Eduardo Guedes Caetano
Tatuí, orgulho de São Paulo.
É de pouco conhecimento, mas Tatuí e Iperó são o berço da siderurgia e da industrialização de São Paulo, e do Brasil. A Fundição Ipanema em Iperó em 1811. E Tatuí 70 anos depois.
Em 1840, Tatuí tinha 14 anos de idade e apenas 9 ruas, entre elas as atuais ruas XI de Agosto e José Bonifácio.
Quatro anos depois, a maior parte de seus 3 mil habitantes vivendo no campo, Tatuí desmembrou-se de Itapetininga, e recebeu o jovem visionário Martinho Guedes, de apenas 20 anos, da região do Porto, que aqui veio comercializar os produtos europeus importados por seus irmãos mais velhos. Apaixonou-se pela “quatrocentona” Maria A. A. Lima, casou-se e aqui se estabeleceu.
Em apenas 42 anos Tatuí cresceu 8 vezes, de 3 mil para 25 mil habitantes (não muito menor que a Capital, que tinha apenas 48 mil) em 1886, quando tornou-se a 5ª mais populosa cidade do Estado. Era então mais importante que são hoje São José dos Campos, Osasco, Ribeirão Preto, Sorocaba, Santos, Jundiaí, Piracicaba.
Essa época áurea da cidade, esse desenvolvimento, foi consequência da chegada deste jovem imigrante comerciante português Martinho, que uns 15 anos depois importou da Georgia (EUA) a tecnologia ligada ao Algodão Herbáceo (o “Ouro Branco” de então, hoje temos o “Ouro Negro”, o petróleo) e a implantou na Fazenda Pederneiras (hoje Ford), que em 1921 ainda tinha a maior produtividade em algodão do Brasil!
Além de desenvolver aqui o plantio racional do algodão, nova técnica agronômica, o visionário Martinho inovou com o cooperativismo: distribuía sementes, ensinava, comprava a produção, beneficiava e transportava o algodão até Santos numa penosa viagem, e depois exportava os fardos, especialmente para a Inglaterra, maior centro industrial.
Morreu em 1872 com apenas 44 anos, após socorrer um empregado adoentado. Sua esposa e seu filho de 18 anos, Manoel Guedes (1853-1927), igualmente visionários, conseguiram em 1881 montar a maior e pioneira fábrica da época, a São Martinho, mesmo sem ferrovias para trazer as máquinas e escoar a produção.
O desenvolvimento provocado por Martinho, e depois pela Fábrica São Martinho, fez nascer em nossa região os embriões dos maiores complexos industriais brasileiros, criados por outros imigrantes visionários: Francisco Matarazzo (1854-1937) veio em 1881, aos 27 anos, convidado por seu amigo Grandino, de Tatuí. António Pereira Inácio (1875-1951), criador do grupo Votorantim, veio do Porto em 1886.
Tatuí assim herdou o maior parque industrial paulista do século XIX ainda preservado. Com alto potencial turístico, mas ainda inexplorado. O CONDEPHAAT estadual confirma que a "Fábrica São Martinho é pioneira entre as indústrias têxteis no Estado de São Paulo.”
Em 1885 no estado todo havia apenas nove tecelagens, sendo a São Martinho provavelmente a maior. Era um complexo fabril, com olaria, fábrica de correias etc., tendo sido em 1910, também a primeira a ser movida por energia elétrica, em que Manoel também foi pioneiro no Estado, tendo feito Tatuí ser um dos primeiros municípios paulistas a ter essa comodidade.
Em Tatuí, a Campos & Irmãos/Santa Adélia foi fundada em 1908, 27 anos após a S. Martinho.
Martinho e seu filho Manoel Guedes, que foi reconhecido por historiadores como um dos 12 “Próceres das Indústrias e Finanças de São Paulo”, junto com Matarazzo e Crespi, também promoveram a cultura.
Martinho construiu em 1871 um dos primeiros teatros do estado (o São João, na atual praça Manoel Guedes, do “Museu”), e 25 anos depois Manoel construiu um dos primeiros cine-teatros do estado (o S. Martinho, na praça da Matriz, hoje Banco Itaú). Mas a morte o colheu em 1927, antes de concluir o monumental Theatrão (nessa mesma Praça Martinho Guedes), demolido nos anos 50.
Empregaram muitos técnicos e trabalhadores italianos e de outras nacionalidades, o que ajudou a Tatuí crescer e ter rica diversificação cultural, inclusive nossa música.
Para ser eleita Estância Turística, os cidadãos de Tatuí certamente precisarão saber contar a história e a origem dos nomes de algumas de suas principais praças.
No caso da Praça Martinho Guedes, sendo reinaugurada, a história enche de orgulho os tatuianos, pois sem o pioneirismo e a visão dele não seríamos o Berço da Industrialização Paulista, ou a Capital da Música.
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(*) Eduardo Guedes Caetano - Cursou Engenharia de Produção (Poli-USP), Direito (Cidade, RJ) e Mestrado em Administração (FGV-Eaesp e Stern/New York University). E-mail: guedes234@gmail.com