Foto: Bruno Ducatti |
16/12/2022 | O Conservatório de Tatuí -- instituição da Secretaria de Economia Criativa do Estado de São Paulo, gerida pela Sustenidos Organização Social de Cultura e considerada a maior escola de música e artes cênicas da América Latina -- contará com obra do artista visual Denilson Baniwa, responsável por pintar quatro faces de empenas do prédio da Unidade 2, que fica na Rua São Bento.
Baniwa cria seus trabalhos a partir de referências de seu povo assim como de outras cosmologias indígenas da América do Sul. Mescla referências tradicionais e contemporâneas destas culturas, além de suas lutas. Para o Conservatório de Tatuí, Denilson criou a pintura Constelações, uma resposta a obra da naturalista e ilustradora científica Maria Sibylla Merian, de Frankfurt.
Denilson diz que “as obras de Merian retratam a metamorfose dos animais, seguindo vários estágios da vida de insetos, aracnídeos e outros em uma relação direta com plantas, rochas e solo. Seu trabalho é muito importante para pensarmos sobre as relações de troca e mudança que tornam possível a continuidade da vida. Ao contrário da maioria dos artistas de seu tempo, ela estava preocupada em documentar a vida em transformação, nos estágios de mudança dos seres. Em contraste com Maria Sibylla Merian, o meu trabalho pretende dar um vislumbre de uma relação diferente com a vida, compreendendo o visível e o invisível. Na cosmologia Baniwa, os seres que se transformam e mudam de forma são importantes para a continuidade da vida na Terra”. Em 2021 Denilson criou a obra Autorretrato, para a empena de incríveis 30 metros de altura, no Condomínio Edifício Rosemarie, localizado no coração do centro de São Paulo, no Elevado Costa e Silva, conhecido como Minhocão. A pintura fala sobre um jovem Baniwa que chega na cidade e descobre novos mundos para explorar. “Trazer a cosmologia Baniwa para o mural, é para que esses seres possam aparecer e cumprir seu propósito de polinizar memórias e transformar florestas, significa compartilhar um pouco de mundos indígenas e sua cosmologia”, complementa.
A obra faz parte da ação do Conservatório de Tatuí de convidar artistas visuais para criarem e executarem murais artísticos nas empenas da Sede e Unidade 2. De acordo com Antonio Salvador, gerente artístico e pedagógico de artes cênicas, ações como esta contribuem para a democratização da arte, além de destacar a arte brasileira. “A presença de artistas como o Denilson Baniwa é um grande passo na direção de alinhar a escola com criações e discussões contemporâneas e urgentes na arte e na vida brasileira e mundial. Neste caso, não é só a presença, a passagem dele; é o Conservatório criando condições para que um artista desta importância possa criar uma obra na Escola, transformando a arquitetura da Unidade 2 do Conservatório e de seu entorno. É um chamado à responsabilidade de repensarmos o quê, de fato, no Brasil de hoje, um Conservatório deve preservar. Já é visível que a energia do lugar é outra, desde o início da pintura as pessoas que passam não param de fotografar, perguntar e se emocionarem. Tatuí ganhou uma grande obra de arte a céu aberto, um pouco do céu Baniwa hoje também está em Tatuí”, reforça.
Denilson é dos mais importantes artistas visuais brasileiros da atualidade, com reconhecimento internacional que, a partir do Movimento Indígena Amazônico, transita pelo universo não-indígena e seus processos artísticos. Em sua trajetória consolida-se como referência, rompendo paradigmas e abrindo caminhos ao protagonismo dos indígenas no território nacional. No Brasil já expôs no MASP -- Museu de Arte de São Paulo, MAR -- Museu de Arte do Rio, Centro Cultural Banco do Brasil, Pinacoteca do Estado de São Paulo e participou de algumas Bienais, com destaque para a 34ª com o Pavilhão Indígena, entre outros espaços. Em 2022 foi curador da exposição Nakaoda, no MAM Rio. Nos últimos anos, Denilson tem ocupado espaços que vão de exposições a residências artísticas em vários lugares do mundo como Canadá, Estados Unidos, França e Austrália. Entre as premiações, venceu duas vezes o Prêmio Pipa (2019 e 2021), a maior condecoração da arte contemporânea do Brasil e em 2014, como ilustrador, recebeu o Prêmio Festival Festas de Lisboa.
Além de Baniwa, o Teatro Procópio Ferreira receberá a pintura do Diego Dedablio, artista plástico de Tatuí e região. As pinturas já se iniciaram e ficarão prontas em breve.
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