Medida é permitida desde 2016 pelo estado e é alternativa à eutanásia. Manejo reprodutivo pode zerar risco de febre maculosa.
14/09/2019 | Por Carlos Dias, G1 Sorocaba e Jundiaí, com edição do DT
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Animais passam por procedimentos em São Paulo — Foto: Arquivo pessoal |
O controle na reprodução de capivaras foi a estratégia adotada por alguns condomínios da região de Sorocaba (SP) contra o risco de transmissão da febre maculosa. Com isso, os animais estão passando por laqueadura ou vasectomia.
Até julho de 2019, segundo a Secretaria de Saúde, São Paulo registrou 16 casos confirmados da doença causada por bactérias do gênero Rickettsia. De acordo com a infectologista Naihma Salum Fontana, a transmissão para pessoas ocorre pela picada do carrapato infectado pela bactéria.
"Quando a bactéria cai na circulação, ela lesa a camada interna dos vasos. Os primeiros sintomas aparecem de dois a 14 dias depois da picada", explica.
No início do ciclo, o carrapato infectado pica a capivara e transmite a bactéria. Ela se torna o hospedeiro e contamina os outros carrapatos, que podem passar a doença para humanos.
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Capivaras têm como habitat margens de rios e lagoas — Foto: Carlos Dias/G1 |
Manejo reprodutivo
A capivara vive às margens de rios e lagoas, geralmente onde tem vegetação no entorno, segundo o biólogo Nelson Rodrigues da Silva. Nascem em média de cinco filhotes em uma gestação.
Ainda segundo o biólogo, a capivara é considerada o maior roedor herbívoro do mundo e pode pesar até 70 quilos. A dieta dela é baseada em capins e ervas.
Conforme a Secretaria de Meio Ambiente (SMA) do estado, os procedimentos cirúrgicos em capivaras passaram a ser adotados a partir de 2016. A medida é alternativa à eutanásia nos animais.
Uma ação em junho deste ano com dezenas de capivaras abatidas causou polêmica em um condomínio de Itatiba. Um morador do local morreu por febre maculosa.
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Capivaras foram abatidas em Itatiba — Foto: Divulgação |
O manejo dos animais depende da avaliação da área quanto ao risco de transmissão da doença. O procedimento é determinado pela Secretaria Estadual de Saúde (SUCEN).
Segundo a SMA, a ação deve ser executada por profissionais habilitados, como um médico veterinário, com autorização pelo órgão ambiental, que no caso seria o Departamento de Fauna, da Secretaria da Infraestrutura e Meio Ambiente.
Não há empresas cadastradas para o serviço. Os processos são abertos em nome do empreendimento interessado, responsável por contratar um profissional habilitado.
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Capivara pode ser hospedeira do carrapato infectado — Foto: Carlos Dias/G1 |
Prevenção
As capivaras, contudo, podem ser hospedeiras da bactéria que causa a doença por um período de até 15 dias, podendo infectar carrapatos, de acordo com a veterinária Fernanda Batistela Passos Nunes. Ela é responsável pelo manejo reprodutivo em seis áreas no estado.
A equipe da veterinária trabalha em dois condomínios em Itu, um em Tatuí, Cajamar, Vinhedo e Porto Feliz.
"Após esse período [de 15 dias], os animais desenvolvem uma resposta imune humoral à bactéria. No entanto, novas capivaras nascidas no grupo ou introduzidas no ambiente são suscetíveis à bactéria, que pode continuar com o ciclo da doença", diz.
A veterinária explica que é coletado sangue dos animais, que são colocados em baias. Ao todo, são 17 meses meses para zerar o risco de contaminação no local.
Febre maculosa
Em julho de 2018, um laudo laboratorial confirmou que a estudante Laura Bertajoni Vicente, de 15 anos, morreu por febre maculosa. A informação foi divulgada ao G1 pela Prefeitura de Salto.
A doença já constava como causa da morte da menina no atestado de óbito. O documento detalha também que a paciente teve choque séptico.
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Laura Bertajoni Vicente morreu por febre maculosa em Salto — Foto: Reprodução/Facebook |
A adolescente morreu no dia 29 de julho, nove dias após sentir os primeiros sintomas da doença transmitida pelo carrapato estrela.
Laura chegou a ser internada em um hospital de Campinas, mas a doença se agravou. No dia 24 de julho, quando já estava internada, a garota completou 15 anos.
"O tratamento é feito com antibióticos. A cura e a eficácia do tratamento é diretamente proporcional à rapidez do diagnóstico e introdução precoce de antibiótico eficaz. Os antibióticos que geralmente tratam doenças pulmonares, urinárias e Infecções de pele não tratam essa doença", detalha a infectologista Naihma Salum Fontana.
Entre os sintomas de febre maculosa estão dor no corpo, dor de cabeça, falta de apetite e desânimo. Depois, aparecem pequenas manchas avermelhadas, que crescem e tornam-se salientes.
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Ciclo da febre maculosa envolve carrapatos e capivara — Foto: Amanda Paes/G1 |
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