Guerra e paz: Vera Holtz, Camila Morgado e Antônio Petrin - Foto: Guga Melgar/Divulgação
Miguel Arcanjo Prado
R7 Entretenimento - Dirigido por José Wilker, o espetáculo Palácio do Fim, em cartaz no Sesc Consolação, é daquele tipo de peça arrasa-quarteirão que chega para abocanhar a maior quantidade de prêmios que for possível.
O texto, da canadense Judith Thompson, é contemporâneo. Fala do clima de terror que invadiu o mundo ocidental após os ataques do 11 de setembro de 2001 em Nova York.
O espetáculo costura três monólogos defendidos com garra por Antônio Petrin, Camila Morgado e Vera Holtz.
Petrin vive o atormentado cientista britânico David Kelly, que denunciou as atrocidades cometidas por ocidentais durante a ocupação do Iraque e cuja morte ainda não se sabe se foi um suicídio ou um assassinato.
Morgado interpreta a jovem soldado norte-americana Lynndye England, acusada de humilhar os prisioneiros na base de Guantánamo, em Cuba. A atriz defende com unhas e dentes sua personagem, que tenta a cada instante justificar o injustificável. Ela consegue risos nervosos da plateia diante de sua argumentação.
Mas é Vera Holtz quem hipnotiza em uma interpretação madura e emocionante da mãe iraquiana Nehrjas Al Saffarh. A atriz está em um de seus melhores momentos no palco e deve ser coroada com os prêmios de melhor atriz existentes. Vera pega o público primeiro pelo humor, depois pela compaixão, numa superdose de humanidade.
O diretor Wilker costura os atos de forma envolvente. Generoso, dividiu com amigos competentes a tarefa de transpor para o Brasil aquela peça que o encantou em um pequeno teatro nova-iorquino.
Vestidos pela aguerrida pesquisadora Beth Filipecki, os personagens se movem o tempo todo no cenário criado por Marcos Flaksman, sob a luz inventiva de Maneco Quinderé.
O espetáculo ensina, choca, revolta e, sobretudo, traz à tona um tema com o qual a sociedade atual precisa conviver diariamente, nem que seja nos noticiários da TV: a rivalidade ocidente e oriente, cristianismo e islamismo, que só produz um saldo gigantescos de mortes. Múltiplo, o texto dá voz (e cara) a cada lado da história, gerando, no palco, um explosivo triângulo humano.
Com Palácio do Fim, José Wilker dá um soco na boca do estômago da plateia e mostra o grande diretor e, sobretudo, artista que é.