sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Médico tatuiano morto em assalto comemorava formatura da filha

Família detalhou ao G1 como foi o latrocínio do infectologista Rodolfo Enrique Postigo Castro, no Guarujá, por criminosos armados.

Por Júlia Nunes, G1 Itapetininga, com edição do DT

Médico comemorava formatura da filha com viagem — Foto: Arquivo pessoal

26/08/2021 |  O médico infectologista Rodolfo Enrique Postigo Castro, que morreu durante um assalto em uma praia em Guarujá, estava viajando pela primeira vez durante a pandemia de coronavírus para comemorar a formatura da filha de 24 anos em Direito e também o aniversário dos dois.

Segundo a Polícia Civil, o médico foi abordado por duas pessoas no dia 31 de julho no píer da praia do Perequê. Os criminosos roubaram objetos e atiraram duas vezes, atingindo o infectologista no peito. Dias depois, um adolescente de 17 anos foi apreendido por suspeita de participar do latrocínio. O outro suspeito teve a prisão decretada pela Justiça.

Quase um mês após o crime, a esposa do médico, a enfermeira Magda Aparecida Codogno, contou ao G1 que tem tentado se manter forte por causa dos filhos, de 17, 24 e 28 anos. No entanto, ela disse que a família ainda está muito abalada com o ocorrido.

“Naquela semana, era aniversário do meu marido, dia 6, e da minha filha no dia 9, e ela tinha se formado em Direito há dois dias, com formatura online. Aí a gente decidiu viajar porque, em toda a pandemia, a gente não saiu de casa. Fomos para um lugar que tivesse menos gente e escolhemos a praia para descansar porque o Rodolfo estava trabalhando demais, chegou a ficar 48 horas seguidas em UTI”, lembra Magda.

Polícia identifica comparsa de menor e conclui que ele atirou em médico de Tatuí

Rodolfo trabalhava na UTI Covid do Hospital Unimed de Tatuí. Ao lado da filha de 28 anos, que também é médica, os dois se dividiam para cuidar dos pacientes nos plantões.

Magda contou que, em março deste ano, o médico chegou a contrair a doença, mas não teve sintomas graves e não passou o coronavírus para ninguém da família, pois ficou isolado dentro da própria casa.

“A gente tinha uma preocupação muito grande com isso. Minha filha que também é médica falava que, nos primeiros meses, não conseguia dormir pensando que o pai era mais velho e estava correndo risco. A gente tentava de todas as maneiras poupá-lo de qualquer preocupação para que a imunidade dele ficasse boa”, conta.

Com a diminuição dos casos de Covid e a necessidade de distrair a cabeça, a família decidiu fazer uma viagem ao Guarujá. Eles chegaram no litoral em 30 de julho e, no dia seguinte, foram almoçar em um restaurante porque Rodolfo estava com vontade de comer uma caldeirada.

Rodolfo atuava na linha de frente do combate à Covid-19 — Foto: Arquivo pessoal

O crime

Segundo a esposa, o crime ocorreu momentos depois, quando a família saiu do restaurante e parou para tirar uma foto da paisagem. A filha de 24 anos e o filho de 17, além da namorada do adolescente, presenciaram o crime.

“Primeiro o bandido deu um tiro na água, falando: ‘você não acredita que é de verdade?’. Depois eu entreguei tudo que ele queria, até tirei o cordão do meu pai porque acho que ele estava em choque, não sabia o que fazer. Depois que eu dei tudo, o assassino deu um tiro no coração dele, foi cruel mesmo”, lembra a filha, Paloma Teresa Codogno.

Médico de Tatuí foi morto em assalto em Guarujá — Foto: Arquivo pessoal

Já a esposa contou que não viu o marido ser baleado. Ela estava alguns metros à frente, guardando algumas coisas no carro, quando escutou o barulho dos tiros.

“Eu achei que fossem fogos de artifício, mas quando eu vi, minha filha voltou correndo, falando: ‘acertaram meu pai’. Eu cheguei no local e ele já estava caído. Eu sou enfermeira e vi que a entrada da bala era no coração. Então, nós fizemos os primeiros socorros, eu e meu filho de 17 anos que é estudante de medicina", lembra Magda.

Rodolfo morava com a família em Tatuí — Foto: Arquivo pessoal

A enfermeira contou que colocou o marido em cima de uma caminhonete e fez massagem cardíaca nele enquanto um morador os levava até a UPA. Apesar dos esforços, Magda contou que Rodolfo já chegou sem vida ao hospital.

“Eu penso ainda que é um sonho. Não consegui tirar nada do meu marido de casa porque eu acho que é um sonho, que ele vai voltar a qualquer momento. Eu não estou acreditando que isso está acontecendo.”

Justiça

Nesta terça-feira (24), a Polícia Civil informou que identificou o comparsa do adolescente que foi apreendido por suspeita de envolvimento no latrocínio do infectologista.

De acordo com a Polícia Civil, após o depoimento do menor e novas diligências, foi identificado que, na verdade, o comparsa de 20 anos era quem estava na garupa da moto e foi quem atirou contra a vítima. No entanto, ele segue foragido.

Adolescente se entregou à polícia em Guarulhos, SP — Foto: Addriana Cutino/G1

“Eu não vou falar que é justiça porque, por um deles ser menor, infelizmente o nosso código é muito falho porque ele só pode ficar até três anos na prisão. Mas foi um sentimento de que, em pelo menos três anos, outras famílias vão estar salvas”, conta a filha.

“Mas a gente ainda espera que o outro agente desse crime, que ainda não foi capturado, seja preso também, no mínimo, porque meu pai não vai voltar, mas a gente espera que o mínimo de justiça seja feito para evitar que isso aconteça com outras famílias", continua.

Infectologista foi morto em Guarujá — Foto: Arquivo pessoal

Carinho e união

A família de Rodolfo também contou ao G1 que recebeu muitas mensagens de carinho dos moradores de Tatuí após a morte do médico. Pacientes e colegas de trabalho encheram as redes sociais do infectologista com depoimentos de pesar.

“Acho que toda família de Tatuí teve alguém atendido esse ano pelo Rodolfo. Eu estou recebendo na caixinha do correio muitas cartinhas de paciente, oração. Eu recebo todo dia mensagens de solidariedade, então isso conforta um pouco a gente, saber que ele salvou tantas vidas", conta Magda.

Morte de médico causa comoção em Tatuí — Foto: Rep/Facebook

Na segunda-feira (30), a esposa do médico informou que está prevista a inauguração de um Caps em Tatuí com o nome de Rodolfo.

“Agora que estava com a vacina e tudo, a gente estava comemorando. Eu falava pra ele diminuir os plantões, mas ele era um dos mais velhos, experientes. Ele achava que era um dever dele estar na linha de frente.”

Família de Tatuí foi assaltada em Guarujá — Foto: Arquivo pessoal

Ela disse ainda que os filhos estão passando por atendimento psicológico para lidar com a morte do pai e que a filha mais velha, que estava com o casamento marcado para outubro, quer desistir da cerimônia por não poder ser levada pelo médico ao altar.

“Pra gente, por enquanto, está 'meia justiça'. Precisa da justiça completa porque não foi um bandido só. Então que seja feita a justiça porque ele não merecia morrer, muito menos de uma forma tão brutal como foi. E nós estamos aqui, bem unidos. Queremos dar pra ele o mesmo orgulho que ele deu pra nós", completa Magda.

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