Bruno Camargo passou em seleção para conquistar vaga em Lyon. Aos 22 anos, rapaz conta que carreira começou no Conservatório da cidade.
Caio Gomes Silveira, do G1 Itapetininga e Região
Jovem conquistou vaga para estudar em conservatório na França (Foto: Arquivo Pessoal/ Bruno Camargo)
O saxofonista Bruno Camargo, de Tatuí, alcançou o posto, aos 22 anos, de primeiro brasileiro a ser aceito para estudar saxofone clássico no Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Lyon, um dos mais tradicionais da França. Para conquistar a vaga, o jovem conta que passou por avaliações práticas em junho deste ano, e disputou com 16 músicos de diversos países da Europa e da Ásia para sete vagas.
Bruno aprendeu a tocar instrumento na igreja (Foto: Divulgação/ Conservatório de Tatuí)
“A competição para entrar foi grande, igual competição de futebol. Na minha classe somos 15 alunos ao total, pois juntamos com outros 8 alunos que já estavam no Conservatório. Mas sou o único sul-americano. O restante é composto por europeus e asiáticos. Eu também fui aprovado no Conservatório de Grenoble, também na França, mas optei por Lyon por ser um dos principais conservatórios do país, ao lado dos de Versalhes e Paris. Minha família ficou muito orgulhosa quando soube do resultado. Estou muito feliz também”, ressalta Bruno.
O jovem afirma que a paixão por saxofone começou aos 13 anos, quando entrou em contato pela primeira vez com o instrumento em sua igreja. Aos 14 anos, ele ingressou no Conservatório de Tatuí e não parou mais de estudar. “Quando comecei eu fiquei ‘doido’. Treinava todo dia, de segunda a segunda e três horas por dia. No primeiro ano continuei assim, mas por um período eu dei uma relaxada e diminui a intensidade. Mas graças ao que aprendi na igreja consegui pular um ano no Conservatório de Tatuí. Não só eu, mas muitos e muitos alunos de música saíram das igrejas. Sai muito músico bom delas”, diz.
No ensino médio, Bruno afirma que voltou a estudar saxofone intensivamente, tendo até alguns problemas na escola. “Na escola não fui 100%. Fui um aluno mediano. Em contrapartida, cheguei a praticar saxofone cinco horas por dia. Nesse período até fiquei meio estressado, mas valeu a pena. Sou muito grato a todos os meus professores do Conservatório de Tatuí por me ajudar a realizar esse sonho de estar na França”, diz.
Além de formado pelo Conservatório de Tatuí em saxofone erudito, ele também é licenciado em música pela Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), foi integrante da Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí e da Banda Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo, além de ter sido vencedor em uma audição para a turnê da Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo pelos Estados Unidos e um dos vencedores da audição realizada no Festival Internacional de Música realizado pela Universidade Federal de Santa Maria para intercâmbio na Universidade da Georgia (EUA). “Não penso mais em fazer outra coisa além da música. Desde que saí da escola vi que era isso mesmo o que queria. Estou ‘mergulhado’ na música, não tem mais volta. Estou focado nas apresentações de música erudita, por enquanto só concertos assim”, diz.
Jovem estuda com alunos europeus e asiáticos (Foto: Arquivo Pessoal/ Bruno Camargo)
Novos aprendizados
O jovem iniciou as aulas em Lyon em julho e, apesar de gostar da cidade, não se vê fazendo carreira na Europa. “Sinto que meu dever é voltar ao Brasil, contribuir e tentar ajudar com o estudo do saxofone no Brasil. Isso porque no país o estudo do saxofone não é tão desenvolvido como aqui na Europa ou até mesmo comparado com os instrumentos de corda”, revela.
Em entrevista ao G1, o professor do jovem no Conservatório de Lyon, Jean-Denis Michat, afirmou que ele é o quarto sul-americano a estudar saxofone no local. Antes dele passaram apenas dois colombianos e um argentino. Apesar do pouco tempo de convivência, Michat ressalta a aplicabilidade do aluno.
“Ele é muito sério e quer aprender com intensidade. Tentarei ajudá-lo a pegar a técnica francesa tomando o cuidado para que ele não perca sua identidade brasileira. Definitivamente o objetivo é unir o melhor desses dois mundos.”
Rotina
O curso em Lyon tem duração de dois anos e é isento de mensalidade. Além das aulas, os alunos têm a chance de se apresentar em concertos pela Europa. “Minha primeira apresentação com o grupo será na Rússia em fevereiro do ano que vem”, afirma o jovem.
Segundo Bruno, a vida na França está sendo paga, por enquanto, pelos pais e ele está morando no apartamento de um casal que pertence a mesma igreja que a dele, a Congregação Cristã do Brasil. Com uma rotina de aulas e treinos, o música conta que mal pôde passear por Lyon.
“Além do período de aula o professor pede para que a gente treine seis horas por dia individualmente. Mas pelo que pude ver é uma excelente cidade, muito bonita e mais ou menos do tamanho de Sorocaba (SP), que tem 600 mil habitantes”, completa.
Além de estudar a prática e teoria do instrumento, o jovem também está aprendendo francês e inglês. Segundo ele, só tinha o básico das duas línguas antes de ir para o Conservatório. “Está uma loucura. Minha cabeça está cheia de coisas (risos). Além de todas as aulas, tem a saudade da família e a adaptação a um país diferente. Contudo, apesar do cansaço, é uma coisa boa para minha vida”, comenta.
Jovem sonha em contribuir para o estudo do instrumento (Foto: Divulgação/ Conservatório de Tatuí)
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