O mundo não se fez para pensarmos nele
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olho para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes tinha visto,
Eu sei dar por isso muito bem...
(O meu olhar é nítido como um girassol, Alberto Caeiro)
Em uma manhã de outono saio a caminhar pela rua, os raios solares me cumprimentam pelo reflexo de um espelho jogado na calçada, no qual vejo meus olhos nítidos como um girassol. Este por sua vez tem uma beleza em sua estrutura, suas folhas e suas pétalas. Sua estrutura faz girar conforme o sol se desloca no céu; as folhas verdes destacam toda a sua beleza; e suas pétalas amareladas dão o brilho em um campo de girassóis.
Tenho o costume de andar pelas estradas observando a paisagem, o movimento das pessoas, o zumbido das moscas e as batidas do meu coração. Tudo está em perfeita frequência! O que diferencia a paisagem é o brilho do sol, se o céu está limpo tudo fica mais colorido, reflete as cores mais vivas. Se nublado, o dia fica fúnebre, acinzentado, em meio às penumbras que surgem, algumas cores querendo mostrar que o dia tem esperanças de vidas.
Sigo meu caminho olhando para a direita e para a esquerda, vejo diferentes paisagens que compõem o mesmo cenário da vida. À direita observo senhores na praça jogando baralho às 8 horas da manhã. À esquerda pássaros à espera de migalhas que são lançadas, o café da manhã está posto, agradecem com cantos de felicidades. A mãe pega uma das migalhas e voa para o ninho, alimentar o filhote antes de se alimentar, mãe é mãe em qualquer espécie de ser vivo.
Continuo meu caminho e de vez em quando olho para trás, na intenção de que tudo que passei está distanciando, mesmo que eu queira retornar não verei as mesmas cenas vistas antes. Ao voltar não estarei retrocedendo para consertar algo que não fiz certo, sim fazemos um outro percurso, o qual temos a oportunidade de ver a paisagem de outro modo. A sombra já não é a mesma, os pássaros não são os mesmos, os velhos jogando baralho não estão na mesma jogada... é o que vejo a cada momento se quiser voltar, passa a ser aquilo que nunca antes tinha visto.
Eu sei me dar por isso muito bem, a vida nos traz surpresas a cada instante, sejam boas ou ruins. O cenário que pinta para nós deve ser visto como uma boa obra de arte. Se tudo for bom, nos alegramos, sentimos paz e nos recordamos sempre. Se for ruim, as lágrimas são comoventes, escorrem como brasas cravando o momento visto em nossa memória. No entanto, é a natureza quem dita as regras dos nossos passos enquanto tivermos vidas.
Wilson Rodrigues da Silva
Be'er Sheva – Israel, 10 de outubro de 2019
Revisão: PHEF
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