quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Caso Taina: suspeito nega sequestro de jovem com bebê



Luís Fernando Lourenço saiu do Complexo Penitenciário de Pedrinhas. Mãe e filha retornaram a Pilar do Sul. Caso é investigado como subtração de incapaz.

Por Paola Patriarca, G1 Itapetininga e Região, com edição do DT

12/12/2018 | O homem suspeito de sequestrar a jovem Taina Queiroz, de 18 anos, e a filha dela de oito meses, falou com o G1 sobre o caso da Taina nesta quarta-feira (12), após deixar a prisão, e alegou que não sequestrou mãe com a criança.

Luís Fernando Lourenço, que foi preso em São Luís (MA) por ser considerado foragido da Justiça pelo crime de estelionato, vai cumprir a pena em regime aberto. Luís foi liberado do Complexo de Pedrinhas, no Maranhão, na noite de terça-feira (11).

"Nunca sequestraria Taina porque eu a amo e só quero o bem dela. Fugimos porque nos amamos. Nos envolvemos e, quando descobriram nosso caso, falaram para ela sair de casa. Foi então que ela resolveu sair comigo. Avisou a família mandando um vídeo e aí íamos seguir nossa vida. Mas tomou uma proporção que eu não imaginava. Não a ameacei", diz.

Taina e a filha desapareceram no dia 3 de novembro. O marido Kennedy da Silva suspeitava que elas tivessem sido sequestradas pelo Luís Fernando, ex-patrão dele. As duas foram localizadas após a prisão de Luís. Depois de ele ser levado para a cadeia, o Conselho Tutelar decidiu recolher a criança e deixá-la aos cuidados do órgão por causa do inquérito policial de subtração de incapaz. Nesta terça-feira (11), as duas foram levadas para Pilar do Sul.

Taina Queiroz ao lado do marido, Raul Kennedy da Silva, e da filha de 8 meses. — Foto: Reprodução/Facebook

Segundo Luís, a jovem não se apresentou na delegacia em relação ao boletim de desaparecimento por medo de que ele fosse preso e por medo de perder a filha. "Ela não se apresentou porque não queria ficar longe de mim e também tinha esse BO que estava foragido. Como o caso foi criando ainda mais repercussão, passamos por várias cidades para tentarmos ter nossa vida, para ficarmos juntos. Ficamos três dias em Sorocaba, depois fomos para São Carlos, Rio Claro, Uberaba e depois partimos para Aracaju, Petrolina, Terezina e chegamos em São Luís. Ela não queria continuar com o Raul e por isso saiu de casa", conta.

Luís admite os crimes por estelionato e diz que cometeu por causa de dívidas. Porém, ressalta que não ameaçaria a jovem. "Infelizmente eu cometi estelionatos porque tinha uns cheques para pagar. Mas em nenhum momento apresento perigo. Nunca me apaixonei por uma pessoa como me apaixonei por Taina. Eu queria casar com ela, ter uma vida. Mas, infelizmente, teve um desfecho diferente. Falaram que sou sequestrador e não sou isso", diz.

O homem também relata que não obrigou Taina a enviar os vídeos para a família. "Nós enviamos para dizermos que estávamos bem e ela até admite porque tinha saído de casa. Eu nunca ia obrigar ou fazer ela falar aquilo. Ela falou porque realmente era verdade."

Já sobre um boletim de ocorrência registrado contra ele por ameaçar uma ex-namorada, ele confirma o caso. "Eu fiquei muito bravo quando soube que ela me traiu e tivemos uma vida muito boa. Cheguei a ameaçar, mas nunca faria nada. Não tenho coragem."

Segundo o advogado de Luís, Walterlino Correia, ele tem 30 dias para se apresentar no estado de SP para cumprir a pena de estelionato com serviços comunitários. Além disso, ele deve ser ouvido pela Delegacia de investigações Gerais (DIG) de Sorocaba sobre o inquérito policial de subtração de incapaz. "Quero me apresentar e resolver tudo o que tenho que resolver. Não sou sequestrador. Não fizemos nada escondido de ninguém e todos da família já sabiam do nosso envolvimento", ressalta.

Reecontro

De acordo com Raul, a filha e Taina foram trazidas a Pilar do Sul pelo Conselho Tutelar de São Luís. Para ele, é um alívio ter a filha de volta. “O reencontro foi emocionante. Estou muito aliviado e toda a família também. A Sofia e a Taina estão bem, isso que importa”, diz.

Sobre o que Taina alegou em relação ao que pode ter ocorrido e se ela ficará na casa, o marido não quis comentar. “Prefiro não comentar agora. Não quero resolver neste momento isso e, sim, curtir minha filha. Sei que a Taina só falará com todos depois de prestar depoimento”, afirmou.

De acordo com o delegado da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), Acácio Leite, a jovem prestará depoimento para a Polícia Civil para a conclusão do inquérito. Porém, ela precisa se apresentar na delegacia. “Ainda não temos posição sobre o que realmente houve. Assim que eu ouvi-la poderemos entender e ter oficialmente se ela fugiu ou foi ameaça. Mas ela precisa se apresentar, pois é considerada sumida. E continuamos com a mesma linha de investigação de que não se tratou de um sequestro porque não houve pedido de resgate e nem provas de cárcere privado", afirma.

Entenda o caso

Raul Kennedy da Silva, a mulher, Taina Queiroz e a filha de 8 meses viviam em Pilar do Sul (SP). Ele viajou a trabalho e, quando retornou, não encontrou Taina e a bebê em casa.

Em 3 de novembro, Silva registrou um boletim de ocorrência e disse que recebeu mensagens de seu ex-patrão Luís Fernando Lourenço, dizendo que Taina estava com ele por vontade própria e que ela e a bebê estavam bem.

A polícia abriu inquérito para investigar o caso. Como não havia pedido de resgate, o caso foi registrado inicialmente como desaparecimento.

A família de Taina recebeu vídeos da jovem, em que ela aparecia ao lado da criança e dizia estar feliz. Parentes viram sinais de nervosismo e ameaça nos vídeos.

Em 28 de novembro, a polícia retificou o BO e passou a investigar o caso como subtração de incapaz.

Lourenço era procurado pela polícia por estelionato há cerca de um ano e foi preso no sábado (1º) em São Luís (MA).

Taina e a filha voltaram para Pilar do Sul em 11 de dezembro. Dias antes, a reportagem do G1 recebeu um vídeo em que ela acusa o marido de traição e de agredi-la.

Prisão

Segundo o delegado Acácio Leite, Luís Fernando Lourenço foi preso durante a madrugada do dia 1° de dezembro após denúncia feita para a Polícia Militar.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA) a prisão ocorreu pouco depois dele ter sido reconhecido enquanto comprava comida perto de uma pousada na Praia do Calhau, em São Luís, onde estava hospedado com Taina e a criança. Luís foi levado para a penitenciária de Pedrinhas.

Luís Fernando estava foragido da Justiça há cerca de um ano, segundo a Polícia Civil. Ele esteve preso em 22 de outubro de 2013 pelo artigo 158, que é constranger alguém mediante violência. Mas, segundo o órgão, foi solto no dia 23 de outubro.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), Luís foi condenado por estelionato a cumprir pena de prestação de serviços à comunidade, porém não cumpriu a determinação. Por isso, constava como foragido.

Câmera de segurança gravou Luís dentro do mercado em Jundiaí, em 2017 — Foto: Arquivo pessoal

Luís também é procurado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Jundiaí (SP) por se passar por repórter em um supermercado da cidade, em abril de 2017, para forjar uma denúncia e extorquir o comércio.

Segundo a investigação, Luís Fernando Lourenço foi até o estabelecimento na noite de 1º de abril do ano passado, adulterou a validade de uma peça de carne e alegou ao gerente que era jornalista.

Desaparecimento

O sumiço da mãe e da filha foi registrado no dia 3 de novembro. O marido da jovem conta que viajou a trabalho para Castilho (SP) e, quando retornou para casa, não encontrou mais as duas.

"Cheguei e não estavam em casa. Fizemos buscas, mas nada. Não atendeu o telefone e ninguém sabia delas. Fiquei desesperado. Foi então que meu ex-patrão mandou mensagem dizendo que estava com as duas e que elas estavam felizes. Mas ela não me deixaria. Estávamos bem e tenho certeza que ele as raptou", disse na época ao G1.

Raul ainda afirmou que conheceu o ex-patrão Luís Fernando Lourenço há quatro meses, em Sorocaba (SP). Ele se apresentou como cantor e empresário, e ofereceu emprego para o rapaz entregar outdoor em cidades do interior de São Paulo.

A Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Sorocaba abriu inquérito policial para investigar o caso do sumiço das duas.

Porém, no dia 28 de novembro o delegado Acácio Leite informou que passou a tratar o caso de sequestro para subtração de incapaz após vídeos enviados pelo suspeito mostrar que Taina estava bem e que estaria com ele por vontade própria.

De acordo com Raul, vídeos foram encaminhados por Luís Fernando para ele e parentes logo após o desaparecimento da esposa e filha.

Vídeos

As imagens de um vídeo mostram Taina deitada em uma cama ao lado da filha. Luís faz questionamentos e Taina responde. Segundo o delegado, os vídeos não foram encaminhados para a Polícia Civil. Parentes da jovem afirmaram que, nos vídeos, ela apresentou sinais de que está sendo ameaçada.

Uma ex-companheira de Luís Fernando Lourenço afirmou ao G1 que já registrou boletim de ocorrência contra ele por ameaça.

"Conheci o Luís em janeiro deste ano, em Jundiaí, e ficamos juntos por três meses. No início, ele conseguiu me iludir, se apresentou como empresário e conquistou a todos. Fomos morar em Araraquara, mas lá ele passou a ser agressivo. Ele vivia me ameaçando e não deixava eu falar direito com a minha família", afirmou.

Em um vídeo enviado ao G1, Taina afirma que é mentira que Luís Fernando a sequestrou. Afirma que o marido foi quem a traiu e que a agredia, sendo esses os motivos de ter saído de casa. Além disso, alega que é Luís Fernando quem a ama e que vai lutar para ficar com a filha.

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