Mantido na Secretaria de Estado da Cultura, Andrea Matarazzo arrisca uma gestão de feições próprias e diz que o Teatro da Dança, principal vitrine da gestão anterior, ainda precisa passar pelo crivo do governador
05 de janeiro de 2011 | 0h 00
Maria Eugênia de Menezes - O Estado de S.Paulo
Ao assumir a Secretaria de Estado da Cultura, em maio de 2010, Andrea Matarazzo vinha com a expectativa de permanecer no posto por pouco mais de sete meses. Sua ambição à época - ao menos a declarada - era fazer uma gestão de continuidade, que levasse adiante os projetos de seu antecessor, João Sayad, hoje à frente da TV Cultura.
Leonardo Soares/AE
Confirmado no cargo pelo governador Geraldo Alckmin, Matarazzo prepara-se, desta feita, para traçar uma política de feições próprias. "É continuidade, sim, mas com um salto", gosta de ressaltar o empresário e ex-ministro, que transita com desenvoltura nas administrações públicas, mas pouca experiência tinha na área cultural.
Em entrevista ao Estado, o secretário falou sobre suas novas propostas. Ressaltou a importância da criação de um sistema estadual de música - que integre as atividades de ensino musical e as orquestras. Advogou uma mudança de rumos para o MIS (Museu da Imagem e do Som). "O museu precisa atrair mais público." E mostrou-se cauteloso na hora de falar sobre o futuro do Complexo Cultural Luz - também conhecido como Teatro da Dança. Maior e mais ambiciosa promessa de seu antecessor, a obra com assinatura dos suíços Herzog & de Meuron parece estar com o destino em suspenso. Orçada em R$ 600 milhões, a proposta ainda precisaria passar pelo crivo da nova administração. "Até pela envergadura do investimento, o projeto precisa agora ser rediscutido. Essa é uma definição a ser tomada pelo governador."
Ajustes à parte, é vultosa a agenda de obras que Matarazzo herdou da gestão anterior. Além da recente abertura da sede da SP Escola de Teatro, na Praça Roosevelt, a pasta deve entregar, nos próximos meses, um novo prédio para o MAC (Museu de Arte Contemporânea) no Ibirapuera, dez Fábricas de Cultura na periferia da capital e o novo Museu da História de São Paulo.
Se as atitudes polêmicas no controle da Subprefeitura da Sé e da Secretaria de Subprefeituras, colaram-lhe a pecha de "higienista", Matarazzo promete agora uma agenda de contornos nitidamente populares. "A cultura da elite está muito bem assistida. O que nós temos que fazer é levar essa mesma qualidade e essa mesma diversidade para todas as camadas da população."
Há sete meses, o senhor assumia a Secretaria da Cultura falando em continuidade, em dar sequência aos projetos lançados pelo secretário João Sayad. Agora, a perspectiva é outra, é a de ficar por quatro anos. A sua postura hoje mudou? Quais são os seus planos?
Ouvi muitos artistas nesse período. É fundamental estar antenado com o que os atores da área cultural têm a dizer e a mostrar. E, certamente, uma das nossas diretrizes será a pulverização da cultura, ajudando os municípios a implantar infraestrutura para receber atividades consistentes e a capacitar agentes culturais. A cultura de elite está bem servida pelo setor privado, com grandes investimentos e atrações de porte. O que o Estado tem que fazer é estimular isso, mas conseguir fazer a mesma coisa para aqueles que não têm acesso. A agenda cultural de São Paulo é imensa, mas muito concentrada. Tenho dois focos importantes: interiorizar a cultura e universalizar a cultura de qualidade, levando-a para quem não tem acesso.
O Complexo Cultural Luz - Teatro da Dança - é um dos maiores projetos da gestão anterior. Qual é a sua situação hoje? O senhor pretende levá-lo adiante?
Até pela envergadura do investimento, o projeto precisa agora ser discutido com o governador. É preciso ver qual é a prioridade do momento.
Mas qual é a sua visão do projeto? O senhor acredita que ele é importante? E qual seria a sua principal função: oferecer novas salas de espetáculo para a cidade? Ou criar uma obra de grande impacto urbanístico?
O impacto do Complexo extrapola o espectro da cultura e pode ser determinante para a região. É um terreno de 20 mil m², com um projeto arquitetônico inovador. A área está sendo reurbanizada e a proposta está muito sintonizada com o projeto Nova Luz da prefeitura. Esse aqui será, em breve, um dos melhores bairros de São Paulo.
Então o projeto será feito?
O timing do projeto será definido de acordo com a prioridade de recursos do Estado. É por isso mesmo que ele foi pensado em módulos. Ele poderia ser feito em três fases, não precisaria se fazer o complexo todo de uma vez.
São Paulo ganhou recentemente museus de grande visibilidade, como o Museu do Futebol. Quais são seus planos para essa área?
Os museus são hoje um grande ativo que o nosso Estado tem. A Pinacoteca, o Museu do Futebol e o Catavento recebem hoje um público consistente. Mas alguns museu precisam ser modernizados. É o caso do Museu de Arte Sacra, que tem um acervo extraordinário, e do Memorial do Imigrante, que está passando por uma reforma. Vamos criar o Museu da História de São Paulo, que vai ser instalado na Casa das Caldeiras com um perfil mais interativo. Agora, o MIS precisa melhorar o seu conteúdo. E existe também o sonho de se fazer o Museu da Televisão, que poderia conviver no mesmo espaço do MIS.
Mas o MIS não seria um museu um pouco mais de vanguarda, voltado justamente às novas mídias, e um museu voltado à televisão não seria algo um pouco mais convencional? O senhor acha que o MIS precisaria rever o seu perfil?
Não está certo que o Museu da Televisão vá para lá. Existem outros lugares. E o MIS deve continuar na vanguarda, mirando as novas mídias, mas precisa ser um pouco mais acessível às pessoas. O museu hoje recebe cerca de 50 mil visitantes por ano. É muito pouco. Nós temos que ofertar mais. Como museu das novas mídias, ele também precisa ser mais interativo e trabalhar à distância.
A previsão é abrir o MAC nesse primeiro semestre? Quais são os planos?
O prédio está praticamente pronto, precisa apenas de alguns ajustes. Mas é necessário que ele funcione ao menos dois meses vazio para testar ar condicionado, umidade. Uma fase de observação antes que as obras de arte sejam instaladas.
O museu, que é da USP, deve crescer bastante e certamente precisará de mais recursos. A secretaria pretende ajudar?
Vamos ajudar, sim. Sem dúvida. O que nós pudermos apoiar, iremos apoiar. Temos trabalhado junto com a USP na viabilização do MAC, que é um museu extraordinariamente importante para a cultura brasileira, certamente o maior acervo de arte moderna da América Latina.
A educação musical foi um dos focos da gestão passada. O que será feito?
Nós integramos as ações naquilo que estamos chamando de sistema paulista de música. É uma sequência de atividades, que permitem, por exemplo, que uma criança que entre no Projeto Guri possa - se tiver talento - vislumbrar um roteiro. Esse sistema ofereceria a ela a chance de continuidade, de se formar no Conservatório de Tatuí ou até de chegar às nossas orquestras. Antes essas instituições não conversavam.
O senhor é um dos quadros mais importantes do PSDB. Podemos esperar que cumpra quatro anos à frente da Secretaria? O senhor tem planos de concorrer à prefeitura?
Na vida pública, você faz as coisas porque tem que fazer. Ficar planejando nunca dá certo. Nesse momento, até pela quantidade de trabalho que tenho aqui, não tenho planos de concorrer.