Maestro rio-pretense é eleito presidente de Associação na Holanda
Francine Moreno, no Diário da Região (São José do Rio Preto/SP)
Arquivo do Conservatório de Tatuí
Um dos profissionais de maior expressão no corpo de professores do Conservatório de Tatuí, instituição que é referência no ensino da música na América Latina, Dario Sotelo formou-se em piano em 1977 no Conservatório de Música Etelvina Ramos Vianna
Um rio-pretense tem se destacado no cenário da música clássica internacional. Trata-se do maestro Dario Sotelo, primeiro latino-americano a presidir a Wasbe (World Association for Symphonic Bands and Ensembles - Associação Mundial de Conjuntos de Sopros e Bandas Sinfônicas). Formado em piano, violino e viola, e mestre em regência orquestral pela City University, em Londres, ele foi empossado há cerca de 10 dias em uma conferência da associação em Utrecht, na Holanda.Publicidade
Dario Sotelo é professor do Conservatório de Tatuí, instituição que é referência no ensino da música na América Latina. Com mais de 60 anos, a instituição forma instrumentistas, cantores, atores e luthiers e conta com orquestras, bandas e big bands. Além de atuar como professor de regência, o rio-pretense é maestro da Banda Sinfônica e da Orquestra de Cordas Juvenil do Conservatório, e da Banda Sinfônica da Escola Municipal de Música de São Paulo.
Ainda na Holanda, o maestro - que se formou em piano em 1977 no Conservatório Etelvina Ramos Viana, em Rio Preto, e que ainda mantém familiares na cidade - falou com a reportagem do Diário. Ele, que ingressou na Wasbe em 2003 e integrou o Conselho da entidade durante seis anos, condição que lhe permitiu ser indicado candidato à presidência, conta que se tornar presidente da associação só foi possível após muito suor e dedicação.
“É resultado de mais de 25 anos de trabalho como regente e professor, tanto de instrumento quanto de regência. Com exceção dos dois anos em que fiz meu mestrado em Londres, o restante do tempo trabalhei e trabalho no Conservatório de Tatuí.” Sotelo explica que o Conservatório sempre foi sua casa profissional. “Através da instituição e com o apoio dela é que desenvolvi todo meu trabalho.”
Diário da Região - Hoje, qual é a importância da Associação Mundial de Conjuntos de Sopros e Bandas Sinfônicas?
Dario Sotelo - Existem muitas associações de orquestras e bandas no mundo inteiro, mas a Wasbe tem uma abrangência mundial, com membros em quase todos os continentes. Ainda não temos na África e Índia, mas trabalharei para chegarmos lá. Seus objetivos principais são a promoção do repertório atual para sopros e percussão, a promoção de novos compositores, bem como de todos os grandes mestres deste século, e colocar todos os agentes musicais em contato, fazendo com que possamos aprender com as experiências de nossos colegas no mundo inteiro e vindo de culturas muito diversas.
Diário - Qual seu principal objetivo como presidente da Associação?
Sotelo - Meu primeiro objetivo é unificar as ideias, resumindo-as em cinco ações que devem ter a participação de todos os membros, até a realização de concertos mundiais, claro que atraindo cada vez maior número de regentes, compositores e músicos de todo o mundo.
Diário - E os projetos no Brasil? O senhor continua como regente e professor do Conservatório de Tatuí?
Sotelo - Todos os meus projetos envolvem o Brasil. Acabo de fazer uma palestra sobre compositores brasileiros aqui. Todas as ações devem ter uma grande participação de nossos regentes e compositores. No meio de agosto realizo em Tatuí um grande Seminário de Regência e, até agora, temos 215 inscritos, de mais de nove estados brasileiros. Para o próximo ano, devemos ter a participação de grandes regentes de muitas partes do mundo que fazem parte do conselho.
A Wasbe sempre trabalha com muita antecedência. Por exemplo, no mês de dezembro decidiremos qual é a cidade do mundo que sediará a grande Conferência Internacional, e esta conferência será em 2021. No Brasil, trabalhamos para o dia seguinte, para tentar arrumar tudo o deveria ser feito e que é passado para frente. Gostaria que, durante minha presidência, tivéssemos uma grande conferência no Brasil, mas a próxima já foi comprometida há quatro anos. Infelizmente, estamos em uma situação difícil no Brasil.
Diário - Como a música clássica entrou na vida do senhor? O início de tudo ocorreu em Rio Preto?
Sotelo - A música clássica entrou em minha vida quando minha mãe ofereceu a mim e meus irmãos a possibilidade de estudar piano com uma professora que morava próximo de nossa casa. Sim, foi em Rio Preto.
Diário - O que já fez em Rio Preto depois de já ter se tornado um músico consagrado?
Sotelo - Regi um concerto no Teatro Municipal, mas já faz muito tempo.
Diário - Como avalia hoje o cenário da música clássica em Rio Preto e no Brasil?
Sotelo - Em Rio Preto não posso emitir minha opinião, pois já estou fora há muito tempo. Tenho com Rio Preto somente minhas relações pessoais e familiares. Falando do Brasil, acho que é caótica, sem referências, sem parâmetros e estruturas básicas. Quando digo isto, me refiro a todas as artes.
Diário - Neste cenário, o que deve ser feito para impulsionar a música erudita?
Sotelo - Esta é uma pergunta muito difícil. Lendo um pouquinho da história do Brasil, vemos que desde o período colonial estamos tentando responder esta pergunta. As música clássica é irmã de todas as outras artes que dependem de uma instituição para que consigamos aprendê-las. A dança, a pintura e escultura, a arte de rua, a literatura, o teatro, o cinema e outras precisam de instituições de ensino, ou com o nome que quiser dar, para que possam motivar todos que querem entender seus significados.
Todas as artes manifestam parte de nós, que as outras atividades não são capazes de manifestar. São significados de transformação de nossos conteúdos mais desconhecidos que são mostrados desta maneira, e a música clássica é apenas uma delas. Elas começam nestas casas e dão seguimento às estruturas artísticas profissionais. Sendo assim, enquanto não resolvermos isto, estaremos dando às pessoas placebos de arte.
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