Escola de música forma e insere chorões no mercado de trabalho; 75% dos que atuam são ou foram aluno
“Uma nova geração de músicos vem ganhando espaço no cenário musical de Bauru. São flautistas, violonistas, cavaquinistas, bandolinistas, percussionistas, trombonistas e muitos outros tocando um dos gêneros mais ricos e importantes da música brasileira: o choro. A eles, unem-se os chorões da velha guarda, que voltam à ativa após anos de esquecimento. Nos shows pela cidade, comparece um público vasto e diverso, mistura de leigos, curiosos e amantes do choro, numa faixa etária que abrange jovens e idosos. Pode-se prestigiar apresentações semanais em bares, festas, reuniões, eventos e até na roda de choro, ponto de encontro informal dos chorões e do público. Os jornais, rádios e redes de televisão locais publicam e veiculam matérias e entrevistas sobre os grupos e apresentações.”
A descrição é, sim, de um fato real. O movimento efervescente do choro na cidade de Bauru foi observado pelo setecordista e jornalista Guilherme Girardi Soares a partir de 2007. E chamou tanto a atenção do instrumentista menos por ele ser músico e mais pelo fato do choro estar estagnado na cidade há bons 20 anos. Disposto a registrar o movimento – e, também, concluir seu curso em jornalismo -, Soares pesquisou e descobriu a fonte do choro: o Conservatório de Tatuí.
Denominado “Bauru redescobre o choro”, o registro fotográfico tornou-se pesquisa acadêmica apresentada como conclusão de curso na Unesp (Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho), sob orientação do professor-doutor Marcelo Fabio Negrão.
Segundo Soares, 26, o tema da pesquisa foi escolhido pela natural proximidade com a música. “Estudo música desde os 11 anos e ingressei na faculdade de comunicação aos 18. Nessa época, não convivia com ninguém que tocasse profissionalmente e que mostrasse a música como meio de vida”, iniciou ele. “Depois, quando já estudava, comecei a trabalhar como assessor de imprensa numa escola de música, o que me aproximou mais do tema.”
Foi o ingresso nos cursos de guitarra e violão sete cordas do Conservatório de Tatuí que fez com ele, definitivamente, tomasse decisões. A primeira foi escolher um único curso – “afinal, é impossível dedicar-se a dois cursos diferentes”, diz ele. Em seguida, descobriu-se apaixonado pelo choro e, até, pensou em abandonar a faculdade. “Evidentemente que fui pressionado porque existe, infelizmente, uma visão incorreta sobre os músicos... mas vivenciando e participando desse movimento, foi simples juntar o curso de jornalismo à profissão de músico. Isso tornou a pesquisa de campo muito mais simples do que seria para um observador distante”, comenta.
A partir de 2007, com o ingresso de jovens de Bauru no Conservatório de Tatuí, as apresentações, antes extintas, passaram a ressurgir. Quando um dos pontos que abria espaço para apresentações semanais da primeira música urbana do Brasil passou a ter maior retorno financeiro que a concorrência, foi o estopim para o cenário atual, no qual todas as semanas a cidade conta com, no mínimo, quatro pontos diferentes de apresentações de choro e samba. “Viram o retorno financeiro e outros bares começaram a pedir trabalhos de choro também. Bauru começou a redescobrir o movimento expressivo e eu senti a necessidade de registrá-lo”, disse ele.
A pesquisa traz registros fotográficos de diferentes apresentações e a observação de que, nesse movimento que reinsere músicos no mercado de trabalho e amplia as possibilidades de entretenimento, 75% é resultado direto do curso oferecido no Conservatório de Tatuí. “O percentual é de pessoas que já estudaram ou estudam no Conservatório de Tatuí. Somente os velhinhos da velha guarda é que não caíram na estatística – muito embora, em um caso, um deles passou a, depois, estudar bandolim também em Tatuí.”
Área
O crescimento do choro em Bauru foi seguido pelo crescimento do gênero no próprio Conservatório de Tatuí. Há dois anos, o curso ganhou uma área específica o que, para Guilherme Soares, é importante por razões que vão além da visibilidade do curso. “Pelo esclarecimento também. Sendo essa uma das áreas que, na minha opinião como aluno, melhor funcionam – pela metodologia coerente e experiência dos professores da área -, hoje eu posso falar que faço curso de choro. Quando entrei, não sabia que estava entrando no curso de choro, mas somente no curso de violão popular”, destacou.
Disposto a, evidentemente continuar sendo mais músico que jornalista, Soares aponta que a música é ponto de partida, como qualquer outra profissão. “Não tenho medo de trabalhar e viver de música. É uma luta, mas muitas profissões o são também. Temos de abrir novas portas. Hoje, em Bauru, é possível viver somente no mercado de choro. Mas há, ainda, outros trabalhos possíveis”, comentou.
O professor e coordenador da área de choro Alexandre Bauab Junior diz, na própria pesquisa de Soares: “ter três ou quatro apresentações de choro por semana é algo invejável mesmo para uma cidade do porte de Bauru... vejo isso com muito orgulho, como dever cumprido”.
Projeto Social
O Grupo de Choro do Conservatório de Tatuí foi o primeiro da instituição a organizar apresentações didáticas e sociais. O projeto “Choro nas Entidades”, realizado pelos integrantes do grupo durante o recesso escolar, percorre instituições locais pelo sexto ano. Nos dias 5, 6, 7, 12, 13 e 14 de julho, as apresentações acontecerão em dez entidades filantrópicas ou espaços dedicados a atividades sociais.
“Queremos difundir o gênero musical e oferecer uma opção de entretenimento em situações nas quais, muitas vezes, elas são raras. Ao final, no entanto, nós é que acabamos sendo presenteados com a vivência com crianças e adultos absolutamente fantásticos”, afirma o coordenador do grupo e idealizador do projeto Alexandre Bauab Junior.
Receberão o “Choro nas Entidades” as instituições Cosc – Santa Rita (dia 5, 14h30), Envelhecer com Qualidade de Vida (dia 6, 10h), Casa Irmãos de Rua São José (dia 6, 13h30), Apae Tatuí (dia 6, 15h), Betel Tatuí (dia 7, 15h), Lar São Vicente de Paulo (dia 12, 14h30), Avape Tatuí (dia 13, 10h30), Lar Donato Flores (dia 13, 11h30), Projeto Primeiro Passo (dia 13, 15h30) e Lar do Bom Velhinho (dia 14, 14h30).