Autor confesso de seis assassinatos, gráfico de Tatuí foi preso enquanto se preparava para iniciar ritual contra vítima de 9 anos.
28/01/2021 | “Eu queria dar carinho e amor a essas crianças, depois eu via o que havia feito. Balançava o corpo delas, abraçava”.
Paz e tranquilidade, era assim em que viviam os habitantes de Tatuí e Itapetininga nos anos 90. As cidades, localizadas na região de Sorocaba no interior paulista, sempre foram apontadas como exemplos de qualidade de vida e segurança, mas algo terrível aconteceu que começou a tirar o sossego dos moradores da região: crianças começaram a desaparecer misteriosamente entre o final de 1996 e 1997.
Com uma aparência quase pueril e doce, Osvaldo Sonego, então com 28 anos de idade, parecia não ter a dimensão da gravidade dos atos que cometera nos meses anteriores à sua captura. Ou, manipulador e inteligente como quase todos os psicopatas, tinha exata noção do seu poder de atração e convencimento que o usou até ao descrever suas ações no curso de processo e julgamento dos casos em que fora acusado.
A face do monstro estava formada e se adaptara muito bem ao maníaco que ficou conhecido como “O empalador ou o tarado de Tatuí”.
A postura quase melancólica e um tanto infantil era tão convincente que chegou até a garantir a simpatia de parte da mídia e do público que acompanharam a prisão daquele homem após longo trabalho de investigação da polícia civil.
Algoz de seis vítimas identificadas e outras incontáveis não catalogadas, o homem preso parecia com tudo, menos com alguém realmente perigoso.
“Carinho a gente não pede nada em troca, mas não pode parar”, o monstro sorria enquanto descrevia seus atos.
Trabalhador e recluso, segundo os vizinhos
Jovem e bem articulado, apesar da baixa instrução, Osvaldo Sonego era auxiliar gráfico. “Trabalhador e quieto; não saía”, como relataram seus vizinhos.
Preso em 1996 por atentado violento ao pudor, o rapaz foi encaminhado ao Hospital Vera Cruz de Sorocaba onde, pela simpatia, tornou-se amigo dos outros internos. Na época o Hospital recebia pacientes com quadros variados de problemas mentais e em diversos níveis de periculosidade, então era normal internos mais perigosos misturarem-se à usuários de drogas ou álcool ou pessoas com deficiência mental.
Por alguns meses, conforme relatam alguns ex-funcionários e até mesmo ex-pacientes – a instituição fechou e os antigos internos estão espalhados em casas psiquiátricas em Sorocaba – Sônego reinou em seu novo ambiente. Mas, com segurança afrouxada, o auxiliar gráfico fugiria em setembro para Manduri (355 km de SP) onde começou a sua sequência de crimes conhecidos.
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Osvaldo Sônego fugiu do Hospital Psiquiátrico Vera Cruz, em Sorocaba, antes de praticar primeiro assassinato |
O primeiro crime
Em Manduri, Osvaldo Sônego começou a namorar um rapaz de 18 anos, sua primeira vítima. Em um dia de novembro de 1996, após terem feito sexo, Sônego releva que sentiu vontade de apertar o pescoço do companheiro para ver o que acontecia.
“Ele foi ficando roxo, mas a cor era bonita, aí passei minha cinta no pescoço dele e apertei mais ainda; os lábios dele estavam intensos e fui colocando força”.
Após assassinar o companheiro, o maníaco ainda o empalou com um cabo de vassoura no ânus. A violência foi tamanha que muitos órgãos do rapaz foram perfurados. Para finalizar, pedaços de madeira na boca do garoto.
“O empalamento e os pedaços de madeira na boca eram espécies de assinaturas dele, coisa que não revelamos para a imprensa antes para evitar imitadores e termos certeza de que os crimes pertenciam a uma mesma pessoa”, disse à época o então Delegado Assistente Ivan Scott, da Delegacia Seccional de Itapetininga, um dos responsáveis – junto ao Delegado Marcus Tadeu Cardoso – por prender o criminoso.
Outros sinais característicos dos crimes do “tarado ou empalador de Tatuí” é que ele deixava suas vítimas nuas nos locais em que os corpos eram abandonados e recolhia e mantinha em sua casa as roupas das crianças. Provavelmente como um troféu ou lembrança dos atos.
A sequência de crimes e o desejo de matar
É provável que a morte do namorado em Manduri tenha despertado em Osvaldo Sônego um desejo incontrolável de matar. Morando novamente em Tatuí, o criminoso passou a atacar em sua própria cidade e na vizinha Itapetininga. Seus alvos passaram a ser crianças na faixa de 10 a 11 anos que ele mapeava e abordava quando estavam sozinhas.
Em março de 1997, ou seja, após apenas quatro meses da sua primeira vítima em Manduri, Sônego abordou duas crianças enquanto elas saíam da piscina pública mantida pelo SESI (Serviço Social da Indústria) na periferia de Itapetininga. Moradores da região, era comum que os garotos A.A.B, 11 e B.E.F, 10 anos fossem sozinhos até o clube. Não havia motivo para ninguém se preocupar, a cidade era tranquila e todos se conheciam.
Galanteador e simpático, o auxiliar-gráfico chamou as crianças e os convenceu a dar uma volta em seu carro, um buggy vermelho. Esse era seu método: atraía as crianças, puxava conversas, dividia alguma comida ou doce e oferecia um passeio. Os meninos de Itapetininga aceitaram.
Como os garotos não voltaram para casa os pais acionaram a polícia e algum morador, por sorte, relatou ter visto as crianças entrando em um Puma ou Buggy vermelho. Com base nas informações – e com poucos veículos com essas características em toda a região – as equipes dos delegados Ivan Scott e Marcus Tadeu começaram o trabalho de campo e as diligências.
Identificado o proprietário do carro, o auxiliar gráfico foi preso em sua casa na madrugada do dia 23 de março de 97.
Garoto de 9 anos foi salvo por pouco
No momento em que invadiu a casa de Osvaldo Sônego a polícia encontrou um menino de 9 anos na companhia do criminoso. Seria a próxima vítima do maníaco.
Segundo a polícia, o criminoso estava calmo e, orgulhoso, confessou os demais crimes e levou as equipes policiais até Alambari, no entorno de Itapetininga, local onde deixara os corpos dos meninos de Itapetininga e de outras vítimas de 12 e 16 anos emboscadas em Tatuí.
Ao todo Osvaldo Sônego confessou seis assassinatos, mas polícia acredita até hoje que o número pode ser muito maior. Entre a primeira e a última vitima confirmada foram quatro meses, ou seja, ele matou em média mais que uma criança por mês. Estava preparado para barbarizar mais uma se a polícia não tivesse chegado.
Encaminhado para a Delegacia Seccional de Itapetininga, em 25 de março de 1997 tentaria suicídio na cela em que estava. Alguns duvidam dessa hipótese e relembram que tanto o Hospital em que Sônego foi levado para ser atendido quanto o prédio da delegacia de Itapetininga foram cercados por populares que queriam fazer justiça.
Osvaldo Sônego cumpre pena em uma instituição penal manicomial do estado de São Paulo. Com avaliações periódicas por parte das equipes técnicas do sistema judiciário paulista, sua manutenção longe do convívio da sociedade precisa da constante renovação de decisão judicial.