sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Música melhora o desenvolvimento escolar dos estudantes, apontam pesquisas

Musicalidade contribui para a formação de seres humanos integrais e comprometidos com transformação positiva na sociedade, afirma a mestre da Lumiar, Danielle Bambace


21/12/2023 | A música é uma grande aliada no desenvolvimento da educação, principalmente para as crianças, e diferentes estudos apontam que a música contribui efetivamente para melhorar o desempenho escolar. Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Instituto ABCD, com crianças de 8 a 10 anos de idade que apresentavam dificuldades de leitura e aprendizado, mostrou que frequentar aulas de música melhorou as notas de português, de matemática e o desenvolvimento da leitura, conforme publicação da Sociedade Artística Brasileira. Outra pesquisa, da revista Psychological Science, revelou que aulas de piano e de voz para crianças de 6 anos resultaram no aumento do quociente de inteligência (QI).

A música contribui para o desenvolvimento psicomotor, sócio afetivo, cognitivo, linguístico, facilita a aprendizagem e a construção do conhecimento. Também favorece o raciocínio lógico, a sensibilidade, a criatividade e a imaginação, além de promover consciência corporal, a autoestima das crianças e a saúde emocional. De acordo com o pensador Jean Piaget, a música ainda facilita o aprendizado de regras sociais.

Para a musicista Danielle Bambace, mestre de música da Escola Lumiar, a música é uma prática de grande importância no desenvolvimento humano antes mesmo do nascimento. “A escuta, a sensorialidade, a expressão e sua interpretação são essenciais na formação de seres humanos integrais e comprometidos com uma transformação positiva na sociedade”, afirma. Entre os 6 e 8 anos, a prática musical possibilita o reconhecimento da identidade e de habilidades pessoais, e também de integração e participação comunitária.

Danielle coordena o projeto “Ler o mundo pela música: práticas musicais para a alfabetização”, na Lumiar Morumbi, que trabalha a partir da lógica transdisciplinar, inclusiva e de desenvolvimento integral da educação. “O processo de aprendizagem é construído a partir de habilidades e conteúdos diversos, que permitem a ação com os estudantes sempre ao centro”, alega. Segundo ela, a prática de múltiplas linguagens artísticas, compreensão de textos curtos, expressar-se musicalmente, ser cooperativo, reconhecer, respeitar e valorizar a diversidade étnica e aceitar desafios são algumas das características embutidas na vivência do projeto.

As temáticas do repertório permitem a conexão com conteúdos presentes no imaginário infantil e também com os que estão presentes no reconhecimento do mundo, nas ações do cotidiano e na diversidade cultural. “A música possibilita relações e aprendizagens a partir do som, da rima, do cantar, ler, reler e escrever a música, aspectos tão presentes e oportunos para a alfabetização”, afirma a mestre, que desenvolve o projeto com a assistente Carolina Garbelotto.

Fórum Internacional

Com esse trabalho, Danielle e Carolina foram selecionadas para participar do XXVII Fórum Latino-Americano de Educação Musical (Fladem), entre os dias 10 e 14 de outubro, em Valparaíso, no Chile. O Fórum, criado em 1995, é uma instituição autônoma que engloba educadores musicais de dezoito países da América Latina para buscar a promoção, o fortalecimento e a valorização de suas práticas pedagógicas. O projeto “Ler o mundo pela música: práticas musicais para a alfabetização” será apresentado como comunicação oral no espaço "Investigaciones, estudios y proyectos", em datas e horários a serem definidos.

A mestre conta que Os Limõezinhos são um grupo do Ensino Fundamental 1 da Lumiar Morumbi que tem muito interesse pela música,característica observada e estimulada pelas educadoras. “Compreender textos curtos é uma habilidade a ser desenvolvida neste ciclo e a alfabetização é parte essencial dos conteúdos previstos na BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Nesse contexto, a união de interesse, habilidades e conteúdos a serem conquistados oportunizou um trabalho de utilização de músicas como ferramenta para encontros, explica.

O trabalho está sendo realizado desde o início do ano letivo, em diferentes projetos e oficinas, com a mesma prática. Os estudantes conhecem uma música, escolhida pelas educadoras ou proposta por eles, e dão início a diferentes propostas que direcionam para a leitura e a escrita. Danielle conta que as práticas envolvem a identificação de letras, diferenciação de vogais e consoantes e suas possíveis combinações, reconhecimento, classificação e separação silábica e ampliação de vocabulário.

“Todas as práticas consideram a multietariedade e a transdisciplinaridade, bases essenciais da pedagogia Lumiar”, comenta a mestre. A proposta inclui ainda a apropriação do espaço escolar, já que o grupo canta o repertório adquirido em áreas externas, como pátio, solário e biblioteca. “Isso cria um ambiente convidativo para outros grupos que, por vezes, também se juntam aos Limõezinhos”, diz. O repertório trabalhado até o início do segundo semestre inclui músicas de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Palavra Cantada, Grupo Trii, Nhanbuzim, Luiz Gonzaga, Cartola, canções indígena, do folclore mineiro e de ninar africana.

Danielle comenta que a participação no Fladem fortalece e valoriza práticas pedagógicas em educação musical, refletindo a identidade sócio-político-cultural desses países. “O Seminário anual traz a Educação Musical como um direito do ser humano, a partir de elementos culturais latinoamericanos das diversas identidades locais e da identidade do povo latinoamericano como um todo”, aponta. Segundo ela, participar do evento representa uma oportunidade de aprendizado. “A seleção do nosso projeto é resultado de um trabalho coletivo, integrado à comunidade e totalmente conectado aos interesses dos estudantes”, defende.

Sobre a Escola Lumiar - Fundada em 2003, a Escola Lumiar surgiu como uma iniciativa de educadores de vanguarda para transformar a educação. Através de uma metodologia que prioriza a autonomia e a individualidade de cada estudante, o aprendizado se fundamenta em seis pilares: tutores e mestres; currículo em Mosaico; aprendizagem ativa; avaliação integrada; possibilidade de multietariedade e gestão participativa.

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