sábado, 22 de julho de 2023

O Dom do Silêncio | B.J.A.Falcão


O DOM DO SILÊNCIO

Todo mundo tem um dom. Alguns, um dom que extrapola sua pessoa e se mostra ao mundo. Outros, um dom íntimo e pelo simples fato de existirem, nos levam à reflexão.

Entre os dons, sempre admirei, em especial, a oratória. Adorava ouvir discursos inflamados com palavras rebuscadas, malabarismos de raciocínio, citações eruditas, ironias no tom da voz, insinuações nas entrelinhas e o mais brilhante dos recursos: os perturbadores hiatos de silêncio...

E de tanto observar exímios oradores, acabei assimilando um pouco, me tornando um bom articulador, hábil em me esquivar de armadilhas de meus interlocutores e enredá-los no momento oportuno. Era para mim um verdadeiro deleite vê-los tropeçarem numa pergunta inesperada ou se enrolarem nas palavras diante de argumentos irrefutáveis.

Hoje, numa fase da vida onde refaço muitos dos meus passos revendo conceitos, penso um pouco diferente. Embora continue a admirar o bom uso das construções verbais, a maturidade me deu a percepção de que a maioria dos debates não é sobre fatos ou ideias, mas sim, sobre o tamanho do ego dos debatedores.

Por isso, para fugir à cilada, quando numa discussão me sobram palavras, razão e argumentos, entendo que é hora de permanecer em silêncio.

Afinal, não existe ninguém mais convicto que o ignorante, nem mais enfático do que aquele que defende absurdos.

Portanto, se não posso convencer pessoas ignorantes ou más, qualquer coisa que se diga é um desperdício e qualquer minuto dispendido é perda de tempo.... A vaidade dessas pessoas as impede de rever conceitos ou admitir erros (ainda que intimamente os tenham reconhecido).

Talvez, por isso, atualmente compreendo que o maior desafio que enfrentamos nesses momentos, não é manter a consistência da argumentação, mas saber silenciar... Não o silêncio dos covardes, mas o silêncio dos sábios, capazes de refletir sobre as próprias convicções e refrear o impulso humano da vaidade...

(B.J.A.Falcão)

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