sábado, 15 de outubro de 2022

poema | Cristina Siqueira


Senhora
de dor entrevada
olhos baços de vida
Boca em ladainha
reza o rosário dos dias
dedos brandos
De Aves-Marias
Pai Nosso
Salve Rainha
Lá fora dorme seu cão
do jardim de avencas
Colhe flores em buquê
Na mesa de canto
a santa das causas impossíveis
um vaso pequeno
com três rosas frescas
copo d’água para fluir
o romance de Isabel Allende
Dobrado na página 127
Óculos
Celular
Cobre-se de saudade
fala de si para si
retrato do olvido
ordálio que se entranha
No travesseiro macio
sombra do perfume amigo
esquivo desejo do corpo
O tempo que torna tudo antigo

Cristina Siqueira





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