Realizado pelo segundo ano consecutivo, o Torneio Estadual Cururu Vivo, a ser realizado nos dias 7, 14 e 21 de novembro, no Conservatório, é a ação denominada “Raiz e Tradição”, que integra o Festival de MPB que envolve, ainda, outros dois eventos: Certame da Canção e Painel Instrumental. Focado na valorização da cultura tradicional, o evento tem coordenação de Jaime Pinheiro e, a cada domingo, contará com shows de convidados especiais além dos “duelos” entre cururueiros do Estado de São Paulo.
Serão duas etapas eliminatórias – que acontecem nos dias 7 e 14 de novembro – e uma etapa final, agendada para 21 de novembro. Todos os eventos serão realizados na Concha Acústica “Spartaco Rossi”, com entrada franca a partir das 16h.
As oito duplas selecionadas para participar do Torneio de Cururu serão divulgadas na próxima semana – uma vez que as inscrições se encerraram na quinta-feira, 21. Cada município pode inscrever uma única dupla representante.
Nas semifinais, as oito duplas selecionadas, divididas em quatro por cada dia, terão 28 minutos cada uma para se apresentar. Cada cururueiro terá sete minutos para desenvolver cada uma das duas “carreiras” (versos). Na final, o tempo total cronometrado será de 42 minutos para cada dupla, totalizando quatro duplas, sobre tema e carreira a serem sorteados em público. Cada cururueiro terá sete minutos para desenvolver cada uma das três carreiras.
As duas melhores duplas de cada eliminatória serão indicadas para concorrer à final, sendo que a comissão de jurados irá avaliar itens como abertura (Baixão), interpretação, afinação, ritmo/entrosamento com o violeiro e presteza na resposta e na sequência do tema sorteado. O respeito ao tempo delimitado bem como ao rival também serão avaliados. “Queremos que haja uma confraternização, uma festa, e, assim, respeitador o desafiante será fundamental”, disse o coordenador.
As quatro duplas finalistas receberão troféus e premiação em dinheiro, sendo respectivamente, R$ 1.000, R$ 800, R$ 600 e R$ 400, do primeiro ao quarto lugar. Com o objetivo de premiar um destaque individual e fazer uma homenagem a um cururueiro de Tatuí, a Comissão Organizadora instituiu em 2010, em forma de troféu, o Prêmio Noel Mathias. No último ano, o homenageado foi Horácio Neto.
No ano passado, o torneio foi vencido pela dupla João de Lima e Belão, da cidade de Agudos.
A iniciativa pretende proteger e difundir as manifestações da tradição, da memória e da diversidade cultural do interior paulista, em caráter competitivo. O torneio quer estimular a difusão do Cururu do Estado de São Paulo, visando à integração, intercâmbio e congraçamento entre os cururueiros, multiplicação do conhecimento, divulgação da cultura popular de raiz do Estado de São Paulo e do gênero como forma legítima de expressão da raiz da música brasileira, a ser preservada em nome das legítimas e ricas manifestações populares.
Palestra
A fim de difundir o gênero musical, o jornalista e pesquisador Sérgio Santarosa fará uma palestra dinâmica no Museu Histórico Paulo Setúbal no dia 20 de novembro (sábado), a partir das 10h da manhã. Nela, com o apoio de um cantador, ele deverá explicar o que é e como funciona o cururu, num bate-papo descontraído com os presentes. O Museu Histórico acaba de ser reinaugurado pela Prefeitura de Tatuí por meio da Secretaria Municipal de Cultura, e estará aberto para visitação. Qualquer interessado pode comparecer à palestra, que é totalmente gratuita.
Sérgio Santa Rosa é jornalista e mestre em Comunicação Midiática pela Unesp. Lançou em 2007 o livro "Prosa de Cantador: a história e as histórias dos cururueiros paulistas", desenvolvido através do Programa de Ação Cultural da Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo. Produziu em 2009, o CD "Cururu: tradição e poesia caipira" que registrou a arte dos irmãos cantadores Horácio e Jonata Neto. O projeto, também desenvolvido através do Programa de Ação Cultural da Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo, foi a última gravação do cantador Horácio Neto, "o Peito de Aço".
É membro da Comissão Organizadora do Festival Botucanto, realizado pela Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo, e atua como assessor de imprensa da Unesp em Botucatu.
Shows
Além do duelo entre os cururueiros, o Torneio Estadual Cururu Vivo contará com shows de convidados especiais.
Os shows acontecerão nos três domingos do evento, sempre após os duelos dos cururueiros. No dia 7, o show será de Índio Cachoeira e Cuitelinho, com participação do grupo Os Favoritos da Catira. No dia 14, faz show especial a Orquestra de Viola Caipira de Votorantim. No dia 21, após a grande final e antes da premiação das melhores duplas, o show será do cantor Tinoco e Convidados.
O show de Tinoco é um dos mais esperados do evento, contando com participação dos cururueiros finalistas em duas músicas. A apresentação acontece três dias após o aniversário de 90 anos do cantor que por 60 anos formou a dupla Tonico e Tinoco com seu irmão e é um dos mais importantes do universo da música tradicional. Durante 60 anos de carreira, a dupla realizou mais de 1.500 gravações, distribuídas em 220 LPs de 78 rotações, 30 CDs e 76 LPS de 33 rotações. Os discos venderam mais de 150 milhões de cópias e a dupla fez mais de 40 mil shows.
Participaram de sete longa metragens – entre eles “Luar do Sertão” e “Marvada Carne” -, durante 40 anos apresentaram-se em Circos Teatros e chegaram a criar uma companhia circense própria. Por 50 anos trabalharam em emissoras de rádio, participaram da primeira transmissão da TV brasileira e ganharam inúmeras premiações – como 4 Roquetes Pinto, a Medalha Anchieta (Comenda da Cidade de São Paulo), Troféu Imprensa e 2 Prêmios Sharp de Música.
Filhos do imigrante espanhol Salvador Perez, que chegou ao Brasil no início do século 20 e da brasileira (neta de escravos) Maria do Carmo, João Salvador Perez e José Perez, nasceram em uma fazenda de Botucatu (localidade que hoje pertence ao município de Pratânia). Lá, enquanto trabalhavam, duetavam suas vozes no meio dos cafezais.
A primeira música que aprenderam foi “Tristeza do Jeca”, em 1925. Em 15 de agosto de 1933 fizeram a primeira apresentação profissional. Em 1938 a família mudou-se para Sorocaba, e dois anos mais tarde, para São Paulo, onde João trabalhou como office boy e José como servente de pedreiro e metalúrgico.
Em 1942, os “Irmãos Perez” venceram um concurso de violeiros na Rádio Difusora de São Paulo. O apresentador achava que o nome não combinava com o estilo da dupla e resolveu batizá-los de Tonico e Tinoco, sendo contratados para participar da programação caipira da Rádio Difusora de São Paulo. São deles sucessos como “Moreninha Linda”, “Tristeza do Jeca”, “Menino da Porteira”, entre outros.
Tonico (João Salvador Perez) faleceu em 13 de agosto de 1994. Tinoco continuou atuando na vida artística, a partir do apoio dos fãs.