Luz acesa
Em uma rua qualquer, de um bairro qualquer, de uma cidade qualquer, de um estado qualquer, de um país qualquer... Havia postes. Postes que enfeitavam a rua com a sua concreta e metálica essência. Postes que dormiam de dia e, como morcegos, ficavam acesos pela noite.
Quando o crepúsculo alaranjado se aproximava, os postes começavam a trabalhar. Acendiam sua boca abaulada para alumiar a rua mal tratada. Sabiam exatamente o seu turno, quando acabava, isto é, quando o Sol iniciava o seu expediente, descansavam.
No entanto, contrariando a naturalidade artificial desses indivíduos sem vida, um desses postes continuou com a sua luz acesa. Enquanto todos repousavam, esse prolongava sua labuta após o raiar do Sol.
Esta persistência perdurou por vários dias. As pessoas passavam na rua e evidentemente percebiam que havia algo de errado e logo pensavam que a agência de energias iria desempenhar seu papel.
O poste solitário, com sua luz acesa, se passava por problemático por ter a sua luz ligada. Deleitava-se com aquilo, com aquela situação nada habitual para um simples poste.
Um dia, veio o carro da agência de energias com aquela grande escada encimando-o. Os agentes estavam sedentos por terminar o seu serviço naquele estresse diário. Posicionaram a escada, apoiando sobre o delgado corpo do poste contrariado. Quando, encostaram a escada no poste, gotas começaram a cair da luz, como se aquele ser inabitado por nenhuma alma possuísse alguma emoção. Mas simplesmente, havia chovido um dia antes.
Rapidamente, sem escrúpulos “consertaram” aquele poste, tirando-lhe a luz. Extraindo de si a sua maior preciosidade. Foram embora atrás de outro poste com “problema”, sem ao menos se ressentirem. Agora, o poste, outrora aceso, já era mais um outro poste apagado, novamente.
Quem dera este poste tivesse braços e pernas para lutar pela sua luz. Quem dera ele pudesse escolher a sua felicidade. Quem dera ele pudesse ser livre ...
A.M.O.R.
(Ana Moraes de Oliveira Rosa)
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