terça-feira, 21 de maio de 2024

Banda do Villa: concerto em Tatuí revive obras de Villa-Lobos para bandas de música


por Luciana Medeiros, na revista Concerto

20/05/2024 |  “Não resta a menor dúvida que a banda de música, seja a tradicional charanga dos arrabaldes, ou a pequena ou grande banda de militares, ou uma banda sinfônica no gênero das da Guarda Republicana de Paris, a Municipal de Barcelona e a de Lisboa, e outras, todas formadas por artistas virtuoses, agem, fortemente, no programa social popular, do qual se pode verificar, perfeitamente, o grau de educação do povo pela maneira de se portar ao ouvir programas organizados por estas bandas.”

Esse trecho é de um artigo publicado em 1934 por Heitor Villa-Lobos no periódico carioca O Jornal.

Na quinta, dia 23, a Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí, com regência de Marcelo Jardim, revive o repertório para bandas composto ou arranjado pelo compositor brasileiro no concerto Banda do Villa. Heitor Villa-Lobos, engajado no projeto nacional de educação musical nos anos 1930 e 1940, foi um entusiasta das bandas como ferramentas de educação musical e também experiência artística. Além do concerto no Teatro Procópio Ferreira, com entrada gratuita, o grupo vai gravar o repertório ao longo da semana.

“Esse repertório tem muita diversidade de estilo”, explica Jardim, um pesquisador dedicado a esse recorte na obra de Villa. “Mas se fortalece nas canções cívicas e nas populares, estas folclóricas ou da música popular. Villa-Lobos tinha contato estreito com Donga, com Pixinguinha, Silvio Caldas, Anacleto de Medeiros.” Anacleto, aliás, nascido em 1866, foi um dos maiores propagadores das bandas militares a partir da importante Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, fundada por ele em 1896.

Do gênero cívico, o concerto apresenta, entre outras, Canção do operário brasileiro e Pra frente, ó Brasil. Das canções populares e folclóricas, desde Ciranda, cirandinha e A canoa virou até a Quadrilha brasileira. “A quadrilha foi um estilo musical muito usado no fim do século XIX e início do século XX”, prossegue o regente. “Essa versão tem cinco movimentos, em compassos 6/8, uma jiga, e também 2/4 e 4/4. A quadrilha caiu em desuso, como dança caipira, quase uma música sertaneja. Mas Villa-Lobos usa a jiga na Bachianas nº 7, por exemplo.”

A Banda do Villa, projeto que já existe desde 2022, está ligado hoje em dia ao guarda-chuva Arte de Toda Gente como Projeto Bandas: Sistema Pedagógico de Apoio às Bandas de Música, no âmbito da parceria entre a Funarte a Universidade Federal do Rio de Janeiro, que tem ainda o Sistema Nacional de Orquestras Sociais – Sinos, entre outras iniciativas.

“É uma rede que conecta ações de valorização da atividade das bandas de música no Brasil. A Funarte mantém, desde 1976 – um ano depois de sua fundação –, o projeto Bandas de Música, que faz doação de instrumentos, editoração de partituras e capacitação de regentes”, lembra Marcelo Jardim. “O Sistema Pedagógico cria um elo com o que foi produzido no passado, ajudando a alimentar o futuro das bandas no Brasil como instituições artísticas e de formação de músicos e do público.”

O reconhecimento de Heitor Villa-Lobos como compositor para bandas – mesmo que as obras tenham sido destinadas ao projeto educacional – é parte do fundamento do projeto Banda do Villa. “Uma quantidade imensa de obras dele para esse universo ficou jogada nos acervos das bandas militares ou vistas como peças de museu”, diz Jardim.

“Esse trabalho traz à luz, na contemporaneidade, esse repertório com elementos didático-pedagógicos e de alto nível artístico, para uma população que aprecia e merece ter a música como sua base na estruturação da identidade coletiva”, diz ele.

Veja mais detalhes no Roteiro Musical do Site CONCERTO

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