sábado, 5 de outubro de 2019

crônica | Wilson Rodrigues da Silva



Passarinho fofoqueiro


Um passarinho me contou

Que a ostra é muito fechada,

Que a cobra é muito enrolada,

Que a arara é cabeça oca,

E que o leão marinho e a foca...

Xô, passarinho! Chega da fofoca!

(O que disse o passarinho, José Paulo Paes)


Quando criança, costumávamos brincar de telefone sem fio. Na qual o primeiro da fila recebe uma informação e essa tem que chegar ao final da fila o mais original possível. Mas não sabíamos que isso era um aprendizado a respeito da fofoca, quando dita tem a tendência de modificar o teor da mensagem no final.

Muitos dos assuntos que chegavam a nós vêm com uma mensagem explícita ou implícita: “um passarinho me contou...”, deixando uma terceira pessoa em oculto. Fato que não sabemos a origem e a veracidade das palavras. Ouvida por diversas pessoas pode nos levar a ser a origem do assunto.

Quando o locutor A passa uma mensagem ao ouvinte B “que a ostra é muito fechada”, não trazendo a origem, não podemos julgá-la como verdadeira ou falsa, uma vez concordando com A, o B passa a ser uma fonte. Assim o A passará para C que a fonte de origem é em B.

C transmitirá para D “que a cobra é muito enrolada”, distorcendo a primeira informação. Pelo fato de C não ter se preocupado com a certeza dada, julgou ser relevante a ser transmitida. Confiando ser de origem verdadeira, a partir de um julgamento próprio sem dar conta de um prejuízo moral para alguém.

Como um telefone sem fio, D informará a E “que a arara é cabeça oca”, uma vez dita por B. Ao ponto que chegamos, B não é conhecedor de nada que ocorre, sendo levado a julgamentos bastante pesados como: difamação injúria e calúnia. Podendo ocorrer que um receptor F obtenha “que o leão marinho e a foca...”, são um casal? Não importa!

Mas o que leva gerar a fofoca, sendo quem iniciou foi o locutor A? Um comportamento de inveja de A –> B, o qual se deixa afetar pela vida alheia, deixando-se dominar por uma baixa autoestima. Uma vez que haja a intenção de A prejudicar B, pode ser classificado como três tipos de crimes contra à honra da pessoa como dito acima. Difamação desestabiliza a credibilidade; injúria ofende o moral e abate o ânimo da vítima; e calúnia consiste em uma imputação injusta do fato.

“Xô, passarinho! Chega de fofoca!”

Uma forma bem sabia de eliminar o mal pela raiz é utilizar as três peneiras de Sócrates. O que for dizer de alguém se é de fato verdadeiro; se existe bondade para a pessoa de quem se fala; e se tem utilidade o assunto de quem se fala.

Portanto, se o locutor não apresentar nenhuma desses três motivos, somos indubitavelmente obrigados a não receber a mensagem, principalmente se de quem é o assunto não estiver presente para sua autodefesa. Assim podemos ter a certeza e concordar com Leandro Karnal que “fofoca é a vingança dos fracos”.

Wilson Rodrigues da Silva

Be'erSheva– Israel, 26 de setembro de 2019

Revisão: PHEF

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