Paciente de Tatuí fazia uso de cloroquina e ivermectina, mas não resistiu e morreu por complicações da covid-19. Naihma Salum Fontana é médica em Sorocaba.
Por Carlos Henrique Dias, G1 Sorocaba e Jundiaí, com edição do DT
Naihma Salum Fontana relembra atendimentos a casos da doença — Foto: Arquivo pessoal |
21/01/2021| Na linha de frente no tratamento de paciente com Covid-19, a infectologista Naihma Salum Fontana relembra atendimentos a casos da doença em três que pessoas que procuraram ajuda depois que tentaram supostos medicamentos "preventivos", com a hidroxicloroquina e ivermectina.
Médica desde 2009 e infectologista desde 2014 em Sorocaba (SP), a profissional afirmou ao G1 que três situações foram emblemáticas à equipe, sendo que uma das pessoas não resistiu e morreu por complicações.
O paciente era de Tatuí e fazia o consumo de cloroquina e ivermectina. Segundo a médica, o homem, de 36 anos, era do grupo de risco e apresentava obesidade.
"Estava tomando essa medicação e com falta de ar. Quando voltou ao hospital, já estava com cianose labial [quando a pele fica roxa]. Ele foi entubado em Tatuí e encaminhado para o hospital que trabalho em Sorocaba. Ficou entubado por 72 horas e foi a óbito. Chegou em um estado muito avançado", lembra.
Conforme a profissional, o principal entre os efeitos adversos que podem acometer individualmente cada droga é o retardo na busca por um serviço de saúde para avaliação dos efeitos silenciosos, que podem esconder a ação da doença.
"É a hipóxia silenciosa, a diminuição da quantidade de oxigênio no sangue. Então, a pessoa se sente protegida e não está", diz.
Gestante medicada
O outro caso, segundo Naihma, era uma grávida, de 40 anos. Ela não queria ir ao hospital e começou a se tratar com hidroxicloroquina, sem orientação médica.
"Só que ela já tinha uma arritmia e teve que ser internada por causa da cloroquina. E, ao fim, estava de 28 semanas. Conseguiram segurar a gestação por mais duas semanas, mas evoluiu para insuficiência respiratória e experimentou os efeitos colaterais, que quase a levaram a óbito", detalha. A paciente e o bebê sobreviveram.
O terceiro paciente, de 50 anos, tomava ivermectina em altas doses e o quadro evoluiu para hepatite fulminante.
O homem teve que ser internado, porque tomou uma dose alta. Em seguida, a equipe médica teve que retirar as medicações. Ele não teve Covid e foi internado pela ivermectina. Dias depois, o paciente teve alta.
Sobre a eficácia do suposto "tratamento precoce", a médica aponta o risco em utilizar medicamentos.
"Não funcionam. Vemos na prática e diversos estudos robustos já provaram que não tem eficácia na redução da probabilidade de necessidade de entubação e ventilação mecânica, ou redução na chance de óbito."