sexta-feira, 21 de abril de 2023

'Vingança' do analógico: discos de vinil superam CDs e conquistam músicos e colecionadores

Neste Dia do Disco, celebrado em 20 de abril, o g1 conversou com o DJ Dub Odd, que utiliza as famosas “bolachas” para agitar festas no interior paulista.

Por g1 Itapetininga e Região

DJ Matheus Castro, conhecido como Dub Odd, utiliza vinis em apresentações pelo interior de SP — Foto: Arquivo pessoal/DJ Dub Odd


20/04/2023  | Após 35 anos, os discos de vinil superaram as vendas dos compactos CDs, marcando, assim, o início da “vingança” dos analógicos. No Dia do Disco, celebrado nesta quinta-feira (20), o g1 conversou com um DJ que utiliza as famosas “bolachas” para agitar festas no interior paulista.

De acordo com dados da Associação Americana da Indústria de Gravação, mais de 41 milhões de discos de vinil foram vendidos em 2022, proporcionando lucro superior a R$ 6 milhões às gravadoras. Em comparação, no mesmo período, foram vendidos 33 milhões de CDs, que desbancaram os LPs na década de 1980.

O disco de vinil é como a impressão física da música, conforme explica o professor do curso de produção fonográfica da Fatec de Tatuí, José Pires. “O disco de vinil contém as informações sonoras gravadas na forma de micro-sulcos análogos à vibração sonora dos instrumentos musicais ou da voz.”

Ao passar pelos microssulcos, continua o professor, “a agulha vibra reproduzindo os sons que foram previamente gravados no disco matriz”, explica José.

Discos de vinil funcionam através de ranhuras na superfície, que são ampliadas — Foto: Reprodução/Pixabay


Peculiaridade que chamou a atenção do DJ e produtor fonográfico Matheus Castro, de Itapetininga (SP), que encontrou, nas limitações do formato analógico, novas possibilidades artísticas.

“Eu gosto de tocar em vinil em alguns ‘sets’, pois acaba se criando uma limitação, onde você tem que desenvolver mais a sua criatividade. (...) [entender] o que as pessoas estão gostando de dançar. Se aqueles discos que você preparou para tocar têm algo a ver com o pessoal”, comenta.

A primeira festa em que Castro discotecou com discos, foi em Londrina (PR), no “Baile do LP”, a convite de amigos.

Para DJ Dub Odd, discos proporcionam novos 'olhares' aos músicos — Foto: Arquivo pessoal/DJ Dub Odd


“Eu tive uma sensação muito boa. Eu já tinha tocado em muitas festas com controladora e formato digital, mas com o disco foi diferente, porque tinha que prestar muita atenção. Era tudo no ‘ouvido’, então eu senti que aquilo me forçava a ser um DJ melhor, o que sempre foi minha prioridade”, relembra.

“Por ser algo físico, tá ali batendo agulha. Às vezes, o disco dá uma puladinha ou você bate a mão, o público vê, dá risada e interage. Fica algo bem real. Você não está atrás de uma tela. Você tá pegando ali um um pedaço de plástico, ele sai música e as pessoas dançam”, conta Matheus sobre a experiência com as ‘bolachas’.

Experiência sonora

Muito se fala sobre a sensível experiência ao ouvir um disco, mas para o professor José Pires, são os ambientes que tornam o momento aconchegante. “(...) Não há evidências que o vinil contenha características que tornem a escuta mais aconchegante. Porém na história da produção fonográfica, os aparelhos de vinil sempre estavam em lugares aconchegantes, como salas de estar (...), por isso todo o romantismo envolvido com o vinil”, comenta.

Para o DJ, a tendência dos vinis invadirem o mercado fonográfico se dá pelos sentimentos e sensações que o item proporciona aos ouvintes.

“[É] algo muito sentimental, de você ter algo físico, pegar o encarte, ver o disco girando (...) são muitas qualidades. E eu acho que só tem aumentado por causa disso (...) Essa questão do gostar do disco, é algo legal, é interessante, pois cria novas percepções auditivas, novas redes de amizade, (...) vai criando novos caminhos para vida”.


Analógico versus digital

Conforme explica José, a diferença entre os formatos se dá pela forma em que a música é transmitida.

“A informação digitalizada é codificada em pacotes de dados que são amostrados numa frequência que ainda que ouvimos como sons contínuos. Já a música que sai do dispositivo de vinil é de fato contínua e análoga às ondas originais. Na prática, somente audiófilos podem notar as diferenças, o público comum não tem treinamento auditivo para notar essas diferenças”.

Em uma batalha sem vencedores, o DJ Matheus comenta que a música analógica, assim como a digital, possui particularidades positivas e negativas. “É muito relativo, sabe? Eu acho que têm discos cuja qualidade é horrível e compensa tocar música digital. Tem disco que é muito bom”, diz.

“Acho que a gente tem que saber usar tudo. Não ficar preso ao passado”, conclui Matheus.

Discos superaram as vendas de CDs em 2022 — Foto: Reprodução/Freepik

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