O HOMEM QUE APAGAVA ESTRELAS
Odimar Martins
Meu tio
permaneceu por muitos anos,
depois de si
mesmo: no barulho do portão,
no toque das
balas de alfenins nos lábios.
- fartamente
distribuídas aos sábados.
Por dias,
fiquei na janela, olhando
o caminho por
onde vinha,
com suas
botas longas, histórias longas
e uma vida
egoistamente curta.
dos seus
causos, pelo pó impregnado
nos seus
contos, do cheiro morno
dos lugares
por ele visitados.
Chovia, e no
transparente do vidro,
a janela ganhou
tons de mármore,
correu pelo
meu rosto como notícia,
e onde estava
você, eu não poderia estar.
Algumas
estrelas não existem mais;
só permanece
o brilho de sua existência,
percorrendo o
tempo e o espaço
até atingir a
lâmina dos seus olhos.
A vida é poesia
que se permite escrever
nas palavras anônimas,
na alquimia das coisas,
nas verdades
sem importância, na relevância íntima,
quando
se perde aquilo que nem se sabia existir!
Meu tio
conhecia o tempo
pela
experiência de usar os minutos,
nem tão cedo,
nem tão tarde, no ponto
de se fazer
sentir a distância.
“Carpe diem”.
Existem
diversos “ontens”
e possíveis “amanhãs”.
E um único “hoje”...
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