A bola de cristal dos infortúnios
As bolas de cristais costumavam revelar o futuro. Agora, revelam o terrível presente constantemente e sem escrúpulos. A importância das coisas parece ser proporcional a seu nível trágico. Os bons presságios não possuem muito espaço na invenção do norte-americano Philo Farnsworth, que nos permite ver de perto o mais longe do que se imagina.
As notícias revelam o cáustico presente para tornar o futuro preocupante. Um acidente que vitimou pessoas, alguém que matou outrem, grandes quantidades de pecúnia desviadas para lugares sem fim, pessoas armadas que se alimentam do terror dos outros e muitas outras, cada uma pior que a outra, como se competissem por um prêmio.
E ainda reverberam a ideia de que existe liberdade. Todas essas notícias levam a escolher a não escolha devido a submissão imposta pelas “liberdades” alheias que violam os direitos intrínsecos de qualquer pessoa.
Até parece que essas notícias são mostradas com ênfase para tentar nos ensinar a perpetuar essas atrocidades. Perpetuá-las no pensamento, bloqueando, como um fluído ultraviscoso, a mobilidade da felicidade.
Como disse o filósofo existencialista francês, Jean Paul Sartre: “Viver é isto: ficar se equilibrando, o tempo todo, entre escolhas e consequências.” Mas muitas das vezes não é preciso ter escolhas para ter consequências. Basta viver e todas as consequências já serão suas. Muitas delas consegue-se mudá-las mediante nossas escolhas, outras são obrigatórias.
É como iniciar uma jornada carregado de variadas coisas, constituindo grande peso. Ao longo do trajeto é necessário abdicar algumas coisas, outras, necessário incorporar a essência. Até que no final, termina-se o trajeto com as coisas que ajudaram ou não, tudo depende das escolhas. Existem fardos que são carregados por todo o trajeto e são imprescindíveis para completar o trajeto. Há pessoas que terminam o trajeto com a carga pesada, fatigadas e reclamando do seu fardo. Outras a terminam leves, satisfeitas e prontas para partir para outra viagem.
A existência vem antes da essência. A essência é moldada pelas consequências que afetam a existência, onde há as consequências que podem ser evitadas mediante escolhas. As escolhas passam a ser ferramentas utilizadas para evitar consequências conhecidas ou não.
Por isso, o presente revelado pela bola de cristal dos infortúnios é, nada mais, nada menos, as consequências de algo que poderia ser estável ou mão. Assim, pode-se mudar o futuro mediante escolhas certas. Escolhas certas que podem mudar não só o indivíduo mas o coletivo, apesar de individuais. Pois, assim como as más, as escolhas boas podem afetar muitas pessoas e mudar as suas aparentes inflexivas consequências. Quiçá, mudar as consequências que a mágica bola de cristal dos infortúnios mostra em suas previsões do presente.
A.M.O.R.
(Ana Moraes de Oliveira Rosa)