Por Diogo Del Cistia*, g1 Sorocaba e Jundiaí, com edição do DT
Mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue — Foto: Reprodução/RBS TV |
10/06/2024 | Sorocaba (SP) tem vivido uma epidemia de dengue em 2024. De acordo com o último boletim epidemiológico, divulgado pela prefeitura na quinta-feira (6), a cidade possui mais de 30 mil casos confirmados somente nos cinco primeiros meses do ano, com 22 mortes registradas.
Entre as vítimas, 15 são homens, representando aproximadamente 70% dos óbitos. O levantamento gerou dúvidas e incertezas sobre como a doença pode agir nos organismos. Por isso, o g1 conversou com a médica infectologista Naihma Fontana para entender melhor sobre o assunto.
De acordo com a profissional da saúde, a grande explosão de casos nas últimas décadas tem relação direta com o desenvolvimento da sociedade. O alto percentual entre homens se explica pela maior presença deles em ambientes propícios à proliferação do mosquito Aedes aegypti.
"Não há uma predileção do mosquito por indivíduos do sexo masculino, na verdade. Os casos de dengue cresceram cerca de 30 vezes nas últimas décadas e isso se deve à escalada da urbanização e da facilidade no transporte aéreo."
"Talvez a razão de os homens se infectarem mais com a doença é a sua maior atividade em ambientes propícios. Engenharia civil, forças policiais, agricultura, profissionais eletricistas, encanadores e etc. são profissões que guardam a necessidade de exposição a ambientes externos e insalubres, que ajudam na proliferação", complementa.
Naihma Fontana é infectologista e moradora de Sorocaba (SP) — Foto: Arquivo pessoal |
Há diferença nos sintomas?
Mesmo com uma porcentagem maior, a doença não possui variação de sintomas de acordo com o gênero do paciente. No entanto, a atenção deve ser redobrada quando a dengue for hemorrágica e em crianças e adolescentes, com idade inferior a 15 anos.
"Aproximadamente 80% dos casos de primo-infecção por dengue são assintomáticos, e não há diferença na sintomatologia entre gêneros. A dengue clássica é caracterizada por febre baixa, dor de cabeça e muscular, eritema, entre outras. A hemorrágica possui febre alta e hepatomegalia, isto é, o inchaço do fígado", relata.
Outra forma de transmissão
A infectologista ainda pontua que a transmissão pode ir além do Aedes aegypti. Um outro mosquito, chamado Aedes albopictus, conhecido como mosquito-tigre-asiático, também é capaz de espalhar a doença por ambientes diferentes.
"Atualmente, o albopictus tem se tornado um vetor cada vez mais importante, pois pode se adaptar a ambientes aos quais o aegypti dificilmente consegue, como as regiões temperadas. Isso, inclusive, explica a endemia que o Rio Grande do Sul tem vivido desde 2021. Ele descansa em ambientes externos e se alimenta mediante presença humana", explica.
Cuidados durante o ano todo
Com a chegada do outono e, posteriormente, do inverno, estações com temperaturas mais amenas, é esperada uma redução no aumento dos casos, gerando um controle da epidemia. No entanto, é necessário continuar tendo cuidados reforçados com a doença, independente da época do ano.
"É uma tendência os casos diminuírem no frio, já que as pessoas usam roupas que cobrem mais o corpo. Com a adaptação do mosquito e a incidência do Aedes albopictus e do vírus aos ambientes urbanos, é esperado que tenhamos que conviver com a dengue por tempo indeterminado, inclusive no número de óbitos, se nenhuma ação efetiva, coletiva e individual for feita", pontua.
Vacina da dengue começa a ser aplicada em crianças e adolescentes — Foto: Helder Lima/Prefeitura de Guarujá |
Vacinação contra a dengue
Naihma ainda destaca a importância da Qdenga, a nova vacina contra a dengue, como principal aliada no combate à doença. Produzida a partir do organismo vivo e enfraquecido, ela possui vantagens e protege o indivíduo das formas mais graves do vírus.
"A partir deste método de produção, este imunizante, que é tetravalente, pode melhorar a resposta do sistema imunológico, funcionando de forma semelhante à defesa do corpo humano nos casos de infecção. A eficácia dela é de 84%, contra menos de 60% da vacina anterior, e sua abrangência é maior, sendo permitida a vacinação de pessoas de quatro a 60 anos de idade, incluindo soropositivos", revela.
"As contraindicações são sempre as mesmas para as vacinas que são feitas desta forma, ou seja, ela não deve ser tomada por gestantes, lactantes e pessoas com imunodeficiência. A vacina não representa quaisquer riscos à saúde, ao contrário, ela protege o indivíduo contra formas graves da dengue", finaliza.
O que é a dengue?
A dengue faz parte de um grupo de doenças denominadas arboviroses. O vírus é transmitido pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti e possui quatro sorotipos diferentes: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4 — todos podem causar as diferentes formas da doença.
Todas as faixas etárias são igualmente suscetíveis à doença, porém, as pessoas mais velhas e aquelas que possuem doenças crônicas, como diabetes e hipertensão arterial, têm maior risco de evoluir para casos graves e outras complicações que podem levar à morte.
*Colaborou sob supervisão de Ana Paula Yabiku
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