Giuseppe Wolf exibe o quadriciclo elétrico e o quadriciclo para deficientes físicos (Foto: Caio Silveira/ G1)
Um veículo criado por um aposentado de 75 anos chama a atenção pela criatividade e economia em
Tatuí (SP), cidade que fica a cerca de 145 quilômetros da capital. Trata-se de um quadriciclo movido por eletricidade feito a partir de peças de bicicleta. Com cinco horas de recarga em uma tomada - o equivalente a cerca de R$ 0,60 - o veículo consegue andar 60 km e chega a velocidade de até 70 km/h.
O responsável pela invenção é o italiano Giuseppe Wolf - ou 'Seo' Giuseppe. Ele afirma que decidiu inventar o veículo depois que um taxista cobrou o preço de R$ 25 por uma curta viagem no centro da cidade. “Já havia abolido o carro por conta do alto gasto para mantê-lo. Estava me acostumando a pegar táxis mas, em uma viagem que durou dois quilômetros, o taxista me cobrou um valor absurdo. Mesmo discutindo com ele sobre o abuso, paguei. Depois disso, decidi que iria criar alguma coisa para poder me locomover”, explica.
Quatro partes de bicicletas interligadas formam a carroceria do veículo, que mede 1,30 m de largura e 2,20 m de comprimento. Na frente do quadriciclo fica o motor, composto por oito baterias de motocicletas, que fornecem a energia necessária para o acelerador funcionar. Os freios, localizados no guidão e no pedal, automaticamente desligam o motor e param as rodas. A cobertura que protege o usuário é uma lona transparente. “É muito confortável, dá para fazer curvas com muita estabilidade, consegue andar em uma velocidade agradável. É bem divertido e chama muita atenção quando dou umas voltinhas com ele por aqui na rua de casa”, afirma.
O inventor também está empenhado na criação de um quadriciclo para ser usado por um deficiente físico. Ao invés de possuir um banco, o novo veículo possui uma estrutura que comporta a cadeira de rodas. Para fazer descer e subir a peça, o inventor criou um sistema usando um macaco hidráulico. Ele pretende doar o veículo depois de terminá-lo. A criação já foi patenteada na Justiça. “Por enquanto ele está feio, mas depois de ter certeza que ele funcionará vou deixá-lo bem bonito e doar para algum deficiente carente que desejar. Mas, vou precisar também da ajuda de alguém para comprar o motor, que custa em torno de R$ 1,3 mil”, conta.
Por enquanto, os projetos que começaram a ser concebidos em 2013,estão somente na garagem do inventor italiano. Mas, a ideia pode seguir adiante e ser uma realidade nas ruas, afinal, é barata, silenciosa e ecologicamente correta. “Calculo que R$ 0,60 é o valor gasto para carregar todas as baterias. Mas mesmo que eu esteja errado, que seja R$ 1, R$ 2, ainda assim o preço é baixo comparado a gasolina ou etanol. Se produzido em série, acredito que este tipo de veículo iria custar uns R$ 5 mil, um valor barato.”
Em entrevista ao G1 o diretor de departamento de trânsito da Secretaria de Segurança, Francisco Antonio de Souza Fernandes, afirma que para poder circular pela cidade, o inventor precisa de uma autorização. "Já conversei formalmente com Seo Giuseppe, e disse a ele que iria colaborar com o projeto dele. Sem uma autorização o veículo não pode circular, principalmente na área central por causa do movimento. Assim que ele fizer um pedido, iremos consultar os órgãos que regulamentam as normas de trânsito para saber como agir nesse caso", explica.
Inspiração desde berço
O aposentado é natural da cidade de Ala, província de Trento, norte da Itália, perto da fronteira com a Áustria. Ala em português significa asa, e asas foram outras criações do aposentado: saiu da cidade de mais de 3 mil habitantes para rodar o mundo. Já trabalhou em 21 países entre eles Alemanha, França, Argentina, Egito, Turquia, Iraque e Brasil.
'Seo' Giuseppe começou trabalhando no meio da panificação em sua cidade, ainda na década de 60. Após alguns anos, sentiu que havia esgotado as possibilidades no ramo, trabalhava em duas padarias e mantinha uma vida estável. Mas a vontade de desafios aliada a curiosidade fizeram com que o inventor apostasse em uma jogada arriscada: começou a trabalhar como mecânico de máquinas de produção panificadora, recebendo um terço do antigo salário.
Após anos de experiência começou a desenhar e montar máquinas para várias empresas europeias. Entre seus feitos foi criar a primeira máquina de produzir pão pré-cozido, usado por exemplo em redes de fast food, da Itália. Com o passar do tempo tornou-se consultor no ramo da automação industrial, criando soluções práticas para problemas de produção de alimentos, apenas no ramo da panificação, em indústrias e empresas multinacionais.
Mesmo com tantas conquistas no currículo, o inventor italiano não possui formação acadêmica em universidades. Ele afirma que o conhecimento que ele obteve veio da vontade de superar os horizontes. “Em muitas empresas, hoje em dia, quando me veem eles me perguntam: ‘qual sua formação?’. Eu respondo que minha experiência é minha formação, e que se há dúvidas sobre minha capacidade pode me questionar sobre esse trabalho. Hoje, os profissionais progridem porque tem um papel, já antigamente é porque tinham vontade. Consulte na história se Leonardo Da Vinci precisou de diploma, não que eu queria me comparar a Da Vinci, mas é um exemplo da importância que o diploma tem na sociedade atual”, reflete.
Veículo percorre 60 km com uma recarga de cinco horas na tomada (Foto: Caio Silveira/ G1)
Vida no Brasil
'Seo' Giuseppe veio trabalhar no Brasil a convite de um empresário dono de uma indústria alimentícia de Tatuí, em 2003. Com problemas na produção de um alimento, o empresário procurou o consultor para uma solução. Depois de terminar o trabalho, o aposentado decidiu passar algum tempo na cidade. Desde então, 11 anos se passaram, e ele não conseguiu sair mais. "Os anos foram passando e eu gostando cada vez mais da cidade e do país. É um povo acolhedor, latino assim como o povo do meu país natal. O Brasil tem seus problemas, mas é um lugar muito bom", diz.
Misturando as línguas italiana, espanhola e portuguesa para se comunicar, o aposentado diz estar contente com a vida no país e não tem planos para se mudar. "Aqui faz calor, o clima é quente. Eu não suporto mais o frio do inverno europeu, aqui estou mais confortável. Além disso eu consigo andar nas ruas e conversar com as pessoas, elas entendem o que eu falo. Não devo sair daqui em pouco tempo."
Quadriciclo é formado por partes de bicicleta e o motor é composto por baterias (Foto: Caio Silveira/ G1)