ODIMAR MARTINS
Ela recitava o meu poema.
E como dois narcisos:
Eu amava o que tinha escrito,
e ela, o que dela, eu tinha dito.
Eu empregava na poesia a lua,
só pela rima que a lua tinha,
e ela se imaginava iluminada
pela luz, que daquela lua vinha.
Ela, ingênua como um sorriso,
duas almas num mesmo traço.
Eu, preso em versos precisos,
Ela, solta pela distância dos braços...
Versificada num jardim de estrelas,
ela é flor desenhada no céu,
e nas letras livres do poema,
ela escapa do buquê feito de papel.
As palavras são: a ventania e a calma,
que ontem, levaram o outro hoje,
espalhando a voz de quem fala
e secando os olhos de quem ouve.
As mãos trêmulas apertam a folha.
E o papel é rosa que não existe.
Ainda, que a mão do velho poeta,
cravejada de espinhos, fique...