Dario Sotelo toma posse na Wasbe durante a conferência que a entidade realiza na Holanda entre 18 e 22 de julho
A música brasileira e, em especial, o Conservatório de Tatuí, passarão por um momento histórico no dia 18 de julho, em Utrecht, na Holanda. Lá, durante cinco dias, acontecerá a conferência da Wasbe (World Association for Symphonic Bands and Ensembles – Associação Mundial de Conjuntos de Sopros e Bandas Sinfônicas), ocasião em que Dario Sotelo será empossado presidente para o mandato de 2017 até 2019. O regente e professor do Conservatório de Tatuí será o primeiro latino-americano a presidir a entidade.
Sotelo ingressou na Wasbe em 2003 e integrou o Conselho da entidade durante seis anos, condição que lhe permitiu ser indicado candidato à presidência. Desde 2015, ele atua na condição de presidente eleito, já participando da gestão da entidade ao lado do norte-americano William Johnson, presidente que lhe transmitirá o cargo na Holanda.
O novo presidente da Wasbe é maestro da Banda Sinfônica e da Orquestra de Cordas Juvenil do Conservatório de Tatuí, além de atuar como professor de regência da instituição. “Eu não estaria assumindo uma posição como essa sem o Conservatório de Tatuí, onde estou há 34 anos. Não fossem as documentações e encomendas de músicas, a ação da Banda Sinfônica, o trabalho artístico, eu não estaria lá”, comenta Sotelo, já avaliando a dimensão do trabalho que assumirá. “Eu tenho muitos desafios para vencer. O desafio de vencer uma maneira antiga de pensar. Mas me sinto respaldado para isso”.
Efeitos positivos
Na avaliação de Sotelo, a gestão de um de seus representantes trará pelo menos duas consequências benéficas ao Conservatório de Tatuí. A primeira é a visibilidade. “A partir dessa posição, o mundo inteiro passa a olhar para a instituição de onde você vem. Por isso eu digo que não assumo a presidência sozinho. Assumo com tudo o que trago do Conservatório de Tatuí”. A segunda via positiva diz respeito a novas possibilidades. Sotelo entende que a instituição poderá ser uma das “Casas da Wasbe”, já adiantando um de seus principais projetos.
“São os Seminários Mundiais da Wasbe. O Conselho da entidade é formado por pessoas muito capacitadas artisticamente, de vários lugares do mundo. Então, fazendo conexões com instituições fortes, temos a ideia de que os conselheiros ou pessoas indicadas realizem seminários em várias partes do mundo. A Wasbe teria várias casas”, expõe.
Pensando na realidade local, o maestro pretende unir um dos Seminários Mundiais da Wasbe ao 6º Seminário de Regência do Conservatório de Tatuí, previsto para acontecer no segundo semestre de 2018. Um evento aconteceria logo após o outro, totalizando sete ou oito dias. A quinta edição do seminário, de 15 a 18 de agosto de 2017, já tem mais de 200 inscritos.
Inspirado na Wasbe
Considerado um dos principais eventos do gênero no Brasil, o próprio Seminário de Regência do Conservatório de Tatuí é inspirado nos objetivos da Wasbe. Criada há 35 anos, na Inglaterra, a associação é o resultado de uma reunião de músicos, maestros, professores e administradores. Na época, o grupo estabeleceu objetivos que permanecem até hoje. Em síntese: a promoção do repertório de sopros sinfônicos e de câmara; a promoção de novos compositores e o resgate de trabalhos passados; e a criação de canais para conectar os agentes envolvidos com a música.
“Já tivemos no Conservatório de Tatuí algumas conferências e encontros internacionais relacionados a bandas e nelas eu tomei como base esses grandes objetivos mundiais trazidos pela Wasbe. Especialmente na Conferência de Cincinnati (EUA), em 2009, eu norteei várias atividades, inclusive o Seminário de Regência”, relata Sotelo.
O compositor em alta
O objetivo de promover o trabalho de composição para bandas sinfônicas está no centro das prioridades do novo presidente da Wasbe. Já na condição de presidente eleito, em 2015, Sotelo apresentou a proposta que resultou em um concurso mundial de composição de músicas para sopros. Durante a conferência de Utrecht, seis compositores disputarão a grande final.
Em breve, Sotelo quer iniciar um projeto ligado a compositores já estabelecidos, conectando os trabalhos deles à execução e à indústria. “Haverá uma eleição mundial entre os associados para chegar aos nomes que queremos comemorar a cada ano. Eu penso que seriam dez nomes, para ter uma boa diversidade. Do Brasil, eu apontaria o nome Edmundo Villani-Côrtes”, exemplifica.
Entre as ações desse projeto estão os Concertos Mundiais da Wasbe, com várias estreias de músicas. “Ao mesmo tempo, trabalharemos com todas as possibilidades de análise do repertório, entrevistas com os compositores e os regentes envolvidos. E a indústria ajudando com promoções, facilitando a colocação desses trabalhos no mercado”, acrescenta o presidente.
Também no intuito de valorizar o compositor, Sotelo buscará dar sequência ao trabalho de encomendas mundiais. Por meio dele, no dia 8 de abril de 2017, a Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí fez a estreia latino-americana da obra “Korn Symphony”, do compositor inglês Peter Meechan. “Essa é uma atribuição do presidente eleito [depois de Sotelo, em 2019, assumirá James Ripley, dos Estados Unidos] e que eu pretendo incentivar bastante”.
Brasileiros na Wasbe
A presidência de um brasileiro na Wasbe é vista por Sotelo, também, como uma forma de aproximar a entidade dos profissionais do país. Segundo o maestro, a Suíça possui 114 associados, enquanto que existem apenas cinco brasileiros. Ele entende que a entidade sempre foi muito acadêmica e que, a partir do momento que as ações da Wasbe ficarem mais próximas e os profissionais começarem a ser alçados a ações de nível mundial, mais brasileiros se envolverão.
“Hoje a pessoa paga 80 dólares por ano e recebe uma revista. Isso é um formato que era pertinente há 35 anos. A formatação de mundo hoje é totalmente diferente. Na minha visão, quem paga anuidade deve ter participação em todos os níveis da Wasbe”, afirma Sotelo.
Dario Sotelo
Formado em piano, violino e viola, é mestre em regência orquestral pela City University of London. Foi coordenador da Área de Cordas do Conservatório de Tatuí, reestruturando os programas destes cursos. Criou e estabeleceu orquestras jovens em Tatuí, Belo Horizonte e São Paulo. Por meio do Conservatório de Tatuí, realizou várias encomendas e estreias mundiais a compositores brasileiros, como “Sonho de uma noite de verão”, de Edson Beltrami.
Após dois anos em Londres (1991-1992), assumiu a regência da Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí e estabeleceu o curso de regência instrumental na escola. De 1998 a 2003, regeu a Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí. Como palestrante e regente convidado participou de dezenas de atividades internacionais, entre elas o Festival de Música Brasileira em Wattwill (Suíça). Atuou, ainda, como regente e palestrante na Convenção Estadual de Minnesota, na Universidade de Duluth.
Estabeleceu a Conferência Ibero-Americana de Compositores, Arranjadores e Regentes de Banda Sinfônica em Tatuí e foi o coordenador geral e artístico nos anos de 2002 e 2004 do Congresso Ibero-Americano de Compositores, Arregladores y Directores de Banda Sinfônica e Ensembles, em Tenerife (Espanha). Desde 1995 coordenou a gravação de nove CDs com a Banda Sinfônica e a Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí.
É regente da Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí, Orquestra de Cordas Juvenil do Conservatório de Tatuí e Banda Sinfônica da Escola de Municipal de Música de São Paulo. Atua também como professor de regência instrumental no Conservatório de Tatuí.
Apoio Cultural – Para a temporada de 2017, o Conservatório de Tatuí conta com apoio cultural da Coop – Cooperativa de Consumo e Grupo CCR SPVias.
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