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Cristino Mota / O Progresso de Tatuí |
Custo de descarte reduziu aluguel, gerou demissões e fez ressurgir figura de bagageiro
'Montanhas' de resíduos estão sendo formadas em diversas áreas do município
O uso de caçambas para descarte de resíduos da construção civil sofreu queda de 70% em Tatuí. A causa é o aumento do custo de descarte dos materiais que as empresas especializadas precisaram repassar aos clientes.
Conforme autoridades, a situação está provocando, pelo menos, três efeitos. O primeiro – e considerado grave – é o surgimento de “lixões” em áreas rurais e urbanas; o segundo, demissões no setor; e o terceiro, a volta da figura do bagageiro.
Desde o fechamento em definitivo do aterro sanitário do município, localizado na estrada municipal Moisés Martins, empresas que trabalham com o descarte de resíduos de construção civil precisaram passar por adequações. A primeira delas - e principal - foi a mudança do local de descarte.
Até então, os restos de concreto, telhas, madeiras e demais materiais utilizados em obras de construção e reformas eram jogados no aterro municipal.
Com a desativação, por determinação da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), do Estado de São Paulo, a Prefeitura teve de encontrar outro local para o descarte do lixo doméstico e de inertes.
Atualmente, esses materiais são despejados em Cerquilho (resíduos da construção civil) e Cesário Lange (materiais orgânicos). Além de percorrer distância maior, gerando custos com combustível, conservação dos caminhões, entre outros, as empresas precisam pagar taxa que varia entre R$ 80 a R$ 100.
Esses custos fizeram o preço do aluguel das caçambas inflar em 400%. A locação aumentou de R$ 70 para R$ 280. Segundo empresários do setor, a alta impactou na decisão de proprietários que realizam obras de pequeno porte.
Como muitos trabalham com orçamento apertado, optam por enxugar despesas. O resultado são despejos irregulares aumentando em número, volume e áreas na cidade.
Há registros de “lixões” clandestinos na região do Jardim Gramado, Inocoop (próximo à represa da Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e na vila Angélica.
A situação foi tema de pronunciamento na Câmara Municipal, na noite de terça-feira, 12. Fábio José Menezes Bueno (Pros) abordou o assunto ao comentar requerimento apresentado pelo colega Márcio Antônio de Camargo (PSDB).
O parlamentar disse que recebeu diversas reclamações. Entre elas, de pessoas que estão reformando residências, construindo, ou querendo proceder com limpeza. A principal queixa é o preço do aluguel das caçambas.
Bueno ressaltou que o município não dispõe de local apropriado para descarte do chamado RCD (resíduo da construção e demolição). Também mencionou a “implantação da usina de britagem” (antiga usina de reciclagem), mas afirmou que não tinha informação sobre o funcionamento dela.
“Não sabemos se está operando, se vai funcionar, se tem capacidade para receber todo esse entulho da construção civil. Essa usina tem dois anos que está para começar e resolveria dois problemas sérios”, argumentou.
Ao viabilizar o descarte em Tatuí, o parlamentar disse que a usina baratearia os custos das caçambas. Desta maneira, evitaria o depósito de materiais de forma irregular, como está ocorrendo, e permitiria o reaproveitamento do entulho para recapeamento das estradas rurais.
“Vai ser bom para a cidade, para os construtores, que querem usar uma caçamba de entulho para descarte, e para a população rural, que vai ter suas estradas permeabilizadas com o que vai sair daquela usina”, ressaltou o parlamentar.
Ainda na sessão, Bueno sugeriu ao Executivo, como alternativa, o licenciamento de uma área junto à Cetesb para o despejo de resíduos da construção civil.
“Não é um lixão. Esse já está resolvido e está indo para Cesário Lange. Mas, precisamos de uma área, na própria cidade, para que esse resíduo possa ser reaproveitado e que fique mais barato para a população”, argumentou.
A respeito do custo, o vereador destacou que ele está contribuindo para a formação de “montanhas de entulhos” despejados pela população à margem de estradas rurais. “Voltaram, inclusive, os bagageiros (com carretas e carroças). Era uma profissão em extinção, que está aumentando”.
Segundo Bueno, apesar de mais baratos, os bagageiros não têm condições de levar o material para Cerquilho, como fazem as empresas especializadas. “O problema é que eles estão descartando isso em algum lugar”, comentou.
Conforme proprietários das empresas que trabalham com caçambas, a situação do município é a mesma de toda a região. Procurados pela reportagem, os empresários disseram que houve aumento no preço do aluguel em todos os municípios que precisaram se adequar à legislação ambiental.
Em Tatuí, os empresários confirmaram que o custo da locação atingiu “em cheio” o setor. Antes das mudanças, algumas empresas precisavam locar caçambas de outras para poderem dar conta do volume de pedidos. O prazo de permanência com as caçambas também era menor – em média, de cinco dias.
Depois disso, as solicitações caíram drasticamente. Para não perderem ainda mais clientes, as empresas estão flexibilizando as locações.
Pelo valor de R$ 280, os proprietários de imóveis pequenos podem permanecer com elas por até 30 dias. No momento, as empresas estão atendendo, em sua maioria, grandes empreiteiras.
Conforme os proprietários, “um ou outro cliente residencial” está solicitando aluguel de caçambas. “Os demais pegam uma caminhonete e saem, na calada da noite, despejar os materiais na beira das estradas, para jogar sofás velhos e outras coisas”, disse um dos empresários consultados por O Progresso.
Por causa da queda acentuada, as empresas do ramo tiveram de demitir. Em uma delas, por exemplo, 60% dos funcionários foram desligados. Os empresários informaram que houve demissões também nos municípios vizinhos.
Alguns dos empresários consultados pela reportagem disseram não ter sugestão para o problema ser minimizado. Outros comentaram que a questão poderia ser resolvida com a ampliação de capacidade da usina de britagem.
O consenso é que, mesmo que haja barateamento do custo de descarte, o preço do aluguel das caçambas não deve voltar ao patamar antigo.
Para os empresários, os consumidores que se assustaram com a alta devem, com o tempo, “se conscientizar de que mais importante que o valor é o descarte correto”.