Del Bem, da Universidade Federal de Minas Gerais, sugeriu a realização de uma pesquisa sobre os anticorpos que a população da cidade tem, para saber mais acerca da ameaça futura, além de se fazer uma vigilância genômica.
Audiência Pública | Beatriz Lauerti,com edição do DT
Audiência Pública - Surto de Dengue em Tatuí em ambiente virtual. Foto: Reprodução Rede Alesp |
02/07/2021 | Audiência pública realizada nesta quinta-feira (1º/7) em ambiente virtual abordou o surto de dengue no município de Tatuí e discutiu possíveis medidas de combate. Apenas neste ano, a cidade registrou mais de 20 mil casos da doença. A atividade foi organizada pela deputada Professora Bebel (PT) e sua equipe.
O objetivo do encontro foi entender as causas desse surto, assim como os impactos dele, além de debater possíveis soluções para mitigar o problema e promover a prevenção da dengue.
Participaram do evento os professores Luiz Eduardo Vieira Del Bem e João Trindade Marques, ambos da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais); Jayme Augusto de Souza Neto, da Unesp de Botucatu; José Henrique Maia Campos de Oliveira, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina); e o vereador de Tatuí Eduardo Sallum (PT).
O vereador Eduardo Sallum expôs algumas hipóteses de como esse surto se iniciou. "A campanha de conscientização em relação à dengue foi muito tímida na cidade, as ações paliativas foram feitas já em meio ao surto, como por exemplo a coleta de materiais sem utilidade do domicílio das pessoas, e nebulização para diminuir a população de mosquitos. Quando fiz requerimento questionando a prefeitura sobre um planejamento, a resposta foi que as ações não foram realizadas mediante mapeamento prévio e sim de maneira arbitrária".
Sallum ainda comentou outras possíveis causas. "Nós estamos no meio de uma pandemia e isso resultou na diminuição de funcionários na fiscalização da dengue pois estavam cumprindo tarefas em relação à Covid-19. Outra questão é que como as pessoas estão mais em casa, acabam aproveitando para realizar reformas e as sobras de materiais de construção ficam acumuladas nos quintais, podendo se tornar focos da proliferação dos mosquitos".
O docente da UFMG, João Trindade Marques, evidenciou mais fatores que podem ser relevantes para compreender o aumento de diagnósticos. "Saber onde os mosquitos estão se concentrando, ter os dados epidemiológicos, a estratificação socioeconômica dos casos para saber se teve uma concentração em alguma área, condição social ou idade que possa nos ajudar a entender esse surto".
O professor da Unesp Botucatu, Jayme Augusto de Souza Neto, comentou sobre a transmissão da doença e a importância do mapeamento dos casos para desenvolver medidas de combate. "Um ponto importante em termos de dados é saber onde os mosquitos estão se concentrando. Para isso, precisa de mapeamento. É necessário cruzar as informações de onde exatamente estão os mosquitos e onde estão os casos. A transmissão vai ocorrer onde estão as pessoas, nas áreas urbanas", disse.
O professor Luiz Eduardo Vieira, também da UFMG, destaca a necessidade de vigilância genômica para a saúde pública da população. "O vírus interage com o mosquito, então os genes que ele carrega interferem no resultado final. Como a gente não tem informações que permitam a gente acessar qual o genótipo dos mosquitos que estão circulando nem conhecimento dos dados genômicos do vírus, a gente não consegue entender esse resultado final. A gente precisa de sequenciamento dos vírus, pois podem haver genótipos que podem ajudar a entender o que está acontecendo, com importância para a saúde pública geral do estado e do país", falou.
João Trindade também comentou sobre reincidências do surto, possibilidades de casos de dengue hemorrágica e risco de mortalidade. "Altas de dengue hemorrágica são vistas em países nos quais a doença é endêmica, onde o vírus circula regularmente. A questão da letalidade ser maior ou menor, depende da combinação de sorotipos que vão circular. Existem sim combinações que resultam em uma mortalidade maior. Porém, Tatuí tem um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) alto, o que significa que as pessoas têm uma renda média alta. Assim, isso pode minimizar as taxas de letalidade, pois a população tem maior acesso aos tratamentos médicos adequados".
O docente da UFSC, José Henrique Maia Campos de Oliveira, abordou possíveis medidas e combate e prevenção da dengue. "A forma mais eficiente é diminuir a quantidade de mosquitos, pois não tem vacina para evitar a contaminação nem antiviral para tratar os doentes. Impedir que os mosquitos se criem é uma alternativa barata. Deve-se notificar a população de que o pernilongo é transmissor da doença e isso é um problema, por meio de campanhas publicitárias que podem ser feitas pela prefeitura".
Luiz Eduardo ainda falou sobre o que o poder público pode fazer a respeito desse tema. "Nós não podemos perder a chance de investir recursos nesse caso, através do Estado e da prefeitura. Quando a dengue se estabelece nesse nível como ocorreu em Tatuí, ela não desaparece. Nós temos um risco epidemiológico futuro alto, com aumento de diagnósticos graves e mortes pela doença, o que é recorrente na reinfecção pela dengue. Deveríamos partir para novas tecnologias e não apenas matar os mosquitos. Temos que impactar a capacidade dele de transmitir. Seria interessante ainda a realização de uma pesquisa sobre os anticorpos que a população da cidade tem, para saber mais acerca da ameaça futura, além de se fazer uma vigilância genômica não só no município, mas no país todo, para sequenciar as amostras e identificar detalhes. Acho que chegou a hora e a gente tem toda a condição de fazer isso".
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