Na tarde desta sexta-feira, 3, a comoção marcou o velório da professora Maria Angélica Alves de Oliveira, que teve a morte confirmada pela Polícia Civil nesta semana. Os restos mortais da educadora, dada como desaparecida desde o dia 29 de julho, chegaram ao município por volta das 15h30. O translado de Piracicaba começou a ser feito pouco antes do meio-dia. Parentes, amigos, colegas de trabalho e alunos de Maria Angélica lotaram o anfiteatro da Etec (Escola Técnica) “Salles Gomes” para prestar a última homenagem. O corpo foi velado até as 16h30.
“Esta é uma situação muito complicada. Estamos todos surpresos e sem entender como algo assim pôde acontecer com uma pessoa tão próxima. Sempre vemos na televisão e nos jornais tragédias como esta acontecendo perto de grandes centros urbanos, mas é inexplicável e incompreensível ver algo assim acontecer tão perto e com tamanha violência”, declarou o diretor da “Salles Gomes”, Cármino Frutuozo. Conforme ele, Maria Angélica era uma pessoa “ímpar e uma profissional competente e dedicada, que sempre ajudava a resolver problemas e nunca os criava”.
Frutuozo fez questão de ceder o salão nobre da escola técnica para o velório, que atraiu ex-alunos da professora, como a estudante Rafaela Rosa, do terceiro ano do ensino médio. “Ela foi uma das melhores professoras que eu já tive. Em nossa formatura, ela tinha sido a escolhida como professora homenageada. Agora, em virtude disso, nossa homenagem vai permanecer”, disse. Edilma Xavier da Cruz, professora de educação física da “Salles Gomes”, onde Maria Angélica lecionava, disse que a colega era querida por todos. “Ela se dava bem com todo mundo. Como mãe, era excelente; como profissional, também”, falou.
O diácono Luiz Carlos Camargo ficou encarregado das exéquias. “O caso foi bastante difícil porque o corpo demorou para ser liberado. Nossa crença é de que a alma dela já se encontra no céu, por tudo o que ela fez aqui”. O caixão com os restos mortais da professora foi levado ao salão nobre por oito mulheres, envolto em uma faixa confeccionada por amigos e alunos - a mesma exibida no desfile cívico em comemoração aos 184 anos de Tatuí, no dia 11 de agosto.
Os restos mortais da professora foram liberados somente na sexta-feira, 36 dias depois do carro dela ter sido localizado num bairro rural de Piracicaba, incendiado. No automóvel, havia um cadáver que, mais tarde, foi identificado como sendo de uma mulher. Até então, a polícia não sabia se o corpo era ou não de Maria Angélica. Um exame da arcada dentária, solicitado pelo delegado piracicabano João Batista de Camargo, que cuida do caso, pôs fim à dúvida.
O velório em Tatuí durou aproximadamente uma hora. Às 16h30, os restos mortais foram transportados para Itapetininga, onde foram prestadas novas homenagens. O enterro aconteceu no município vizinho, após às 17h.
O CRIME
Maria Angélica desapareceu no dia 29 de julho. Na noite do mesmo dia, o veículo dela foi encontrado pegando fogo, num bairro de Piracicaba. Um sitiante, segundo informou o delegado responsável pelo caso, viu as chamas e ligou para a Guarda Civil Municipal. Camargo informou à reportagem que existem indícios de que a professora tenha dirigido até o local, rodeado por eucaliptos e cana-de-açúcar. “Ainda não sabemos se ela dirigiu espontaneamente, ou se foi obrigada. O que sabemos é que ela estava no volante, porque, segundo a perícia, o banco do motorista estava puxado mais à frente”, afirmou Camargo.
O dono do sítio chamou a polícia porque ficou preocupado quando viu o foco das chamas. Ele pegou um trator para aproximar-se do incêndio e tentar apagá-lo. Como não conseguiu, chamou ajuda. O veículo da professora estava a 30 quilômetros do centro de Piracicaba.
O carro foi encontrado no município de Saltinho, mas o crime está sendo investigado pela DIG (Delegacia de Investigações Gerais), de Piracicaba, com apoio dos delegados José Alexandre Garcia Andreucci, titular de Tatuí, e Emanuel Françani, assistente da Delegacia Central.
Após a remoção, os restos mortais da professora seguiram para o IML (Instituto Médico Legal) de Piracicaba. O veículo, que ficou totalmente queimado, também passou por perícia. O fato de os objetos estarem no Celta e queimarem junto com o veículo indica, para a polícia, que não houve latrocínio (roubo seguido de morte), uma das muitas possibilidades que haviam sido cogitadas no início das investigações.
A PC também já dá como descartadas outras duas hipóteses: a de “saidinha de banco” (roubo a clientes que deixam as agências bancárias com dinheiro) e de roubo de veículo, uma vez que o carro da vítima foi abandonado para ser queimado – fato interpretado como destruição de prova – e não levado para ser desmanchado e ter peças vendidas, como ocorre nos casos de roubo.
Até o momento, as investigações revelaram que Maria Angélica não teria feito movimentações bancárias no dia de seu desaparecimento. Existe ainda o fato de o corpo ter sido encontrado no banco do motorista e não do passageiro, um indicativo, conforme Andreucci, de que a vítima conhecia o autor do crime.
Transcrito do jornal O Progresso de Tatuí, edição 5.452, de 05.09.2010