terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Caso Taina: ao lado do marido, jovem diz que fugiu sob ameaça e comemora volta para casa

Segundo a Polícia Civil, inquérito policial de subtração de incapaz será arquivado; Luís Fernando Lourenço continua sendo investigado.

Taina Queiroz e o marido Raul da Silva — Foto: Paola Patriarca/G1

Por Paola Patriarca, G1 Itapetininga e Região, com edição do DT 

17/12/2018 | Ao lado do marido Raul da Silva, a jovem Taina Queiroz, de 18 anos, moradora de Pilar do Sul, falou pela primeira vez sobre ter deixado a família e levado a filha há mais de um mês, quando foi encontrada em São Luís (MA).

O caso foi apresentado pela polícia em uma coletiva de imprensa realizada na Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Sorocaba na tarde desta segunda-feira (17).

Segundo Taina, ela foi ameaçada pelo ex-patrão do esposo, Luís Fernando Loureço, para não voltar para a casa e até coagida para gravar vídeos em que falava que fugiu por conta própria.

"O Luís Fernando falou que ia me levar para encontrar o Raul. Então, entrei no carro acreditando nisso. De repente percebi que não era para Castilho que estávamos indo, mas para Sorocaba. Nisso, ele tirou meu celular e dizia que não era para voltar para a família porque o Raul estava me traindo e difamando", afirma.

Taina e a filha desapareceram no dia 3 de novembro. O marido suspeitava que elas tivessem sido sequestradas pelo ex-patrão dele, Luís Fernando Lourenço. As duas foram localizadas no dia 1° de dezembro após uma denúncia à polícia do Maranhão e a prisão de Luís, foragido da Justiça por estelionato.

Longe de casa, Taina chegou a gravar vídeos falando que estava bem e que tinha saído de casa por conta própria. Em um deles disse que o Raul (marido) tinha a agredido e que estava bem. "Eu me senti triste em falar aquilo, porque não era verdade. Eu sabia que não era verdade. E com o tempo achava que nunca mais ia ver minha família", afirma.

Depois de ele ser levado para a cadeia, o Conselho Tutelar decidiu recolher a criança e deixá-la aos cuidados do órgão por causa do inquérito policial de subtração de incapaz. No dia 11 de dezembro, as duas retornaram para Pilar do Sul e Luís Fernando foi solto da prisão para responder o crime em regime aberto.

Taina Queiroz se emocionou ao falar do caso junto do marido, Raul da Silva, e o advogado Alexandre Amaral — Foto: Paola Patriarca/G1

Taina relatou que durante as viagens com Luís Fernando ela ficava no quarto do hotel e dormia praticamente o dia todo. A jovem conta que tentou pedir ajuda uma vez, mas que Luís ameaçou de tirar a filha. "Eu ficava dormindo o dia todo e uma vez fui até uma moça da recepção pedir ajuda. Foi então que ele viu e me ameaçou. Eu fiquei com muito medo. Ele dizia que o Raul estava me traindo, falando mal de mim e que não era para voltar. Ele me jogava contra a família e não me deixava entrar em contato com ninguém e nem ver televisão, internet", alegou ao G1.

A polícia acredita que Taina pode ter sido dopada no período em que ficou com Luiz Fernando. um exame foi pedido para avaliar se comprova essa versão.

Taina falou sobre o caso ao lado do marido em coletiva de imprensa na DIG de Sorocaba — Foto: Paola Patriarca/G1

Ainda segundo a jovem, Luís Fernando afirmava que era para ir para longe para que os dois pudessem ficar juntos. Porém, ela suspeita de que ele tenha usado seu nome para praticar estelionatos. "Ele voltava sempre com dinheiro e acredito que ele tenha usado meu nome. Ele nunca me agrediu ou abusou, mas é uma pessoa perigosa. Agora estou aliviada e muito feliz em voltar para a casa. Quero ter minha vida de volta com meu marido e filha", afirma.

O marido também comemora o retorno da esposa. "Estou muito feliz que tudo terminou bem com as duas ao meu lado." 

Ao G1, Luís Fernando Lourenço negou ter ameaçado Taina e a obrigado a gravar os vídeos. "Nunca a obriguei a nada. Ela e eu já temos um caso bem antes de viajar e quando eu dizia a ela que queriam tomar a filha dela é verdade. Nunca a coagi e fugimos de medo", alega.

Investigação

Polícia Civil vai arquivar inquérito policial por subtração de incapaz — Foto: Paola Patriarca/G1

De acordo com o delegado Acácio Leite, o inquérito de subtração de incapaz será arquivado, já que não houve crime por parte da mãe. Porém, a Polícia Civil continuará investigando Luís Fernando. "Continuaremos com a investigação contra Luís Fernando. Ele pode responder por ameaça ou até Lei Maria da Penha", afirma.

Além disso, a Polícia Civil vai investigar possíveis crimes de estelionato cometidos por Luís Fernando durante o período em que esteve com Taina. "Temos informações de estelionato em hotéis, dele se apresentar como cantor sertanejo falido para pedir dinheiro e outros estelionatos cometidos na região. Então, isso também vai continuar sendo investigado", ressalta.

Entenda o caso

Raul Kennedy da Silva, a mulher, Taina Queiroz e a filha de 8 meses viviam em Pilar do Sul (SP). Ele viajou a trabalho e, quando retornou, não encontrou Taina e a bebê em casa.

Em 3 de novembro, Silva registrou um boletim de ocorrência e disse que recebeu mensagens de seu ex-patrão Luís Fernando Lourenço, dizendo que Taina estava com ele por vontade própria e que ela e a bebê estavam bem.

A polícia abriu inquérito para investigar o caso. Como não havia pedido de resgate, o caso foi registrado inicialmente como desaparecimento.

A família de Taina recebeu vídeos da jovem, em que ela aparecia ao lado da criança e dizia estar feliz. Parentes viram sinais de nervosismo e ameaça nos vídeos.

Em 28 de novembro, a polícia retificou o BO e passou a investigar o caso como subtração de incapaz.

Lourenço era procurado pela polícia por estelionato há cerca de um ano e foi preso no sábado (1º) em São Luís (MA).

Taina e a filha voltaram para Pilar do Sul em 11 de dezembro. Dias antes, a reportagem do G1 recebeu um vídeo em que ela acusa o marido de traição e de agredi-la.

Prisão

Luís Fernando Lourenço já tem passagens na polícia por estelionato — Foto: Arquivo Pessoal

Segundo o delegado Acácio Leite, Luís Fernando Lourenço foi preso durante a madrugada do dia 1° de dezembro após denúncia feita para a Polícia Militar.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA) a prisão ocorreu pouco depois dele ter sido reconhecido enquanto comprava comida perto de uma pousada na Praia do Calhau, em São Luís, onde estava hospedado com Taina e a criança. Luís foi levado para a penitenciária de Pedrinhas.

Luís Fernando estava foragido da Justiça há cerca de um ano, segundo a Polícia Civil. Ele esteve preso em 22 de outubro de 2013 pelo artigo 158, que é constranger alguém mediante violência. Mas, segundo o órgão, foi solto no dia 23 de outubro.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), Luís foi condenado por estelionato a cumprir pena de prestação de serviços à comunidade, porém não cumpriu a determinação. Por isso, constava como foragido.

Luís também é procurado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Jundiaí (SP) por se passar por repórter em um supermercado da cidade, em abril de 2017, para forjar uma denúncia e extorquir o comércio.

Segundo a investigação, Luís Fernando Lourenço foi até o estabelecimento na noite de 1º de abril do ano passado, adulterou a validade de uma peça de carne e alegou ao gerente que era jornalista.

Desaparecimento

O sumiço da mãe e da filha foi registrado no dia 3 de novembro. O marido da jovem conta que viajou a trabalho para Castilho (SP) e, quando retornou para casa, não encontrou mais as duas.

"Cheguei e não estavam em casa. Fizemos buscas, mas nada. Não atendeu o telefone e ninguém sabia delas. Fiquei desesperado. Foi então que meu ex-patrão mandou mensagem dizendo que estava com as duas e que elas estavam felizes. Mas ela não me deixaria. Estávamos bem e tenho certeza que ele as raptou", disse na época ao G1.

Raul ainda afirmou que conheceu o ex-patrão Luís Fernando Lourenço há quatro meses, em Sorocaba (SP). Ele se apresentou como cantor e empresário, e ofereceu emprego para o rapaz entregar outdoor em cidades do interior de São Paulo.

A Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Sorocaba abriu inquérito policial para investigar o caso do sumiço das duas.

Porém, no dia 28 de novembro o delegado Acácio Leite informou que passou a tratar o caso de sequestro para subtração de incapaz após vídeos enviados pelo suspeito mostrar que Taina estava bem e que estaria com ele por vontade própria.

De acordo com Raul, vídeos foram encaminhados por Luís Fernando para ele e parentes logo após o desaparecimento da esposa e filha.

Vídeos

Em imagens de vídeos Taina aparecia deitada em uma cama ao lado da filha. Luís faz questionamentos e Taina respondia. Segundo o delegado, os vídeos não foram encaminhados para a Polícia Civil. Parentes da jovem afirmaram que, nos vídeos, ela apresentou sinais de que está sendo ameaçada.

Uma ex-companheira de Luís Fernando Lourenço afirmou ao G1 que já registrou boletim de ocorrência contra ele por ameaça.

"Conheci o Luís em janeiro deste ano, em Jundiaí, e ficamos juntos por três meses. No início, ele conseguiu me iludir, se apresentou como empresário e conquistou a todos. Fomos morar em Araraquara, mas lá ele passou a ser agressivo. Ele vivia me ameaçando e não deixava eu falar direito com a minha família", afirmou.

Em um vídeo enviado ao G1, Taina afirma que é mentira que Luís Fernando a sequestrou. Afirma que o marido foi quem a traiu e que a agredia, sendo esses os motivos de ter saído de casa. Além disso, alega que é Luís Fernando quem a ama e que vai lutar para ficar com a filha.

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