Fugiu da guerra e foi para a Suécia, mas é no Brasil que tem nome feito e é referência. Em Manaus, um almadense dos quatro costados rege uma orquestra
Foto: André Amazonas
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Texto de Pedro Emanuel Santos
21/09/2018 - O sotaque é adocicado, brasileiríssimo. As origens são portuguesas, de uma Almada “ainda sem ponte nem nada” e com a “melhor vista de Lisboa”. Rui Carvalho é maestro, tem 64 anos, vive no Brasil há 40 e é o responsável pela Amazonas Jazz Band, na cidade de Manaus, em pleno Amazonas. Mas continua ligado a Portugal, onde regressa amiúde para matar saudades de um país que garante ainda sentir seu, apesar de estar há bastante tempo dele separado.
Rui Carvalho foi para a Suécia em 1972. Queria escapar à Guerra Colonial, “injusta e com a qual não concordava nada”, e estudar música. “Adorava jazz. Ainda em Portugal não perdia na rádio uma emissão do programa ‘Cinco Minutos de Jazz’, de José Duarte. Aprendi muito com ele.”
Aprendeu bateria, iniciou-se no piano, aperfeiçoou conhecimentos musicais, tocou em bandas jazz com alguns virtuosos instrumentistas locais. E, pelo meio, licenciou-se em Antropologia.
Depois do frio escandinavo, o futuro maestro partiu para o tropical Brasil. O destino foi Tatuí, no estado de São Paulo, onde se esmerou na arte de reger big bands. Deu aulas no Conservatório e começou a perceber que o futuro não passava senão pela música. E que o Brasil seria mesmo terra definitiva.
“As coisas foram acontecendo quase sem contar, da forma mais natural possível. Fui ficando pelo Brasil, nunca pensei regressar a Portugal”, sublinha.
O destino mudou completamente em 2001, ano em que recebeu o convite para reger a Amazonas Band, orquestra de jazz que faz parte do corpo do extenso e imponente Teatro Amazonas, em Manaus. Rui Carvalho sorri ao lembrar que “era para ter ficado 18 meses à frente da orquestra e já lá vão quase 18 anos”. Nestas quase duas décadas, deu à Amazonas Jazz Band nova vida e visibilidade reconhecida, organizou eventos que se tornaram referência no Brasil e na América Latina, lançou discos e ainda arranjou tempo para completar um doutoramento em Etnomusicologia.
Rui Carvalho foi também o principal rosto do Festival Amazonas de Jazz, que, nos nove anos em que por ele foi dirigido, passou do quase anonimato a referência internacional. “Deu muito trabalho, muito mesmo. Mas valeu bem a pena tudo o que foi feito pelo festival”, orgulha-se este maestro de vida cheia.
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