Por Redação g1
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Modelo CT Super, da Flight Design, similar ao avião que caiu em Quadra — Foto: Divulgação/Flight Design |
'O avião ser experimental faz com que tenha menos rigor': especialista fala sobre queda de avião de pequeno porte em SP
15/02/2025 18h48 | A queda de um avião de pequeno porte deixou duas pessoas mortas em Quadra, município de vizinho de Tatuí, neste sábado (15). A aeronave era um modelo experimental e já tinha sofrido um acidente, sem vítimas, em 2019.
As vítimas foram identificadas como Nelson José Ponzoni, de 77 anos, e Vivien Neide Barbosa Bonafer Ponzoni, de 74. Eles eram casados, moravam em São Paulo e deixam três filhos.
De acordo com a Defesa Civil, a aeronave particular era do modelo CT-U e era experimental, ou seja, não foi feita por uma grande fabricante. O avião tinha decolado do Clube de Voo Aeroquadra (SIVQ) para realizar um voo pela região e pousar no mesmo local de partida.
Segundo a Agência Nacional de Aviação (Anac), o avião estava em situação normal de aeronavegabilidade.
Qual era o modelo do avião?
De acordo com boletim do Corpo de Bombeiros, a queda na manhã deste sábado foi de um modelo experimental de avião monomotor chamado CT-U, com ano de fabricação de 1999. A aeronave caiu em área rural, colidiu com o solo e incendiou na sequência, segundo o boletim.
De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a aeronave era de fabricação amadora, ou seja, um modelo que não foi feito por uma grande fabricante. Ela estava regularizada no nome de Nelson José Ponzoni e tinha autorização para realizar voos durante o dia.
Os modelos considerados experimentais têm restrição para voos sobre áreas muito povoadas. Normalmente utilizadas para lazer ou para experimentar novos conceitos
Segundo a Anac, Ponzoni comprou o ultraleve em 2018 e não havia permissão para realizar serviço de táxi aéreo.
Este tipo de modelo de família de aeronaves possui, geralmente, dois lugares (do piloto e do passageiro), tem asa alta (geralmente em cima da cabine), trem de pouso "triciclo" (uma roda na frente e duas nas laterais) e são ultraleves.
Para aliviar no peso, o material usado na fabricação é a fibra de carbono, de acordo com a empresa Flight Design, que criou o modelo CT em 1997. Como possui foco para turismo ou para aulas de aviação, as janelas são amplas.
No site da Flight Design, o modelo mais simples do CT, similar ao que caiu em Quadra, é vendido por cerca de R$ 553 mil.
Informações da aeronave que caiu
- Matrícula: PU-MSM;
- Modelo: CT-U;
- Ano de fabricação: 1999;
- Proprietário: Nelson José Ponzoni;
- Quantidade de motores: 1 motor;
- Peso máximo de decolagem: 458 quilos;
- Comprimento: 6,2 metros
- Altura: 2,1 metros
- Envergadura: 8,6 metros
- Velocidade máxima: 240 km/h
- Número de assentos: 2 (piloto e passageiro);
- Categoria de registro: PET - Construção amadora (quando não é feito por uma grande fabricante).
Tipo de licença e classificação da aeronave
O modelo que caiu é classificado pela Anac como uma aeronave leve esportiva, chamada de ALE. Ela pode ser construída a partir de um kit, por um amador ou por uma empresa. Este tipo de avião não pode realizar atividades remuneradas.
O piloto precisa ter um Certificado de Piloto Aerodesportivo (CPA) com habilitação válida para a respectiva categoria.
A operação de aeronaves experimentais segue as restrições estabelecidas no Regulamento Brasileiro de Aviação Civil. Uma destas restrições, por exemplo, é que este tipo de avião só pode sobrevoar áreas densamente povoadas após 100 horas de voo de teste.
No Brasil, o Código Brasileiro de Aeronáutica estabelece como regra geral que todas aeronaves devem ser certificadas, no entanto, permite a construção amadora e o desenvolvimento da aviação experimental.
Segundo o código, uma aeronave experimental, que geralmente se caracteriza por não ser submetida a uma longa campanha de testes exaustivos, deve expor poucas pessoas ao risco e somente aquelas inerentes ao projeto.
"Desta maneira, aeronaves experimentais são restringidas a voar sobre áreas pouco povoadas, ou em alguns casos específicos, a áreas completamente isoladas. O voo sobre áreas densamente povoadas necessita de autorização específica, e o transporte de pessoas e bens com fins lucrativos é proibido".
Por conta destas restrições, normalmente se utiliza este tipo de avião para lazer ou para experimentar novos conceitos.
Por isso, é fundamental que a ANAC permita o desenvolvimento da aviação experimental, o que é feito por meio de um processo de autorização baseado na responsabilização do construtor amador e do engenheiro responsável pelo acompanhamento da construção.
Acidente em 2019
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Avião caiu em plantação de Piedade — Foto: Bom Dia Piedade |
A aeronave que caiu em Quadra se envolveu em um acidente, sem vítimas, na cidade de Piedade, região de Sorocaba, em 4 de setembro de 2019. Não era Nelson José Ponzoni quem pilotava o avião. As informações são do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
De acordo com o órgão, a aeronave prefixo PU-MSM, um modelo experimental, decolou do Aeródromo Associação Recreativa Fazenda Bonanza (SDBN), por volta das 18h daquele dia, para realizar um voo local, com um piloto e um passageiro a bordo.
Na volta, o piloto "cortou" – jargão aeronáutico para parar – o motor "em voo e realizou pouso em um local não preparado, devido às condições meteorológicas e à pouca quantidade de combustível remanescente". Durante a aterrissagem, o avião capotou.
O relatório do acidente não apontou recomendações de segurança, afirmou que não houve vítimas, e que a aeronave teve danos substanciais.
O documento também aponta que a altitude, as condições meteorológicas adversas, o julgamento de pilotagem, o planejamento de voo e o processo decisório do piloto contribuíram para o acidente.
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Local de queda do avião em Quadra (SP) — Foto: Arte G1
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