Feliz Natal para vocês que fazem a vida girar de mãos dadas comigo, sintam-se amados por mim, muito! Prezo a sua companhia.
Nevoeiro de ilusões, com luz amarela dissipo as brumas das expectativas encantadas. No ponto de passagem pela vida em que me encontro hoje, tudo é permitido, o oásis que criei não é miragem e existe acima das proibições inúteis que impedem o corpo e o espírito de se soltar. Liberto a luz confinada em meu coração com lágrimas verdadeiras, risadas gostosas, suspiros saudosos, paixões explícitas, buscas óbvias que servem ao magnetismo da maturidade. Tempo de um deixa estar conclusivo. Atravesso noites e dias com a mente aberta disposta a vivenciar maior enlevo espiritual, dimensão natural que desejo com apetite como a comida que me serve. Falo de música, poesia, bons livros, filmes, arte surpreendente, pessoas interessantes, beleza, harmonia. Falo de família, esta que construí e que me gratifica, esta que me apoia, ampara e dignifica.
O fazer com gosto é o fato de importância que acontece agora. Brasileira esperei sempre, sem esperar pela segurança que nunca veio, pelo previsível que não há. Nunca me foi possível saber com antecedência do resultado concreto dos meus projetos. A vida exigiu de mim coragem e peito aberto, fé. Apostei sempre no inusitado, no nem sempre provável, e, eu sozinha também sou bloco. Arrisquei no fazer com gosto, a realização sempre à frente da gratificação material. E por obra e graça do destino a vida me sustentou assim. Consegui mais que os alfinetes, as vaidades e a casa estruturada em lar. Tenho por patrimônio o tempo, o conforto, amizades feitas em décadas longas e dedicação. Valeu a pena, acredito. Descubro então que sou uma ONG, uma Fundação sem fins lucrativos.
Sem corruptelas e contradições pago o preço da liberdade. Faço biscates de luxo aqui e ali, artista múltipla habituada a conviver com a sorte. Exercito a escolha, nem sempre acertada, nem sempre a melhor mas a que o momento pede. Sou atrevida e nem sempre ando por terrenos seguros. Sempre na corda bamba. Um espetáculo imagino que bonito de apreciar dado o público fiel que me acompanha mesmo sendo eu uma escritora intimista, arisca em busca da fuga das palavras que me trazem sentido, sem uma bandeira forte que me projete no mundo para fluir com mais facilidade.
Mas é assim que me faço com os tons do instinto, divino e humano em sintonia com vibrações semelhantes que vou atraindo pelo caminho. Neste espaço transparente onde revelo sentimentos, emoções, sensações da pele, vulnerabilidades, incoerência, flutuações me basto. Sou fiel a trilha estreita que me foi confiada pela vida, crio assim um vácuo seguido pelos ardorosos que vêm em mim a parceria possível de amor e libertação. Arrisco em atalhos e quebradas insuspeitáveis. Desafio a lógica e o bom senso porque o que me leva a despeito de tudo e de todos é essa inquietude, esta intuição sussurrante em meus ouvidos, as frases que vão se formando, me tomando e me movimentando.
Sou uma estrela capturada em uma redoma de tela virtual. De luz intensa vivo me autoconsumindo em fogo. O brilho depois se torna em cinzas congeladas, ressurge em tímidas fagulhas e se recria sem falsificações. E quanto mais me vejo mais enigmática me torno. Avanço porque há muito a se fazer neste caminho de vazios. Sou uma promessa de acontecer confinada em artifícios da blogosfera. Guardada no armário como se fosse traje comum, eu e meu visual cenográfico, meu figurino de estrela, minha bagagem de letras, razões e sentimentos.
Existem lugares no mundo que posso dizer, lá é lindo! Existem pessoas em mim que me tornam maior, bonita, melhor. Existem espaços amplos e ocos para preencher com ar livre e arte.
Existe palpitação por fatos legítimos, almas sinceras e límpidas verdades. Existe e tenho certeza o Amor que busca por mim na louca corredeira do destino.
Existem lugares de paisagem linda, pessoas generosas, almas bondosas que me cercam em abraço abençoado.
Existem seres de mergulho que me cativam pelo conhecimento.
Sou só, descontrolada e viva, senhora de mim em um leilão fictício a espera de lances que me levem a bater o martelo. Uma obra aberta, um trabalho sem fim. Canelas finas em frágil estrutura, de imagem difusa, ficção em sonâmbulos cenários escancarado a vida, para poucos que veem.
- Onde haverá salvação neste mundo de vozes que se acumulam em verbos irados, em almas que se desfazem sem propósito, sem sentido, na voracidade pelo poder?
- Onde?
- Onde há espaço para o afeto?
- Onde está o simples e o verdadeiro neste amontoado de plástico?
- Onde, se entendo por salvação a liberdade, o ânimo, a compaixão, a paz dinâmica, a criação e a dignidade humana que não só o dinheiro confere?
Cristina Siqueira
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