A manhã gélida da última sexta feira do mês de agosto começava ser aquecida pelos raios de sol! A pequena cidade, cingida por dois importantes cinturões viários, a rodovia e a ferrovia despertava para mais um dia! Pessoas iam e vinham pelas ruas. O comércio abria suas portas, bem como os prédios públicos.
No Centro de Referência da Assistência Social, os funcionários davam início a mais um dia de atendimento, apesar da quarentena e da reduzida circulação de pessoas, vez ou outra aparece um ou outro com alguma necessidade. Seja para pegar máscara descartável, um pouco de álcool gel, ou atualizar o cadúnico, retirar o leite...
O cheiro do café coado delatava seu frescor quando um cidadão, falando alto, acusou sua presença. Todo prosa, porém, confuso nas palavras, logo se viu que era um homem da estrada, ou seja, um transeunte pedindo passagem para a cidade mais próxima. Atendido com a passagem, um copo de chá quentinho acompanhado por pão com manteiga, ele pediu também um cobertor e algumas peças de roupa. Depois o cidadão fez um pedido deveras inusitado: “moça, você pode colocar uma música aí no computador pra mim ouvir?”
E a recepcionista perguntou: o que você quer ouvir? E ele prontamente disse o nome de um grande sucesso pop dos anos 80...
A música começou a tocar e lá ficou o homem maltrapilho, há dias sem tomar banho, tomando seu chá e ouvindo sua canção favorita! Seu corpo era embalado pela música que o levava de um lado para o outro. Por um breve momento ele se fez feliz. A melodia o levou para uma outra dimensão, tempo e lugar. Somente seu corpo estava ali, mas sua alma viajava por caminhos e lugares guardados no coração, nas caixinhas da memória... A música chegou ao fim. O chá também. A manhã avançava e com ela o sol aquecia generosamente o ambiente. O homem da estrada ajeitou seus poucos pertences e, por demais agradecido, tomou o rumo do ponto de ônibus...
O dia seguiu seu curso e eu fiquei todo ele a pensar no homem da estrada e suas necessidades e desejos e prazeres que vão muito além do tudo aquilo que seja visível aos olhos.
Cil Saroba