Conheça um pouco da tradição doceira da cidade, no interior de São Paulo. Tem suspiro, pão-de-ló, queijadinha (e muito mais)
Foto: Rita Grimm
Os suspiros, especialidade da Celina, em Tatuí: prontos para ir ao forno
Tatuí é uma cidadezinha de 110 mil habitantes, no interior do Estado de São Paulo. Fica a 60 quilômetros de Sorocaba e a 150 quilômetros da capital e tem pelo menos três apelidos: cidade ternura, capital da música e terra do doce.
Cidade ternura é uma referência ao hino em homenagem à cidade (“Tatuí, cidade ternura, terra querida onde vivemos, tens filhos de grandes méritos, é justo que os louvemos"). É a capital da música por sediar o Conservatório Dramático e Musical de Tatuí Dr. Carlos de Campos. Trata-se da maior escola de música da América Latina. O terceiro apelido, terra do doce, é o material de investigação do iG Comida. Em algumas reportagens a partir desta, vamos mergulhar no universo de escondidas fábricas familiares. São histórias de gente que está no ramo do doce desde os tempos dos avós.
Foi em um ambiente interiorano das décadas de 1950 e 1960 que os cidadãos de Tatuí se habituaram a encomendar, comprar e comer deliciosos doces caseiros feitos por senhoras quituteiras. Nessa época, as preocupações comerciais eram secundárias. As senhorinhas faziam tudo em suas próprias cozinhas, na maior simplicidade. Era um tempo de portões sempre abertos e de footing na pracinha (como na Lins da novela Estúpido Cupido, do escritor Mario Prata, que os mais velhos, com certeza, devem se lembrar).
A pioneira desses doces foi uma senhora chamada Belarmina de Oliveira Campos. Ela aproveitava os produtos da região (frutas da época e tubérculos) para fazer doces caseiros como os ABC (abóbora, batata-doce (roxa e branca) e cidra). Sua casa ficava na região central da cidade, na rua XV de novembro, e vivia cheia de gente atraída pelo açúcar. Enquanto Belarmina preparava tudo, a freguesia ficava pela cozinha “proseando”. Sua fábrica seria vendida para uma família local, dando origem à tradicional Doces Caseiros Avenida.
Foto: Rita Grimm
Bolos de festa das herdeiras da dona Lucha.
Olinda de Paula Martins era conhecida por vender a goiabada mais cremosa, a goiabada cascão, os figos cristalizados e em calda, os doces de coco e de laranja. Tinha freguesia fiel e na época de Natal sua casa era um festival de caixas de figos cristalizados destinados à capital.
Quando se tratava de grandes ocasiões, não podiam faltar os bolos e doces finos de Idalina Rocha Brandão, a dona Lucha, presentes em todas as festas, como nos aniversários da atriz tatuiense Vera Holtz, por exemplo. “O pão-de-ló recheado da dona Lucha era coberto com fondant. Fez parte da minha infância e da infância das minhas irmãs”, relembra Vera. Os doces da dona Lucha eram finos e delicados, inspiraram muita gente na cidade. Sua filha, Clara, absorveu os segredos da família e, por sua vez, já tratou de repassá-los para a filha Fernanda, mantendo assim a tradição de doces finos na cidade e em sua casa.
Os doces artesanais da Estrela D'Alva
Foto: Rita Grimm
Bombocado e queijadinha assados no forno da Estrela D'Alva: a cada dia da semana, um aroma diferente
Hoje, a empresa chamada Estrela D’Alva está com seus fornos aquecidos para o mercado. As grandes salas exalam aromas. Cada dia da semana é designado a preencher os tachos de cobre com algo diferente: às segundas, só frutas; às terças, beijinho, cajuzinho, casadinho e olho-de-sogra; às quartas, doces ABC; às quintas, doce de leite; sexta-feira é dia de fazer tudo com coco e cristalizados. Nos fornos, a semana se divide entre queijadinhas, quindins, bombocados, pudins e cocada assada. Tudo artesanal, supervisionado pela própria família.
Doces para sempre
Foto: Rita Grimm
Os suspiros da Celina, agora assados: cada doceira, uma especialidade
Serviço
Estrela D’Alva
Rua Stélio Machado Loureiro, 195
Tatuí – São Paulo
Tel: (15) 3251 5030
Clara e Fernada – Doces Finos
Rua Coronel Aureliano de Camargo, 921
Tatuí – São Paulo
Tel: (15) 3251 4459
Doces Celina
Rua Chiquinha Rodrigues, 382
Tatuí – SP
Tel: (15) 3251 1400