Coleta pode beneficiar 5 pessoas na espera por transplante, diz hospital
De O Progresso de Tatuí (*)
Enfermeira Márcia Regina Ricioli e voluntários que ajudaram a equipar a sala de acolhimento familiar (foto: Diléa Silva) |
01/05/2019 | A Comissão Intra-Hospitalar de Transplante da Santa Casa de Misericórdia de Tatuí divulgou no sábado, 27 de abril, durante cerimônia de inauguração da Sala Acolhimento Familiar, a realização do primeiro procedimento de retirada de órgãos para doação deste ano. A coleta aconteceu no dia 23.
Conforme a enfermeira coordenadora da comissão e responsável técnica da enfermagem da Santa Casa, Márcia Regina Ricioli, o doador foi um homem de 53 anos, morador de Tatuí, vítima de acidente de trânsito. Ele teve traumatismo crânio-encefálico e a família autorizou a doação.
“A partir daí, entramos em contato com a Organização de Procura de Órgãos de Itu, que fez a intermediação com a Central Única de Transplantes em São Paulo”, contou.
Foram doados o fígado, os dois rins, córneas e ossos, possibilitando que cinco pessoas que esperam por transplante possam ser beneficiadas. O fígado foi captado pela equipe do cirurgião Renato Hidalgo, da Unimed de Sorocaba, que faz transplantes pelo SUS (Sistema Único de Saúde). O órgão já foi transplantado, nesse mesmo dia, no paciente receptor.
As duas córneas foram captadas pelo BOS (Banco de Olhos de Sorocaba); os ossos (fêmur, tíbia, fíbula e patela), pelo Banco de Ossos de Marília; e os rins, também pela Unimed de Sorocaba, posteriormente sendo enviados a Ribeirão Preto.
A cirurgia para a retirada dos órgãos é feita no centro cirúrgico local e as equipes de coleta vêm até o hospital para buscá-los. A destinação dos outros órgãos do doador tatuiano dependerá do resultado do exame de compatibilidade dos pacientes da fila de espera.
No ano passado, a Santa Casa realizou duas captações. O primeiro caso foi registrado em janeiro, ocasião na qual foram doados o fígado, as córneas e os rins de um rapaz que caíra de uma escada e tivera morte cerebral.
O segundo caso de doação de órgãos ocorreu em fevereiro, quando uma adolescente de 17 anos faleceu após complicações no parto.
De acordo com os profissionais da Santa Casa, a jovem chegou à Maternidade “Maria Odete Azevedo” com 32 semanas de gestação. Ela apresentava alteração da pressão arterial, sendo encaminhada ao local por médicos da Casa do Adolescente, onde fazia o pré-natal.
O parto pelo procedimento cesariana foi realizado às pressas, mas a jovem teve eclampsia, Síndrome de Hellp e um AVC (acidente vascular cerebral) hemorrágico.
Em função do quadro, precisou ser encaminhada à UTI (unidade de terapia intensiva). A equipe de intensivistas constatou a morte cerebral da jovem, quatro dias depois da internação.
O bebê – um menino – nasceu saudável e teve alta na sequência. Segundo o hospital, a criança permaneceu com o pai e a avó materna. A família da jovem assinou o termo de doação de órgãos.
Foram doados o coração, o pâncreas, o fígado, as duas córneas, os ossos e dois rins. O coração foi captado pelo InCor (Instituto do Coração), do Hospital das Clínicas FMUsp e transplantado em uma garota de 14 anos.
O pâncreas foi captado pelo Hospital Bandeirantes, em São Paulo; o fígado, pelo Hospital Unimed Sorocaba, que faz transplantes pelo SUS (Sistema Único de Saúde); as duas córneas, pelo BOS (Banco de Olhos de Sorocaba); os ossos (fêmur, tíbia, fíbula e patela), pelo Banco de Ossos de Marília; e os rins, pelos campi da Unicamp (Universidade de Campinas) de Campinas e Botucatu.
Conforme Márcia, a Comissão Intra-Hospitalar de Transplante da Santa Casa de Misericórdia de Tatuí começou a atuar em 2017 e foi oficializada junto à Central Estadual de Transplante em novembro de 2018. Desde então, foram feitas quatro captações.
“Tiveram mais pessoas com o quadro nos quais poderíamos ter feito a doação, mas não tínhamos condições por falta de equipamentos para aquecer o paciente. Agora, com a ajuda do Rotary, temos aparelhos para poder aquecer o corpo mecanicamente”, comentou.
Até 2018, conforme Márcia, quando surgia algum possível doador, a Organização de Procura de Órgãos de Itu era acionada e fazia o procedimento. “Era difícil por conta da nossa estrutura, mas ainda continua sendo por falta de conscientização das famílias”, apontou.
A enfermeira ressalta que ainda existem mitos sobre a doação de órgãos e pontua que questões religiosas e falta de informação acabam impedindo que muitas famílias autorizem a captação.
“É muito importante que a pessoa conte para a família que quer ser um doador. Hoje, a nossa legislação não tem nada que nos resguarde. Por exemplo, sou doadora, mas se a minha família não souber, não vou ser doadora porque a decisão acaba sendo deles”.
“A única coisa efetiva que a gente tem para que aconteçam as doações mesmo é que todo mundo converse com a família e diga que é doador. A maioria das famílias que o paciente sinalizou que é doador, que está engajado nesta luta, assina o termo de doação e ajuda a salvar outras vidas”, concluiu.
(*) Matéria publicada apenas agora para não competir com o autor.
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