Um texto, de Paulo Setúbal sobre sua mãe, calou fundo no meu peito
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Um texto, naquela distante época, do escritor Paulo Setúbal sobre sua mãe calou fundo no meu peito. Quando criança, Paulo foi acometido de um mal e havia a necessidade de ser curado em Campos de Jordão. De família humilde, sem recursos, sua mãe não vacilou um só instante. Vendeu sua aliança de ouro do casamento. Paulo Setúbal tornou-se então um grande escritor. Seus textos ternos, empolgantes, alegres ou tristes o levaram à Academia Brasileira de Letras em 1934, com apenas 41 anos de idade. Foi em sua posse acadêmica que pronunciou sincero discurso que arrematava com as seguintes palavras de agradecimento:
"Mas deixai também, meus senhores, que nesta linda hora risonha, em que as emoções mais íntimas se atropelam dentro de mim, deixai que, mal acabe de vos agradecer, eu me ausente precipitado destas galas. Sim, deixai que o meu coração voe para longe daqui, fuja para a minha estremecida cidade de São Paulo, e lá, comovido e respeitoso, penetre por um momento, muito de manso, numa casa modesta de bairro sem luxo. Nessa casa, a estas horas, nesta mesma noite, está uma velha toda branca, oitenta anos, corcovada, com o seu rosário de contas já gastas, a rezar diante da Virgem pelo filho acadêmico. Pelo filho que ela, a viúva corajosa, ramo desajudado, mas altaneiro, de família opulenta, criou, educou, fez homem - Deus sabe com que sacrifícios e com que ingentes heroísmos obscuros! Deixai pois, senhores acadêmicos, que o meu coração voe para a casa modesta de bairro sem luxo, entre no quarto do oratório, ajoelhe-se diante da velha branquinha, beije-lhe as mãos, e, na brilhante noite engalanada deste triunfo, diga-lhe por entre lágrimas: - Minha mãe, Deus lhe pague!
Em um outro conto magnífico sobre a mãe está no álbum escrito pelo bispo de La Serena, Don Ramon Angel Iara, no Chile, onde fui encontrar palavras que pudessem tocar a fundo meu coração:
"Uma simples mulher existe que, pela imensidão do seu amor, tem um pouco de Deus; e pela constância de sua dedicação, tem muito de anjo; que sendo moça, pensa como anciã e, sendo velha, age com todas as forças da juventude; quando ignorante, melhor que qualquer sábio desvenda os segredos da vida e, quando sábia, assume a simplicidade das crianças; pobre, sabe enriquecer com a felicidade dos que ama, e rica, empobrecer-se para que seu coração não sangre ferido pelos ingratos; forte, entretanto estremece ao choro de uma criancinha, e fraca, se alteia com a bravura dos leões; viva, não lhe sabemos dar valor, porque à sua sombra todas as dores se apagam e, morta, tudo que somos e tudo o que temos daríamos para vê-la de novo e dela receber um aperto de seus braços, uma palavra de seus lábios. Não exijam de mim que diga o nome dessa mulher, se não quiser, que ensope de lágrimas este álbum. Porque eu a vi passar no meu caminho. Quando crescerem seus filhos, leiam para eles, esta página, eles lhe cobrirão de beijos a fronte e dirão que um pobre viajante, em troca de um hospedagem recebida, aqui deixou para todos o retrato de sua própria mãe."
Fico hoje muito feliz em falar da mãe nestes tempos modernos. Mãe de nossos filhos, a Mãe de nossos netos, a Mãe da caridade, a Mãe dona do Lar. A sua evolução espiritual rompeu as barreiras, onde nada lhe era permitido. Não fugiu da luta, não estremeceu diante do novo rumo. O despertar da consciência política. Venceu. Meus queridos, creiam, mesmo em suas conquistas jamais uma Mãe vai deixar seus filhos entregues ao caminho solitário. Seu amor é único. Mãe não foi feita para sofrer e nem morrer. E nunca se esqueça de que foi através de sua Mãe que você veio ao mundo.
07 de Maio, 2021 às 3:02
GUARACI ALVARENGA é advogado
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