GUARDE AS MIGALHAS PARA O INVERNO
O gélido coração
Das medidas incomensuráveis
Consternam o ganhador de pão
Em suas labutas intermináveis
O pérfido colosso
A míngua os deixa
Com sede no fundo do poço
Enquanto aprecia a ameixa
De um pão faz-se dois
Com duas mãos faz-se uma
Inconsequente com o depois
Criando tremenda bruma
Inatingíveis condores
Impõem vírgulas e pontos
Sem nem “mais amores”
E eternos desencontros
Evidente sagacidade
Ao não mexer com as facas
Perpetuam a imunidade
Das desonestas marcas
As letras, símbolos de sabedoria
Se tornam profundos pesos
Quem as domina, provido de regalias
Quem não, desprovido de beijos
Guarde as migalhas no verão
Quiçá, para desfrutá-las no inverno
A míngua é e será grande, então
Os tornarão excluídos e subalternos
A frieza lhes corroerá
A tristeza irá ajudá-la
A essência humana desprezar-se-á
Para enfim dizimá-la
O reluzir dos brilhantes
Valem mais do que a chama
Do corpo habitante
Que eternamente clama
A burlada intenção
No transcurso se desviará
Caindo em outro ribeirão
Sórdido de cá para lá
O arquiteto projetou
Aquilo para a evolução
No fim, inocentemente, criou
Um castelo para a humilhação
Os grilhões supervalorizados
Atam os pés, as mãos e a cabeça
Antagonizam ideais alados
Fazendo com que a esperança pereça
As migalhas nas mãos calejadas
A brisa do vento as leva
Para as caóticas marulhadas
E o viço do barro enerva
O pão nosso de cada dia
Extinto pelo desejo “primordial”
E a roda sempre tardia,
Preparando veneno com mingau
A gula hepática
Pobres entranhas
Da foice sorumbática
Sofre horrendas façanhas
A perspicácia na escolha
Regeneração do sofrer
O corvo não perdoa
Sob a luz do Sol e do anoitecer
Pobre canário esverdeado
Asas podadas, já esquálido
Canto encadeado
Pranto deveras pávido
O Sol e Lua imparáveis
Dançam a música eterna
Os tempos e momentos intermináveis
Enquanto o sentimento hiberna
O Tatu corre para a terra
A onça sobe n’árvore
Putrefação, espanta fera
Murcha folhas, ar’flores
A natureza petrificada
Revoltada com o embevecer
Pela ilusão desvairada
De um pobre enriquecer
Quero-quero não quer mais
A roça foi em magote
A miséria é demais
Entorta até lingote
Tanta terra para o nada
Mas o nada existe
Sobre essa bela plaga
O nada vazio persiste
As migalhas já farelos
Incitam a imaginação
Constroem-se castelos
De pura ilusão
O inverno sempre frio
Pode vir quente
Pois até roubaram-lhe o brio
De ser gélido inconsequente
Olhas os pássaros ao longe
Todos a minguar
Os cantos obscurecidos pelo bonde
Nem mesmo canta o sabiá
O bonde já passou
Recolhendo as migalhas
Prometeu e se auto perdoou
De suas públicas falhas
A fênix é fogaréu
Remanescente até de centelha
Liberdade ao escarcéu
Das intemperadas telhas
Nunca vista justiça
Pesa pena e corações
Cega, sem malícia
Punindo os foliões
O labirinto do magnífico
Desigualmente estruturado
Entre o Atlântico e o Pacífico
500 anos para ser regrado
Porfírio Oliveira Vasconcelos Onofre