Cerca de 80 pessoas participaram do evento. Estiveram presentes os vereadores Eduardo Sallum (presidente da Câmara), Maurício Couto e Cintia Yamamoto. Também participaram Gisele Maria Santos Miranda, enfermeira que atua no Ambulatório de Ostomia de Tatuí, Sueli Aparecida Silva Nunes, professora e enfermeira da FAESB, Sandra Cristina Ferreira da Silva, professora do Colégio CENEP, Carla Regina de Paula Holtz, técnica de enfermagem que atua em Capela do Alto, bem como alunos da FAESB, da Escola “Dr. Gualter Nunes” e do Colégio CENEP, além de técnicas de enfermagem da Santa Casa de Tatuí, pacientes ostomizados, familiares e a comunidade local.
A importância da divulgação de orientações e o combate ao preconceito contra as pessoas ostomizadas foram bastante abordados durante a solenidade. A pessoa que vive com uma ostomia, além dos cuidados especiais que necessita, ainda sofre muito com a dificuldade de aceitação da sua nova condição de vida e autoimagem. Isso é agravado devido à falta de informações a respeito do que é a ostomia, e todos os direitos e desafios da pessoa ostomizada, de modo que muitos não sabem que podem ter uma vida normal. Por isso ainda sofrem com o preconceito por parte da sociedade, que também é fruto da desinformação.
O presidente da Câmara, vereador Eduardo Sallum, abriu a solenidade e falou sobre a importância do tema. “Não é uma questão de vergonha. Se a passou a ser ostomizada depois de um certo período da vida, não quer dizer que a vida dessa pessoa acabou, pelo contrário, ela está tendo uma nova oportunidade de vida. As crianças também precisam ter uma qualidade de vida e nós precisamos debater isso enquanto agenda pública de Tatuí”, iniciou.
“O senhor aqui é um pioneiro, vereador Maurício. Profissional que não apenas coloca essa pauta, mas também foi se especializar, entender melhor. A questão da ostomia teve avanços, mas muita coisa precisa ser ajustada ainda. É muito importante se organizar e reivindicar. O que o Estado e a Prefeitura fazem pela pessoa ostomizada hoje, não é um benefício, mas sim um direito. Me coloco à disposição, mesmo acabando um ciclo aqui na Câmara. Usem esta Casa, não importa quem esteja aqui na presidência, para fazer essas reivindicações que são tão justas”, destacou o presidente.
Em seguida, Maurício Couto apresentou a palestra “Estomia infantil. A vida continua com ostomia”. Ele falou sobre os 25 anos que atua na área da Saúde, sendo os últimos 10 anos dedicados a cuidar de lesões e fazer curativos, período em que passou a atender pacientes ostomizados e se especializou por meio de uma pós-graduação, tendo se formado como estomaterapeuta.
De acordo com o vereador, atualmente o ambulatório faz em média 500 a 700 curativos por mês. Ele contou que a ostomia chegou à sua vida quando participava de uma palestra sobre o tema e perguntaram para a palestrante quem deveria ser procurado para atender os pacientes em Tatuí. E a palestrante o indicou. Posteriormente, na área política, ele passou a se dedicar ainda mais ao tema. “Orei a Deus e uma das minhas bandeiras em 2020 foi a ostomia. Em acordo com a então candidata Maria José, se ela ganhasse e eu ganhasse, a gente teria um local para fazer os atendimentos. Nós ganhamos e eu fui atrás. Em agosto deste ano o Ambulatório de Ostomia completou três anos, sendo uma conquista do meu mandato como vereador e sou o responsável técnico desde o início. Atualmente são atendidos mais de 60 pacientes. Muitas pessoas não sabem o quanto é importante ter um local para atender, para acolher essas pessoas e até criticam”, lembrou.
Durante a apresentação, Maurício explicou sobre os estomas e os tipos de intervenções, abordando principalmente sobre os procedimentos relacionados ao intestino. “O paciente teve um comprometimento, uma complicação em parte do intestino, seja uma obstrução ou uma doença autoimune que causou algumas lesões. O médico vai conversar com o paciente e diz: ‘Vamos fazer um desvio e mudar o trajeto do intestino. Fazer uma cirurgia, trazer a parte boa do intestino e costurar na parede do abdômen. Vamos fazer uma abertura.’ Essa abertura é o chamado estoma. Todo paciente que passou por uma ostomia é chamado de ostomizado. É o paciente que teve uma abertura no seu corpo, que pode ser temporária ou permanente”, mostrou.
Ao encerrar a palestra, ele exibiu vídeos de atendimentos realizados a crianças e uma música de sua autoria, escrita sobre a ostomia. “Uma nova chance nasceu, ostomizado me tornei, a vida sorriu para mim. Fácil não foi. Também chorei. Novas histórias ouvi, mais forte me tornei e com a ajuda da força de Deus, continuei”, diz um trecho da música.
Duas mães que acompanham os tratamentos dos seus filhos ostomizados falaram sobre os desafios diários. Ana Carolina Lopes Mota e Juliana Oliveira se emocionaram e emocionaram aos presentes com os relatos.
Ana Carolina, mãe de gêmeos, contou sobre um dos filhos que é ostomizado. “A minha gestação não foi planejada e tudo foi muito difícil desde o começo. Com 10 dias de vida o Davi voltou a ser internado e infelizmente a demora no diagnóstico levou a um estado bem grave. Ele ficou 54 dias na UTI em Piracicaba, no setor privado, passou por duas cirurgias no intestino, e desde que teve alta, eu recebi a seguinte informação: ‘Procura o Maurício. Ele vai te ajudar’. E foi isso que eu fiz. Quando eu cheguei no CIR, encontrei a Gisele e tive acolhimento”, relatou.
Ela também expôs que a falta de informação dificultou muito o processo. “É assustador, porque você vai para um profissional, não sabe o que dizer. É um caso muito específico. Vai para outro, não sabe o que dizer. Hoje o trabalho que o Maurício e a Gisele fazem na cidade é 24 horas, pois como eles disseram, estão 24 horas no celular. Se eu tenho uma intercorrência com o meu filho, na cidade eu não tenho para quem correr, se não for para eles”, destacou.
Ela falou ainda sobre as dificuldades enfrentadas após o término da licença-maternidade. “Tive que voltar a trabalhar e a cada pessoa que me pergunta sobre isso, algumas demonstram nojo, outras se questionam como é que eu posso cuidar disso, como é que eu dou conta, em tom depreciativo. E é muito pela ignorância e falta de conhecimento. É desgastante você voltar a conviver na sociedade e as pessoas não saberem nada. Pior do que a falta de informação, são os mitos, a desinformação, o estereótipo que é levantado”, finalizou Ana Carolina Lopes Mota.
Em seguida, Juliana Oliveira compartilhou sobre a rotina com a filha Valentina, que nasceu com síndrome de Down e atualmente é ostomizada. Valentina, inclusive, roubou a cena durante o evento, com bastante carisma e espontaneidade, o que conquistou a todos.
“Não foi fácil chegar até aqui. Tive uma gestação de alto risco desde o início. Não sabia que Valentina viria com anomalia anorretal, mas já tinha um diagnóstico dela que viria 70% com síndrome de Down. Nenhum médico descobriu na gestação que ela viria com essa má formação. Os médicos levaram a Valentina, tentaram socorrer, e com apenas três dias de vida ela quase faleceu. O abdômen ficou estendido, inchou demais, Valentina começou a ficar roxa e ainda não tinha feito o primeiro cocozinho”, contou.
Juliana lembrou sobre a cirurgia de emergência e que somente naquele momento foi informada sobre a real situação de saúde da filha. “Eu sem informação e com tudo aquilo conturbado. Graças a Deus foi socorrida, Valentina está saudável, está aqui presente e feliz, porque a colostomia é vida, como o Maurício disse. E graças a Deus eu tenho apoio do Maurício. Na época eu fiquei sabendo que ele tinha esse conhecimento, nos conhecemos há 18 anos, eu sabia que ele era enfermeiro e Deus presenteou o Maurício novamente na minha vida”, disse, emocionada.
“Eu estava morando em São Paulo, pois todo o histórico da Valentina era lá. E mesmo tendo plano de saúde, foi muito difícil. Foi então que comecei a ter bastante informação, comecei a lutar, a estudar e criei o Instagram da
Valentina, que é @valentina_superdown, onde ajudo outras mães com as necessidades e o desenvolvimento de uma criança com síndrome de Down, que não é fácil, e com a colostomia também”, destacou.
“Quando você não tem o conhecimento, não tem a informação, você entra em estado de desespero. Mas quando você começa a dominar a situação e ter as informações corretamente, aí passa a levar aquilo com mais leveza. E graças a Deus, Valentina em janeiro vai tirar a colostomia”, comemorou Juliana.
Carla Regina de Paula Holtz, técnica de enfermagem que atua em Capela do Alto, falou sobre um dos casos que acompanha na cidade vizinha. “O Maurício me deu de presente o Pedrinho. Ele chegou para nós com 21 dias, aquela ‘coisinha’ pequenininha. Quando eu cheguei lá, saí chorando. Tinha uma médica comigo e a mãe veio falar para mim que não sabia ler. As mensagens chegavam no celular, mas ela não sabia o que estava acontecendo com o filho”, relembrou.
“É um trabalho maravilhoso, que faz bem. Hoje as pessoas me procuram no posto de saúde e dizem: ‘É meu irmão, é um adulto’. Eu sei que o adulto também precisa do apoio, mas aquela mãe para mim é muito especial. Ela depende bastante, me liga, conversa, fala, sente segurança, tem o meu whatsapp 24 horas, a hora que ela precisar, porque eu sei que eu tenho 24 horas o meu suporte aqui. Eu agradeço em nome do Pedrinho e hoje tem muitos naquela cidade que vão atrás de mim”, contou Carla Holtz.
Gisele Maria Santos Miranda, enfermeira que atua no Ambulatório de Ostomia, que fica no Centro Integrado de Reabilitação (CIR) de Tatuí, ressaltou o aprendizado na área. “Estou há 30 anos na enfermagem e há sete meses atuando com o Maurício. Apesar de toda a dificuldade, Tatuí é uma cidade privilegiada por ter esse ambulatório. E nesse período temos ajudado muita gente, não só de Tatuí, mas também da região”, explicou.
“Nessa área a gente trabalha muito a nossa parte espiritual e a nossa empatia. É uma área muito difícil, porque 80% dos nossos pacientes têm câncer. Então, futuros formandos, se interessem por essa área. A gente se sente realmente humano podendo ajudar essas pessoas com o nosso conhecimento. Estamos sempre no CIR para quem estiver precisando. Por favor, passem as informações”, enfatizou Gisele Miranda.
A vereadora Cintia Yamamoto registrou o seu carinho ao vereador Maurício Couto e às “mães guerreiras”, como ela se referiu. “Não é fácil passar por isso. Vocês falaram muito que falta informação. Particularmente, quando entrei aqui na Câmara, também não sabia, não conhecia, nunca tive ninguém próximo que tivesse passado por isso. E o Maurício trouxe isso à tona. Quando se fala que o Maurício é dedicado, realmente é. Fomos à Assembleia em busca de recursos para isso e ele falou dos ostomizados. Fomos ao Governo Federal e ele falou dos ostomizados. Ele fala para todos e luta incansavelmente”, destacou Cintia Yamamoto.
“Assim como ele foi um presente na vida de vocês, também é um presente na política. É um exemplo de vereador e amigo. Além de excelente profissional da Saúde, ele é uma excelente pessoa. As pessoas têm dom para certas coisas e o Maurício tem o dom para cuidar. Não poderia deixar de registrar o quanto eu o admiro como pessoa e o quanto Tatuí ganha por tê-lo aqui. Trouxe outra visão do que é a ostomia, de uma forma mais leve, porque não deve ser fácil. Parabéns”, finalizou Cintia Yamamoto.
Maurício Couto entregou uma placa em homenagem às mães que apresentaram os depoimentos, agradeceu a esposa Inês por todo o apoio, bem como a presença dela, das filhas e da sua irmã. Igualmente agradeceu a presença dos demais e encerrou a solenidade falando sobre como usar a informação e a orientação para combater o preconceito, além da importância de utilizar os materiais corretos no tratamento dos pacientes.
“As pessoas têm preconceito, porque não sabem realmente do que se trata. Às vezes têm medo de estar junto ou têm insegurança. Hoje fala-se muito de inclusão. Seja o paciente ostomizado, cadeirante, pessoa com deficiência física ou intelectual, todos merecem ser tratados com respeito. Antes de apontar o dedo, fazer um julgamento, é preciso saber do que se trata. Ninguém sabe como será o dia do amanhã. A gente precisa se colocar no lugar do outro. Quer ser tratado com respeito, inicie tratando com respeito”, salientou.
“Sobre o material, às vezes um material errado, que foi sugerido por ser mais barato ou por ser o que tem no momento, é colocado na pele e pode causar lesões. Então vai se gastar muito mais para tratar aquela ferida. O material correto é muito importante e será indicado conforme a avaliação de um profissional qualificado”, concluiu o vereador.
O Ambulatório de Ostomia funciona no CIR de Tatuí, situado à rua 11 de Agosto, ao lado do “postão”. O atendimento é de segunda a sexta, das 12h00 às 16h00.
A Sessão Solene sobre o “Dia dos Ostomizados” está disponível nos canais oficiais da Câmara de Tatuí nos seguintes links:
TV Câmara: http://tvcamaraaovivo.net/camaratatui/
Youtube: https://www.youtube.com/@camaramunicipaldetatui2541
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