O Coletivo Independente Pé Vermeio nasceu em 2015, mais precisamente no dia 10 de junho, proveniente de uma ruptura de um Moto Clube de Tatuí. Fundado por Ricardo Huss, Neto Silver, Cassiano Leme e Rafael José, o coletivo vem de um núcleo de produção de bandas dentro dessa organização anterior e, devido a divergências. Eles entenderam por bem sair e montar uma outra organização, dessa forma nascia o Pé Vermeio, que trazia em seu nome o INDEPENDENTE muito bem colocado para que não houve associações a qualquer outra agremiação existente.
O foco inicial e até hoje seguido é a produção de eventos com bandas brasileiras e de todas as partes do mundo, visando colocar a cidade no circuito de tour das bandas independentes no cenário global, sempre com a preocupação de conscientizar, dentro dos eventos, sobre valores libertários, como preconceito racial, movimento negro, lgbt, feminismo, veganismo, entre outros movimentos que compõem a contracultura ligada à arte periférica, uma das grandes forças motrizes para a existência, mantendo a coerência. A escolha do nome é para reforçar a característica do underground interiorano e colocar bem grifada o nosso pertencimento e nossa luta diária pela ampliação da cultura na capital da música brasileira, a cidade de Tatuí.
O inicio
Após a decisão da fundação e do nome, começamos a pensar no primeiro evento do coletivo para apresentação ao público do novo formato de organização. Com isso corremos atrás de prováveis espaços para a sua realização e, após reuniões, fechamos com o Dama de Ferro, primeiro bar voltado ao rock da cidade e que tinha aberto as portas há pouco tempo. Então esse evento de abertura ocorreu no dia 26 de Setembro de 2015, contando com as bandas Mar de Lobos (Iperó), ToxicCarnage (São Roque), Arame Farpado (Itu) e DMZ (Tatuí), com equipamento alugado e cobrando 5 reais para arcar com todas as despesas do evento, alcançando 169 pagantes em um sábado à noite com bandas autorais, conseguindo assim realizar o primeiro evento com um índice positivo.
Após essa ocasião, o coletivo percebeu que podia ir mais longe e focar exclusivamente na produção de eventos autorais e dessa forma, na sequência, aceitou dois desafios, produzindo um show de uma banda australiana em novembro (Simon Chainsaw) e, em dezembro, da maior banda de rock colombiana (Tr3z de Corazon). Com esta última, deu-se um salto gigante no cenário independente da cidade, pois pela primeira vez uma ação independente ocupa o espaço da Concha Acústica, maior equipamento público voltado a eventos na cidade, colocando mais de 600 pessoas numa sexta-feira à noite, com bandas de som autoral. Nessa época, ainda éramos quatro pessoas.
O amadurecimento
Após alguns eventos muito bem sucedidos, o coletivo percebeu que deveria ir além do quadro musical e se embrenhar cada vez mais na arte como agente de promoção social, através de ações integradas aos eventos, e por isso resolveu agir, convidando novas pessoas com diversas vivencias no meio, não propriamente no musical, para que essas somassem ao coletivo em outros pontos, assim o Coletivo saiu de 4 pessoas para 11, possibilitando dessa forma ampliar vigorosamente ideias e nascendo assim novas questões, como a produção gráfica de um zine, uma ampliação do posicionamento político e social nas páginas das redes sociais e também ações junto a escolas e universidades. Dessa nova fase do coletivo, nos rendeu uma apresentação e distribuição de zines no Etec de Portas Abertas da cidade, que mostrou a muitas pessoas o trabalho que o coletivo executava, além de duas reuniões abertas usando o espaço do museu municipal, onde aproximadamente 30 pessoas compareceram em cada uma delas, entre músicos, atores, sociólogos e entusiastas da cultura.
Um ponto que foi o divisor de águas para o fortalecimento das ações foi a doação de parte dos equipamentos de voz, com mesa, potência, PAs, por parte de Daniel Miranda, baterista da banda 88Não, que foi e é uma parceira muito forte na produção musical da cidade, apesar de fazer parte do cenário do grande ABC. A doação nos permitiu acabar com os alugueis de equipamentos e propiciou comprar equipamentos próprios, dessa forma passaríamos a ser mais audaciosos.
Nesse período, o coletivo ampliou sua ação musical, trabalhando com bandas do Chile, Uruguai e Argentina. Um passo importante dado também foi passar a integrar o quadro de coletivos produtores do Grito Rock Brasil, dentro do guarda-chuva de coletivos do Fora do Eixo. Isso permitiu maior contato e visibilidade ao Pé Vermeio, tendo organizado as edições de 2016, 2017 e 2018, já se preparando para a 2019, integrando cada vez mais tipos de arte e ações de representatividade cultural.
Esse ponto também alçou o coletivo a novos patamares, conseguindo ocupar espaços nas mídias convencionais, como os jornais Cruzeiro do Sul, O Progresso de Tatuí e programas televisivos como TV Tem e TV Sorocaba, através de entrevistas e matérias com os eventos.
Efetivação e Desenvolvimento
Com a atuação mais robusta em diversos segmentos artísticos e caminhando para a independência (mesmo que ainda pequena) de equipamentos de som, o coletivo precisava de pessoas especializadas para a operação de toda a estrutura. Dessa forma, foi conversar com o coordenador de Produção Fonográfica da Fatec Tatuí, Luís Antonio Galhego Fernandes. Houve um consenso de forma rápida e, dessa forma, saímos dali com a ideia de criar um grupo dentro da faculdade, um grupo que pudesse apoiar o coletivo em suas ações musicais, dessa forma nascia na Fatec o MIND (Núcleo de Apoio à Música Independente), que em parceria com o coletivo daria suporte para o estágio dos estudantes. Apesar do Mind ter nascido em conjunto ao coletivo, as ações deste transcenderam essa parceria, se estendendo para outros coletivos da cidade, como Todos Pela Arte, Canjazz, Sarau Sax, LowCar, Kapha Festival, Sonora Festival, entre outras ações no decorrer de sua existência, sempre com apoio do Coletivo Pé Vermeio, que fornece o equipamento de som de forma gratuita para todas as ações ligadas ao MIND.
Com maior força de trabalho, o coletivo passou a ocupar diferentes espaços para a demonstração da cultura, como praças públicas, bares, lanchonetes, pesqueiros, casas de show e ruas.
Dentro desse processo de produção cultural, ligadas às promoções sociais e educacionais, o coletivo conquistou um marco histórico, sendo o primeiro coletivo independente voltado à música independente da cidade a conquistar uma cadeira no conselho de cultura, sendo presença constante nos debates de produção cultural na cidade e respeitado como órgão promotor.
Essa presença rendeu à organização algumas oportunidades junto à Secretaria de Cultura, e pela primeira vez na história da cidade a comemoração do dia mundial do rock teve um dia inteiro de bandas autorais da região, propiciando assim ao público de quase mil pessoas conhecer os novos trabalhos de vários conjuntos, em um palco grande com excelentes equipamentos patrocinados pela Prefeitura Municipal.
Outra conquista importante foram as parcerias realizadas com outras cidades, rendendo ao coletivo apoios de criações que se inspiraram muito nas ações deste, como por exemplo o programa de YouTube Lado B, o Lado Bom do Rock, que entrevista bandas de todo o estado, dando espaço para o rock autoral de uma forma bastante profissional na cidade de Cerquilho, também o nascimento do Coletivo Semente Coletiva, de Iperó, uma ação social voltada para a música e para a agroecologia e mais recentemente ao Coletivo Mexerica, organização social que nasceu feminista com muitas integrantes que somaram forças com o Pé Vermeio em diversos eventos, antes de se organizarem como coletivo, também apoiando o nascimento e crescimento de um cenário independente da cidade de Quadra, levando bandas autorais para lá e mostrando alternativa ao público.
Além de tudo isso, o Pé Vermeio passou a ser referência na organização de eventos independentes dentro da região, sendo procurados por artistas de todas partes do Brasil e do mundo, passando assim a integrar um cenário de rota de várias tours de bandas alemãs, belgas, chilenas, francesas, eslavas, colombianas, uruguaias, inglesas, paraguaias, uruguaias e australianas, além de bandas do Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Essa produção constante de conteúdo artístico propiciou ao município uma ligação nunca antes vista, pois através do Coletivo Pé Vermeio muitos estudantes da Fatec puderam participar de diferentes espaços e começaram a construir, de forma conjunta, com uma força impressionante, efervescente e independente, juntando o pessoal antigo da cena independente, a Fatec e os alunos do Conservatório, que antes dessa iniciativa eram universos que não se falavam muito e dessa forma não produziam em conjunto.
Nos anos seguintes, o coletivo passou a integrar fortemente toda discussão cultural, social e educacional dentro do município de Tatuí, atuando de forma a apresentar que o jovem em vulnerabilidade social está mais suscetível às mazelas da vida, e mostrando que através da arte é possível sim realizar uma conscientização, tanto que gerou por parte da Prefeitura algumas ações preventivas, usando a música como chamariz.
Foi chamado para falar um pouco da ação na semana de movimentos sociais da Universidade Federal de São Carlos e foi bastante elogiado pela Profª. Drª Maria Cláudia Carrochano, pelas ações desenvolvidas e pela prática do movimento social em toda sua plenitude.
Atualidade
|
O Coletivo com Sônia Rampim, do Iphan |
Dentro desses poucos mais de 3 anos de atividades, os Pé Vermeio já produziram 27 eventos em Tatuí, Quadra, Iperó e Cerquilho e apoiaram outros 18 eventos em diversos locais e por diversos motivos, desde Ação do Dia das Crianças da Apae até festival de música eletrônica ao estilo rave, acreditando que toda forma de arte deve ser apoiada para fortalecer os laços e os artistas da cidade.
Para 2019 planeja ações mais focadas em bairros periféricos, pensando na construção de um novo publico, de adolescentes e oferecendo uma alternativa de cultura dentro do bairro, para que assim as margens sociais fiquem cada vez menores e todos tenham acesso.
Recentemente se reuniram com a coordenadora de Educação do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e também com a presidente do Conselho de Patrimônio Histórico e Artístico de Tatuí para planejar ações conjuntas com ferramentas do poder público. Além do planejamento para a quarta edição do maior evento do Coletivo no primeiro semestre, o Grito Rock, que este ano deverá ser ampliado nas expressões artísticas.
Com informações do Coletivo Independente Pé Vermeio