sábado, 24 de fevereiro de 2018

crônica / Ana Moraes

Uma peculiar transmutação

Desde que o vapor ajudou a humanidade a andar mais rápido, a modernidade não pode mais ser contida. Os vapores em seu natural movimento moviam o mundo transformando-a a cada tempo. Não só os vapores foram os únicos motores da humanidade, houve vários outros elementos que participaram dessa eclosão tecnológica. Dentre eles, a fila indiana de elétrons, foi um difícil desafio para o ser humano. Um trabalho árduo, o qual teve início em um ato, que como brincadeira, fez com que seivas de árvores pudessem atrair para si algumas coisas. Além destes, houve vários outros elementos que culminaram no progresso humano, sem dúvida com suas dívidas com o meio ambiente.

Essa evolução foi grandiosíssima dentro de pouco tempo com relação ao resto do tempo de existência desse ser que luta contra todos e tudo para manter-se vivo, até consigo próprio, até demais.

Chega-se ao século XXI cristão, no qual apareceram essas coisas que podem armazenar e te mostrar tudo na palma da mão, como diziam os antigos: “Fulano conhece como a palma da mão”, hoje qualquer um pode ser esse fulano. Tudo isso é possível graças a inovação tecnológica que nos trouxe o mundo nas nossas mãos.

Apesar de remeter ao futuro e a evolução, os seres humanos desenvolveram gestos repetitivos, entre os quais um deles remeta a uma característica animalesca típica das aves: o ciscar.

O ser humano não possui asas e nem bota e choca ovos, mas com a (des)evolução fez de seus dedos bico de ave, mais especificamente da nossa querida e mal paga galinha. As pessoas, agora, cismam a ciscar com seus dedos sobre telas que obsediam e viciam. Não ciscam sementes e insetos esparramando pelo chão e sim letras, palavras, frases, enfim ciscam informações. Onde o rato não tem vez contra a galinha.

Apesar de contraditório, houve uma evolução e só os mais rápidos com seus bicos sobrevivem ao longo da Natureza que faz natural e artificialmente sua seleção curricular.

Dos vapores ao caminho de pequenos indivíduos irrequietos, até chegar a ciscagem dos dedos. O dedo indicador passa a ser a ponta do bico, isto é, o dedo bicador. A evolução realizando seu trabalho rigorosa e meticulosamente.

Qual será a próxima evolução humana animalesca? Apesar do ser humano evoluir, inconsciente e naturalmente, imita seus antepassados, os pobres subjugados por eles, demonstrando sua inconsciente admiração. Uma verdadeira convergência adaptativa. Transmutando seus dedos para bicos. Talvez os paleontólogos, daqui alguns milhões de anos mal saberão que os sensíveis e delicados dedos manuais serviram para tal ofício. 

A.M.O.R.
(Ana Moraes de Oliveira Rosa)

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