Na água de Tatuí foram encontrados Ácidos haloacéticos total (Subprodutos da desinfecção) acima do limite de segurança; pesquisa abrange os anos entre 2018 e 2020.
Gabriel Kazuo, no Correio do Interior, com edição do DT
Foto - Ilustração Manchete
08/03/2022 | O Mapa da Água, criado pela entidade Repórteres Brasil, mostra um dado alarmante sobre a qualidade da água no Brasil.
Segundo ele, cerca de 763 cidades apresentam produtos químicos nocivos na água, e entre as citadas estão Tatuí e Sorocaba.
A pesquisa foi feita com base nos anos de 2018 a 2020, no entanto, não sofreu atualizações em 2021.
Detecções ACIMA DO LIMITE DE SEGURANÇA na água de Tatuí (SP) entre 2018 e 2020:
Substância que também gera riscos à saúde:
Ácidos haloacéticos total (Subprodutos da desinfecção)
Os ácidos dicloroacético, tricloroacético, bromoacético e dibromoacético são classificados como possivelmente cancerígeno para humanos pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), órgão da Organização Mundial da Saúde. Em altas concentrações, os ácidos haloacéticos também podem gerar problemas no fígado, testículos, pâncreas, cérebro e sistema nervoso. Os ácidos haloacéticos são classificados como subprodutos da desinfecção, formado quando o cloro é adicionado à água para matar bactérias e outros microorganismos patogênicos.
Todas as substâncias químicas e radioativas listadas nesta página oferecem risco à saúde se estiverem acima da concentração máxima permitida pelo Ministério da Saúde. Elas foram detectadas ao menos uma vez na água que abastece este município entre 2018 e 2020.
Quando essas substâncias estão acima do limite, a água é considerada imprópria para o consumo. Nesses casos, as instituições de abastecimento deveriam informar a população sobre o problema, assim como sobre as medidas tomadas para resolvê-lo. Leia mais nas reportagens do especial Mapa da Água.
Para facilitar o entendimento sobre os riscos dos casos de contaminação, a Repórter Brasil criou uma divisão entre as substâncias, separando-as em dois grupos de periculosidade:
As “substâncias com os maiores riscos de gerar doenças crônicas, como câncer” são as que têm maior evidência de risco à saúde. Elas são listadas como “reconhecidamente” ou “provavelmente” cancerígenas, disruptoras endócrinas (que desencadeiam problemas hormonais) ou causadoras de mutação genética. Essas classificações de risco são da Organização Mundial da Saúde ou das agências regulatórias da União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Austrália (links na descrição de cada substância).
Já o segundo grupo “substâncias que geram riscos à saúde” reúne todas as outras que também oferecem risco, segundo a literatura internacional e o Ministério da Saúde. Entre elas estão as "possivelmente" cancerígenas", além das que podem causar doenças renais, cardíacas, respiratórias e alteração no sistema nervoso central e periférico.
Os critérios para fixar os limites de segurança para cada substância na água são do Ministério da Saúde, assim como a lista de substâncias que devem ser testadas na água de 2 a 4 vezes por ano.
Os riscos são maiores para quem bebe a água imprópria de forma contínua, ou seja, diversas vezes ao longo de meses ou anos. Casos em que a mesma substância aparece acima do limite nos três anos analisados (2018, 2019 e 2020) foram destacados com o alerta máximo no topo da página.
Os testes são feitos pelas empresas ou órgãos de abastecimento e enviados ao Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano), banco de dados do Ministério da Saúde que reúne informações de todo o país.
Metodologia de pesquisa
Diversos pesquisadores analisaram a qualidade da água de todas as cidades brasileiras, e encontraram irregularidades em 763 delas.
Em outras palavras, os principais problemas são o excesso de substâncias químicas potencialmente perigosas para o corpo humano.
No entanto, essas substâncias se encontram no próprio sistema de purificação da água, nas estações de tratamento.
Por exemplo, em São Roque, os pesquisadores registraram traços de agrotóxicos na água que vai para a população.
Já em Ibiúna, foram encontrados resquícios de chumbo, cromo e nitratos, que em excesso podem causar sérios problemas para o nosso organismo.
Mesmo assim, vale a pena ressaltar que, até o momento, nenhum caso de intoxicação foi registrado.
Mas, por que isso ocorre?
De acordo com a entidade, esse problema ocorre quando há uma falha no tratamento de água, pela entidade reguladora.
Logo, algumas substâncias usadas na purificação da água, acidentalmente, passam do filtro, e vão parar nas casas das pessoas.
Região de Sorocaba tem a situação mais grave no Brasil
De todas as cidades brasileiras, a que mais chama a atenção são as das regiões de Sorocaba, bem como Campinas e ABC paulista.
Conforme o mapa da Água, a maioria das cidades da nossa região apresentam problemas no tratamento de água, com excesso de substâncias tóxicas.
Tirando Sorocaba, Mairinque e Capela do Alto, por exemplo, a lista de cidades com problemas incluem:
Tatuí
Itapetininga
Jundiaí
Boituva
Porto Feliz
Itu
São Roque
Araçariguama
Ibiúna
Por fim o Estado de SP é recordista no número de cidades com problemas no tratamento de água.
RESPOSTAS DA SABESP
RESPOSTA 1 DA SABESP:
A Sabesp informa que a água fornecida cumpre a legislação para potabilidade da água: Anexo XX da Portaria de Consolidação nº 5, alterado pelas Portarias GM/MS nº 888/21 e nº 2472/21 do Ministério da Saúde. Visando garantir sua qualidade, a Companhia monitora continuamente, conforme exigências do ministério, todas as etapas do sistema de abastecimento, desde o manancial, onde é feita a captação da água, as estações de tratamento, as redes de distribuição até o cavalete na entrada do imóvel dos clientes. Sempre que anomalias são constatadas, são tomadas as providências necessárias visando a regularização da situação.
Conforme a legislação, o “padrão de potabilidade de subprodutos da desinfecção deve ser verificado com base na média móvel dos resultados das amostras analisadas nos últimos doze meses”. Essa avaliação deve ser feita para cada sistema produtor, levando em conta seu histórico completo. Os dados apresentados pela reportagem mostram resultados pontuais, levando à conclusão equivocada de que certos sistemas não atendem aos padrões.
Também não há ocorrências de 2,4,6 Triclorofenol em concentrações acima do limite permitido. Nos 14 ensaios trimestrais realizados desde janeiro de 2018, os maiores valores encontrados foram de 0,00108 mg/L em Torre de Pedra e 0,00129 mg/L em Anhembi, muito abaixo do limite de 0,2 mg/L. As duas ocorrências pontuais citadas foram registros lançados no Sisagua em 2018, quando os dados eram reportados pela Sabesp às Vigilâncias Sanitárias. Estas faziam a digitação no sistema, o que pode ter levado a erro. Desde janeiro de 2019, a Companhia envia os resultados de forma eletrônica diretamente para o Sisagua, o que evita falhas de digitação.
O cloro é o agente desinfetante mais utilizado no processo de tratamento de água no Brasil, e a manutenção de um residual na rede de distribuição é uma exigência da legislação (art.32 do capítulo V da Portaria de Potabilidade). Assim, é esperado que, eventualmente, ocorra a presença de subprodutos da desinfecção em maior ou menor concentração, variando de acordo com as condições climáticas e com a composição da água a ser tratada. Devido a essa esperada ocorrência, é que se exige o monitoramento constante e a avaliação da qualidade da água é feita considerando-se a média móvel dos resultados históricos. A aplicação de cloro é feita pela Sabesp conforme a Portaria de Potabilidade, que estabelece a concentração “em toda a extensão do sistema de distribuição (reservatório e rede) e nos pontos de consumo” de no máximo de 5 mg/L. Os resultados do monitoramento permanente não acusam valores acima desse limite.
RESPOSTA 2 DA SABESP:
Com relação ao questionamento sobre a referência ao uso da média móvel anteriormente a 2021, esclarecemos que, embora a versão anterior do Anexo XX da Portaria de Consolidação nº 5/2017 do Ministério da Saúde, não especificasse a metodologia que deveria ser utilizada para avaliação dos resultados analíticos, desde 2011 essa Portaria de Potabilidade tem sido enfática, com o devido cuidado de frisar em dois trechos desse mesmo instrumento legal, a saber no §3º de seu art.39 e no §6º de seu art.41, que “eventuais ocorrências de resultados acima do VMP devem ser analisadas em conjunto com o histórico do controle de qualidade da água e não de forma pontual”.
Como a média móvel tem sido uma ferramenta apropriada, tradicionalmente indicada para avaliações de tendências históricas, mesmo antes de ter se tornado uma metodologia expressamente exigida, já a temos adotado para o tratamento de dados oriundos de monitoramentos.
Assim, a determinação da média móvel pela portaria vigente para essa avaliação terminou por consagrar como assertiva a conduta que já vínhamos adotando em anos anteriores para esse fim.
Seguem anexos arquivos com os dados solicitados de 2018 referentes ao município de São Paulo.
Esclarecemos também que os dados de controle de qualidade da água para consumo humano são inseridos diretamente no SISAGUA em atendimento à Resolução SS 65/2016, que estabelece as competências e procedimentos para a vigilância e o controle de qualidade no Estado de São Paulo e estão disponíveis no Portal Brasileiro de Dados Abertos (dados.gov.br). Além disso, informações sobre os parâmetros básicos na água distribuída são divulgados mensalmente nas contas mensais entregues aos clientes e na página da Sabesp ([www.sabesp.com.br]www.sabesp.com.br).
RESPOSTA 3 DA SABESP:
1. Desde que ano utilizam o valor da média móvel para o tratamento de dados oriundos de monitoramentos?
2. Quais foram as médias móveis utilizadas em 2018, 2019 e 2020?
Resposta: A partir da publicação da portaria em 2011 que estabeleceu que “eventuais ocorrências de resultados acima do VMP devem ser analisadas em conjunto com o histórico do controle de qualidade da água e não de forma pontual”, a Sabesp buscou formas para efetivar essa análise considerando o histórico dos resultados, evoluindo progressivamente de uma análise mais qualitativa para uma análise mais quantitativa, que passou por uma avaliação de médias móveis de alguns anos e, mais recentemente, com a publicação da nova Portaria em 2021, para a média móvel de 12 meses. Antes da publicação da nova Portaria, em 2021, essa era uma forma de avaliação utilizada apenas internamente pela Sabesp e não temos como precisar a partir de que ano adotamos a média móvel para essa avaliação interna e não temos como disponibilizar as médias móveis dos anos solicitados pois esse critério não era formalmente estabelecido antes da publicação da nova portaria. De qualquer forma, os resultados dos ensaios estão disponíveis no Portal Brasileiro de Dados Abertos (dados.gov.br).
3. Por que a Sabesp não divulga de forma ativa os resultados da avaliação da qualidade da água?
Resposta: Com relação à divulgação dos resultados de forma ativa, conforme esclarecido anteriormente, os dados de controle de qualidade da água para consumo humano são inseridos diretamente no SISAGUA em atendimento à Resolução SS 65/2016, que estabelece as competências e procedimentos para a vigilância e o controle de qualidade no Estado de São Paulo e estão disponíveis no Portal Brasileiro de Dados Abertos (dados.gov.br). Além disso, informações sobre os parâmetros básicos na água distribuída são divulgados mensalmente nas contas mensais entregues aos clientes e na página da Sabesp ([www.sabesp.com.br]www.sabesp.com.br).
4. Me informaram que a companhia envia ao final do ano um comunicado aos consumidores caso haja alguma alteração na água. Poderiam me enviar uma cópia dos documentos enviados em 2018, 2019 e 2020?
Resposta: Em atendimento à legislação, além das informações fornecidas mensalmente aos clientes nas contas de água, a Sabesp disponibiliza anualmente aos clientes um resumo dos resultados do controle de qualidade (entre outras informações) por município, que podem ser acessados no site da Sabesp na Internet: http://site.sabesp.com.br/site/interna/Default.aspx?secaoId=253
5. Na resposta enviada, a Sabesp dá a entender que os dados encaminhados aos Sisagua podem apresentar erro. Sendo assim, conseguem me enviar os resultados de todas as substâncias monitoradas dentro do período para que eu posso fazer a checagem? Pedimos que enviem, preferencialmente, no mesmo formato como é declarado no Sisagua. Se isso não for possível, em formato transparente que permita à reportagem acessar e entender todos os resultados (dados sobre cada ponto de captação, com data, LQ, LD e Valor quantificado).
Resposta: Conforme informado anteriormente, apenas alguns resultados pontuais referentes ao ano de 2018, lançados no SISÁgua pelas Vigilâncias Sanitárias, apresentam erros de digitação. A partir de janeiro de 2019 a Sabesp passou a enviar os resultados de forma eletrônica diretamente para o SISÁgua, sem passar pela digitação das VISAs Municipais, o que evita a recorrência de tais falhas nos lançamentos.
Em atendimento à solicitação anterior, já foram encaminhados os resultados dos parâmetros dos subprodutos de desinfecção (THM, HAA e 2,4,6 Triclorofenol) de 2018 do município de São Paulo.
6. O sistema de água de São Paulo é dependente de água superficial?
Resposta: Em tese sim, na RMSP a Sabvesp conta com os Sistemas Produtores Guarapiranga, Cantareira, Alto Tietê, Rio Claro, Ribeirão da Estiva, Rio Grande, São Lourenço e Cotia. Todos eles são captações de água superficial em rio ou represa.
7. Daria para fazer uma transição para água subterrânea? Teriam benefícios?
Resposta: Cada região do Estado de São Paulo apresenta suas características e, portanto, cada qual com suas fontes de disponibilidade hídrica. A Sabesp avalia e utiliza a matriz mais adequada, ou seja, água superficial ou subterrânea.
8. Quais os principais desafios na captação e distribuição da água de São Paulo? O principal problema é o esgoto e poluição dos rios?
Resposta: A RMSP é complexa pelo seu tamanho e população envolvidos. A Sabesp está sempre aprimorando e inovando para encontrar alternativas que aumentem a resiliência dos sistemas de abastecimento na Região Metropolitana de São Paulo, buscando ações e criando medidas estratégicas para manter o abastecimento público. Podemos citar aqui o Sistema São Lourenço, a interligação Jaguari Atibainha e outras obras no SIM – Sistema Integrado da Metropolitana.
RESPOSTA 4 DA SABESP:
A média móvel de Trihalometanos para o Sistema Guarapiranga, considerando o histórico de resultados encerrado em 2020, foi de 0,086 mg/l, ficando abaixo do VMP, que é de 0,1mg/l, o que não demandou medidas corretivas nem alertas para a população.
RESPOSTA 5 DA SABESP:
O resultado corresponde ao final de 2020 com base nos resultados publicados no SISAGUA e disponíveis no Portal Brasileiro de Dados Abertos (dados.gov.br).
Conforme já esclarecido anteriormente, só a partir da publicação da nova portaria, em maio/21, é que foi estabelecida a regra de média móvel de 12 meses para a análise “em conjunto com o histórico do controle de qualidade da água e não de forma pontual”. As avaliações anteriores à publicação dessa nova portaria não tinham uma regra objetiva estabelecida. E a Sabesp buscou formas para efetivar essa análise internamente considerando o histórico dos resultados, evoluindo progressivamente de uma análise mais qualitativa para uma análise mais quantitativa, que passou por uma avaliação de médias móveis de alguns anos. Assim, anteriormente não havia uma metodologia objetiva estabelecida que possamos detalhar e que tenha sido aplicada a todos os sistemas nos anos anteriores, quando também sempre houve uma análise qualitativa envolvida.
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