Paulo de Oliveira Leite Setúbal nasceu em Tatuí no dia 1º de janeiro de 1892. Filho de Antônio de Oliveira Leite Setúbal e Tereza Nobre Setúbal, iniciou os estudos na escola particular de Chico Pereira, onde, depois, também frequentou o Grupo Escolar. Fez o Ginasial no Ginásio Nossa Senhora do Carmo, em São Paulo. Formou-se, em 1914, como bacharel em Direito, em São Paulo. Na época, seus poemas já haviam sido publicados na primeira página do jornal “A Tarde”.
Em sua juventude, com saúde debilitada, procurou repouso em Tatuí e, posteriormente, em Campos do Jordão. A pandemia da gripe espanhola, que atingiu o mundo entre 1918 e 1919, acometeu de forma séria a saúde do escritor tatuiano; o organismo, porém, reagiu e ele pôde entregar-se às letras, seguindo sua vocação de poeta e historiador. Escritor desde os primeiros tempos de estudante, colaborou em quase todos os jornais e revistas literárias da época, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Escrevia notadamente para a revista paulistana “A Cigarra”. Entre os jornais que contaram com sua colaboração mais assídua, figuram o “Diário Popular”, o “Estado de São Paulo” e o “Jornal do Comércio”.
A jornada literária do escritor Paulo Setúbal ocorre em 1920, com a publicação de seu livro de poesia “Alma Cabocla”, composto de vários poemas com linguagem simples de sua terra natal, cuja edição, de 3 mil exemplares, esgotou-se em um mês.
Setúbal dividiu sua obra em 4 capítulos: “Minha Terra” (10 poesias); “Moita de Rosas” (12 poesias); “Flocos de Espuma” (13 poesias); e “Sertanejas” (5 poesias). No capítulo “Minha Terra”, a primeira poesia, curiosamente chamada “De Volta…”, é possível sentir na alma a emoção de quem volta à sua terra e à sua gente, tamanha é a perfeição da descrição. A comunhão com o campo é tão intensa que pode ser percebida, por exemplo, no seguinte verso: “Que alegria vegetal!”. Já no capítulo “Moita de Rosas”, a poesia “Os Quinze Anos – Essa fase da vida”, é cantada em verso por Paulo Setúbal. Segundo ele, “aos quinze anos, tudo nos sorria”, e por aí vão as lembranças e as aventuras de um beijo roubado. A jovialidade feminina, que, nessa idade, tem um pouco de menina e um pouco de moça, está retratada na poesia intitulada “Quinze Anos”. No capítulo “Flocos de Espuma”, a poesia “Sinhá Anna” mostra uma velhinha muito querida por todos; o poema fala sobre a saudade que sente dela e de algumas lembranças, como do lugar em que ela vivia e que sempre lhe trazia broinhas fresquinhas. No capítulo “Sertanejas”, “Nelas” a faceta original do poeta é marcante, a vivência interiorana é descrita nos versos com muita intensidade.
“Alma Cabocla”, de Setúbal, é considerada fantástica, suas poesias são bastante descritivas, trazem uma linguagem fácil e fazem a imaginação do leitor viajar por sua terra natal, como se realmente estivesse presente. O interessante em suas poesias é que ele sempre romantiza a vida no campo e apresenta a vida urbana como um lugar de preocupações e de caos, levando o leitor a impressão de que se ele pudesse, voltaria de vez para aquelas terras.
Entre 1925 e 1935, publicou vários romances históricos, entre eles: “A Marquesa de Santos”, “O Príncipe de Nassau” e “A Bandeira de Fernão Dias”. Trabalhou como colaborador do jornal “O Estado de S. Paulo”. Foi deputado estadual, renunciando ao mandato por ter agravada sua tuberculose. Publicou, nos anos seguintes, livros de contos, crônicas e memórias. Poeta vinculado à estética parnasiana, Paulo Setúbal tematizou em seus versos a vida dos camponeses, dos caboclos do interior de São Paulo. Pela escolha do tema, na época foi chamado de “poeta regional”.
Em 22 de junho de 1922, casou-se com Francisca de Souza Aranha, filha do senador Olavo Egydio Aranha, com quem teve três filhos: Olavo Egydio (ex-prefeito de São Paulo), Maria Vicentina e Terezinha. O casamento aumentou-lhe a segurança e a prosperidade. Sua esposa foi, além de companheira em um lar feliz, a inspiradora, a secretária, a revisora de suas obras, de quem passou a ser, sempre, a primeira leitora, a crítica e a confidente.
Setúbal foi, em meados dos anos 1920 e nas décadas de 1930 e 1940, um dos escritores mais populares do Brasil, especialmente por seus romances históricos – gênero quase abandonado atualmente. Seus livros, cujas capas foram assinadas por J.Wast Rodrigues, um dos maiores artistas gráficos, prenunciavam os modernos best sellers e, alguns, foram traduzidos para outras línguas. Setúbal escreveu, além do livro de poesias “Alma Cabocla”, o livro de memórias “Confiteor”.
O escritor foi eleito no dia 6 de dezembro de 1934 e tomou posse em 27 de julho de 1935, sendo recebido pelo acadêmico Alcântara Machado, para ocupar a cadeira 31 da Academia Brasileira de Letras, antecedida por João Ribeiro.
Paulo Setúbal faleceu em São Paulo, no dia 4 de maio de 1937. Neste mesmo ano, segundo o livro “Memórias de Tatuí e do Lar São Vicente de Paulo”, de Dom José Melhado Campos – que descreve o mês de maio de 1937 -, em uma aula de Português no então Ginásio Estadual de Tatuí, o professor e poeta José Lannes faz um comentário sobre a recente morte de Paulo Setúbal e pede um minuto de silêncio; todos emudecem, comovidos. E, na cabeça do jovem Nilzo Vanni passa-se uma ideia temerária: reunir em um Museu todos os pertences do poeta desaparecido.
Com esse sentimento enlutado de Nilzo Vanni, surge a vocação principal do Museu Histórico “Paulo Setúbal”: salvaguardar a história de Tatuí e dos tatuianos. Em consequência de sua vocação, o escritor tatuiano Paulo de Oliveira Leite Setúbal, imortalizado pela Academia Brasileira de Letras, tornou-se o patrono do Museu Histórico, cujo acervo ocupa o edifício centenário da Praça Manoel Guedes, nº 98. Sendo Paulo Setúbal, ilustre filho da terra, o Museu, cumprindo sua vocação, realiza a salvaguarda de sua vida e de suas obras, promovendo, anualmente, a Semana que tem o seu nome.
(Texto do Departamento de Comunicação da Prefeitura de Tatuí)
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