A Defesa Civil e a Prefeitura de Tatuí discutem a implantação do projeto “Corta Rios”, que deverá amenizar os alagamentos no distrito de Americana. A ideia é construir um “ladrão” de água em até sete metros antes do encontro dos rios Sorocaba e Tatuí.
O projeto técnico, apresentado pelo coordenador adjunto da Defesa Civil, João Batista Alves Floriano, prevê que o Corta Rios deverá ficar um metro acima do nível do rio Tatuí, com o intuito de evitar a mudança em seu caminho natural. De acordo com o coordenador, esse é um dos principais pontos que ajudarão o projeto a ser aprovado pelos órgãos de proteção ao meio ambiente. “Só vai funcionar quando as águas do rio estiverem acima do nível normal, pois não podemos mudar o curso do Tatuí”, explicou.
Anteriormente, afirmou Floriano, o projeto era elaborado até junho de 2010, quando faleceu Zacharias Nunes Rolim, então secretário municipal da Agricultura. No entanto, o coordenador da Defesa Civil confirmou, na segunda-feira, 24, a retomada do “Corta Rios”.
Porém, o secretário municipal do Meio Ambiente, Paulo Sérgio Medeiros Borges, pede que a população não pense que o projeto salvará os moradores dos problemas causados pelas inundações. “O que não podemos é criar uma expectativa na população de que isso resolverá a situação, porque não acontecerá. Vamos analisar o projeto, pois o ‘ladrão’, mesmo que libere parte do problema, já é benéfico para a população”, disse Borges.
Ele informa que dificilmente existirá uma solução definitiva para o assunto e que o projeto ainda “não passa de uma ideia”. “É um projeto controverso e não há consenso das pessoas sobre essa questão. O rio Sorocaba é muito maior que o Tatuí e a pressão da água é muito maior”, argumentou. “Pessoalmente, mesmo com a construção de 500 ladrões, não sei se haverá a resposta esperada. Choveu muito forte nestes últimos tempos, até o pessoal do distrito surpreendeu-se com o volume de água”.
As inundações no distrito de Americana são causadas devido ao encontro das águas do rio Tatuí e Sorocaba, próximo ao local. Quando a chuva é muito forte, aumentam o volume e a intensidade da correnteza do Sorocaba. O afluente Tatuí, por sua vez, deságua no sentido contrário do Sorocaba e fica “impedido” de prosseguir, fazendo com que toda água retorne, inundando o bairro.
No entanto, Floriano acredita na ideia do “Corta Rios”, uma vez que as águas sobressalentes cairiam no fluxo correto das águas do Sorocaba. “O rio Tatuí faz um ‘cotovelo’ e desemboca na direção contrária do Sorocaba, ocasionando o refluxo. Nossa ideia é fazer uma abertura de mais de três metros de comprimento para ter uma vazão quando o nível aumentar devido à chuva”.
Um ponto comum entre o secretário do Meio Ambiente e o coordenador da Defesa Civil é a aprovação do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo, que deverá verificar se a obra não mudará o curso normal do rio Tatuí. Sem a autorização do órgão estadual, o “Corta Rios” não será realizado. “Ao concluirmos o projeto, precisamos enviar ao DAEE para a aprovação das questões ambientais. Por se tratar de uma intervenção, necessitamos mostrar estudos hidrológicos e que também não mudaremos o rio”. Além do DAEE, o projeto deverá ter aprovação do Departamento de Proteção dos Recursos Naturais e, possivelmente, da Sabesp, informou Floriano.
O coordenador da Defesa Civil está tranqüilo em relação a estas necessidades. Ele confirma que, apesar de ainda não passar pelo processo de autorização, não terá problemas para a aprovação da obra. “Não vamos mexer no rio, apenas construir um ‘ladrão’ para a água decorrente da chuva sair e não causar grandes inundações”.
Prevendo as dificuldades com as questões burocráticas e ambientais, que possivelmente atrasariam a obra, Floriano afirmou que o projeto técnico do “Corta Rio” deverá ser realizado em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente de Tatuí.
A passagem terá uma abertura com cerca de três metros e um comprimento de cem metros. Segundo Borges, a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura deverá participar do projeto com as máquinas e mão-de-obra necessárias para a construção do “ladrão”. Para o secretário do Meio Ambiente, não há um custo porque o projeto ainda não foi elaborado.
O tempo da obra também ainda não pode ser medido, mas o coordenador da Defesa Civil espera que seja construída o mais rápido possível. “Pretendemos acabar com as consultas até o final de março. Queremos fazer a sondagem do terreno em abril e, no mais tardar, começar realmente as construções em junho, no período de estiagem. Mas isso desde que estejamos com o projeto já aprovado pelos órgãos ambientais”.
Os problemas no distrito de Americana são recorrentes a cada ano. Sempre na época “das águas”, os moradores precisam deixar suas casas devido ao risco de inundação. Em 2011, cerca de 20 famílias estão desalojadas. Desde o dia 10 de janeiro, a Defesa Civil está em alerta com o local. Após forte chuva naquele dia, o secretário do Trabalho e Desenvolvimento Social, Luiz Antonio Voss Campos, afirmou que moradores já haviam saído das residências.
No dia 23 de janeiro, com a diminuição da intensidade das chuvas, a Defesa Civil mostrou-se aliviada, pois o nível do rio Sorocaba e Tatuí estava abaixando rapidamente, quase chegando ao nível normal.
Nesta semana, a Defesa Civil informou que o Sorocaba atingiu 2,8 metros acima do leito, próximo ao considerado como sem risco à população. Com o término das enchentes, a DC deverá liberar as casas após a limpeza das residências.
Segundo Floriano, em 2007, o refluxo das águas do Tatuí causou a pior inundação dos últimos oito anos no local. Apenas nos nove primeiros dias de janeiro, de acordo com a Estação Experimental, as chuvas somaram 240 milímetros, 40 milímetros a mais do que o normal para o período. O rio Tatuí registrou uma vazão de 78 metros cúbicos, enquanto o normal é de sete. No total, 26 famílias tiveram que sair de suas casas e ficaram alojadas com parentes. “As águas dos rios chegaram até o meio do bairro”, relembrou.
Texto do jornal O Progresso de Tatuí de 26.01.2011. Imagem: Defesa Civil de Tatuí