POR HENRIQUE AUTRAN DOURADO
SER TATUIANO É AMAR MÚSICA, TEATRO E LUTERIA, É SER CIDADÃO DA CAPITAL DA MÚSICA. É TOCAR TROMPETE DEBAIXO DA JANELA DO DIRETOR, É CARREGAR A TUBA NA BICICLETA, CONTRAMÃO DA SÃO BENTO. É DIZER BOM-DIA ATÉ PARA POSTE, ABRIR A PORTA PARA AS SENHORAS E IDOSOS, É ENROLAR O “R” COM ORGULHO, É RIMAR ARRAIÁ COM CASÁ, CONVERSAR COM DESCONHECIDO, É CORNETAR. SER TATUIANO É FREQUENTAR O CONSERVATÓRIO, DIZER DE BOCA CHEIA QUE É O MAIOR DA AMÉRICA LATINA, E QUE SEU FIO, SEU VÉIO E SUA PATROA LÁ ESTUDARAM. É SABER DIFERENCIAR UMA VIOLA DE ARAME DE UMA VIOLA SINFÔNICA. ENFIM, É TER MÚSICA NO SANGUE, PODEROSO ANTÍGENO CONTRA VÍRUS DE TODOS OS TIPOS, DOS ESPANHÓIS AOS DO MAU HUMOR.
SER TATUIANO É VIR DE MALA E CUIA DE SÃO PAULO, MINAS, CUIABÁ, PERU, PARAGUAI, ITAPETININGA E ADJACÊNCIAS, É SUJAR A BOTINA DE ELÁSTICO DE BARRO VERMEIO, É PITAR CIGARRO DE PÁIA, UNS BONS MINUTOS PARA BEM PREPARÁ-LO. É GOSTAR DA PINGA DOS RAMOS, DO PÃO-DE-QUEIJO DO CAFÉ CANÇÃO, DO RELÓGIO DA SÃO MARTINHO, DO PESQUEIRO DO DOC, DO ABUD DO COLINA, DO BAR DA LENA, DO DOG DO GORDO, DO PAULINHO, DO CAIPIRINHA E DO CAIPIRÃO DO ARNALDO, DO ENORME SHOPPING CENTER LIVRE DA XI, É FICAR VENDO A ESTÁTUA DO DEL FIOL “TOCAR” NA PRAÇA DA MATRIZ, É TROMBAR COM VEREADOR NO SUPERMERCADO, COM O GUARDA CIVIL NA BANCA DE JORNAIS, COM O DELEGADO NO CONCERTO.
E A TATUIANA? SER TATUIANA É USAR SALTO ALTO, CALÇA PRETA E APEAR DA HONDA BIZZ, TIRAR O CAPACETE COR-DE-ROSA DESARRUMANDO OS CABELOS, É SER EDUCADA, É SER DONA DE CASA, PROFESSORA DO “BARÃO”, DO ANGLO OU DO OBJETIVO, É SER ALUNA DA ETEC OU DA FATEC, É CHORAR DE ALEGRIA, É SORRIR DE NOSTALGIA, COMO DIZIA NOEL, É USAR CALÇA JEANS COM BROCADO DE PRATA NOS BOLSOS DE TRÁS, É PRANCHAR O CABELO OU FAZER ESCOVA SEMPRE QUE POSSÍVEL, É FAZER SOCIAL NO CONSERVATÓRIO, É DANÇAR BOLERO AO SOM DA BIG-BAND NO CORETO, É APLAUDIR O JAZZ COMBO, O CORO, OS GRUPOS DE CHORO E DE PERCUSSÃO E ACHAR TUDO FASHION. SER TATUIANA É A COISA MAIS LINDA, MAIS CHEIA DE GRAÇA, MENINA QUE VEM E QUE PASSA, MAIS QUE UM POEMA NUM DOCE BALANÇO A CAMINHO DO LAR. SER MARIA SEM EIRA NEM BEIRA, MARIA SOMENTE, MARIA SEMENTE DE SAMBA E DE DOR, É SER MARIA JOSÉ OU CRISTINA SIQUEIRA.
SER TATUIANO É MADRUGAR NO BANCO DA PRAÇA DA MATRIZ E CONTAR DO SORDADO MARVADO QUE MANDÔ PÓRVA NO BANDIDO, É LER “ASSOMBRAÇÕES CAIPIRAS” E ACREDITAR NELAS, É SER TEEN E IR NO UANÁ, NO CLUBE XI, JOGAR NO REALMATISMO, É FAZER FESTA NO REPÚBLICA, COMER PASTEL NO TAMBELLI, DIVIDIR POR QUATRO UMA PARMEGGIANA NO DOCA’S, É FAZER RABADA, LEITÃO À PURURUCA OU ASSAR LINGUIÇA NA CALÇADA, É PROSEAR COM O CUMPADI NA SOLEIRA DA PORTA, É CONTAR DO PEIXÃO QUE (NÃO) FISGOU NO PANTANAL, E, ÓBVIO, EVIDENTE, ENCHER A BOCA PARA FALAR DO SUCESSO DA LYRA EM SERRA NEGRA OU EM BAYREUTH, NA ALEMANHA.
ENFIM, SER TATUIANO É SÓ VER TELEJORNAL DA REGIÃO NA TV TEM OU NO SBT, É SABER, COMO DIZIA O GIL, QUE “A BOMBA EXPLODE LÁ FORA, AQUI O QUE VOU TEMER...”, É GOSTAR DA MÚSICA DE RAIZ, DE SERESTA E DA SINFÔNICA – QUE SÃO DUAS, BANDA E ORQUESTRA! -, É TER ORGULHO DA ÁGUA PURA DA SABESP, DO DESEMPREGO QUE CAIU. É SABER (SARAVÁ, VINICIUS) QUE OS NAMORADOS CAMINHAM DE MÃOS ENTRELAÇADAS, E QUE OS MARIDOS FUNCIONAM REGULARMENTE, PORQUE HOJE É SÁBADO. PARABÉNS, TATUÍ!
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL O PROGRESSO DE TATUÍ, AGOSTO DE 2009.