TESOURO PRECIOSO DE UMA INEFÁVEL ADOLESCÊNCIA...
ONDE ESTÁ VOCÊ, QUERIDA INFÂNCIA? QUE FELICIDADE SERIA,
SE NÓS PUDÉSSEMOS VOLTAR A SER CRIANÇA SOMENTE POR UM INSTANTE
ESTAÇÃO DOS SONHOS ESPLENDIDOS! SONHOS QUE DESABROCHARAM
DELICADAMENTE NA MINHA ALMA, AS ROSAS PÁLIDAS DA ILUSÃO.
O PASSADO QUE SÓ RESTOU APENAS O SONHO. SONHO VAGO
QUASE APAGADO, MAS QUE REVIVE AO PAVOR DO DESENCANTO.
TALVEZ EU SEJA UM VULTO QUE SE PERDEU PARA SEMPRE NO TEMPO
MAS, O VENTO DA SAUDADE CONTINUA DESFOLHANDO AS QUIMERAS.
ABABELADO! PERDIDO PARA SEMPRE NA ESTRADA DO TEMPO...
ANDEJANDO TÃO DISTANTE, MUITO LONGE, NOS CONFINS DA TERRA,
ONDE O MARULHAR INTRÉPIDO DO OCEANO DA EXISTÊNCIA
FAZ-NOS ANDAR TATEANDO Á FRENTE, SEMPRE ADIANTE, NA SOMBRA
DO PORVIR, PARA O TÚMULO, SEM A ILUSÃO DE PODER VOLTAR.
É COMO ESTIVESSE VIVENDO DENTRO DE UM INFERNO TERRÍVEL...
CANSADO! COM ESTA COVARDIA, ESTE MEDO, PERDIDO NO CAMINHO DO NADA!
A SAUDADE DO QUE SÓ FOI ESPERANÇA, COMO UM MANTO DE BRUMAS AO LÉU.
NO TRANSPORTE ABABELANTE DO MEU ARROUBO, CHEGO A ESCUTAR,
ESCUTAR, MEUS GRITOS; OS GRITOS DE UMA CRIANÇA QUE FICOU NO PASSADO,
TÃO CORTANTES QUE PERPETUAM EM MINHA ALMA, NÃO CONSIGO ESQUECER.
O POETA PERMANECE, PORÉM, O HOMEM DESAPARECE POR COMPLETO E,
RESPLANDECE A CRIANÇA... ASSUSTADA! A REVELAR-SE COMO CRIANÇA...
O PASSADO É ASSIM, DEVE SER ASSIM, TEM QUE SER ASSIM...
JÁ ESTES CABELOS BRANCOS, ESTE CORAÇÃO CANSADO DA JORNADA,
ESTA INSPIRAÇÃO, ESTE SONHO, ESTE DESESPERO, ESTA SAUDADE.
SAUDADE DO QUE SÓ FOI FANTASIA, SÓ FELICIDADE, SÓ ALEGRIA,
A INOCÊNCIA, A DOÇURA DE SER CRIANÇA! A GLÓRIA DE SER CRIANÇA!
PASSADO MAIS LINDO DA VIDA, DA NOSSA CURTA EXISTÊNCIA...
TIVE A FELICIDADE EM OUVIR, A VOZ E SENTIR OS LAMPEJOS DE MINHA ALMA,
MINHAS LÁGRIMAS INCESSANTES, FONTE DE ESPERANÇA E ANGUSTIA.
DARDEJANDO OLHARES CINTILANTES AO OCASO, ESTE HORIZONTE INATINGÍVEL
AO BISBILHAR DA CONSCIÊNCIA AO PARAÍSO QUE FOI A INFÂNCIA...
DAS SUAVES RECORDAÇÕES QUE SE FORAM E DAS ILUSÕES DESLUMBRANTES...
VOLTEI À MINHA MONTANHA ENCANTADA: A DÁDIVA DA VELHICE,
FAZENDO A SEGUINTE PERGUNTA, COM SOLUÇOS DE TRISTEZA:
PARA QUE NOS SERVEM AS RIQUEZAS FABULOSAS E FASCINANTES,
MEUS AMIGOS? SE NÃO SABEMOS OU NÃO QUEREMOS RECORDAR...