Ana Cristina Gagliardo deu uma segunda chance para assaltante de “primeira viagem”.
FR News - Essa é mais daquelas histórias com um início triste, mas um final feliz. Pedro, de 16 anos, e um amigo bolaram um plano para assaltar a casa da comerciante Ana Cristina Gagliardo, moradora da cidade de Tatuí, no interior de São Paulo.
Com uma arma de plástico, eles entraram na casa por volta das 21h, abriram o portão e se depararam com oito mulheres em uma roda de oração. Ana confessa que riu da situação: “Comecei a rir. Pensei que era alguma brincadeira. Duas crianças falando em assalto”, disse Ana em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
Os jovens queriam levar celulares e as motos que estavam na garagem. “Passaram tantas coisas na minha cabeça, não sei porque fiz aquilo. Não tem explicação”, lembra Pedro.
O amigo de Pedro engatilhou a arma mais de uma vez. Ana viu que a arma era de brinquedo, pois “ninguém engatilha mais de uma vez”. “Pedi para eles se acalmarem”, relata a comerciante.
Os estudantes fugiram, levando dois celulares (um deles da mãe de Ana). “Fiquei muito sentida, porque no aparelho havia as últimas fotos da minha mãe. Ela tinha falecido 40 dias atrás”, conta Ana.
Pedro foi apreendido por policiais militares alguns dias depois e quase levou um tiro. “Acho que caiu a ficha naquela hora. Só fiquei pensando no meu irmão, que estava em casa”, lembra Pedro.
Ana teve que ir à delegacia para reconhecê-lo. “Quando olhei para ele, me deu muita pena. Esse garoto vai ser preso por minha causa? Me senti um caco. Pensava: esse menino pode virar um bandido se ficar preso, ele não é bandido.”
Ela encontrou a mãe de Pedro no corredor, a metalúrgica Joana, que estava sem entender nada. “A gente pensa que errou em algo. Fiquei desesperada de pensar que ele ficaria na Fundação Casa. Ele iria apanhar, virar bandido”, afirma.
Ana e as demais vítimas do assalto procuraram o juiz de Tatuí, Marcelo Salmaso, para tentar reverter a internação de Pedro. O juiz sugeriu o círculo restaurativo. Já o outro adolescente, também detido, foi internado, pois já tinha cometido outras infrações.
Passadas algumas semanas, Ana e mais duas vítimas encontraram Pedro e sua família no Fórum de Tatuí. Sentados em roda, cada uma falou um pouco sobre sua vida. Ana comentou o trauma do assalto e do valor sentimental do celular roubado.
Aos prantos, Pedro pediu perdão. “Senti que ele estava com muita vergonha. Achei tão bonitinho”, diz Ana. Após a conversa, eles entraram em um acordo. Pedro faria aulas diárias de futebol, um hobby seu, participaria do grupo de jovens da igreja de sua mãe e seria voluntário em um projeto social liderado por uma das vítimas do assalto.
O jovem tem cumprido as medidas e diz que não voltará a cometer crimes. “Nunca mais”, promete. “É uma história de novela. As pessoas dizem que fui louca de perdoá-lo. Esse menino ganhou outra família, acredito que ele aprendeu. Todos aprendemos”, conclui Ana.
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