Beneficiário do golpe legislativo, Temer morou em Tietê até os 16 anos
Caio Gomes Silveira
Do G1 Itapetininga e Região, editado pelo DT
A posse de Michel Temer (PMDB) como presidente interino da República foi o assunto mais comentado nesta quinta-feira (12) em sua cidade natal, Tietê (SP), que possui 40 mil habitantes. Porém, enquanto alguns moradores demonstram orgulho por serem da mesma cidade do atual presidente e falam em "chance de ouro", outros afirmam que ele tem vergonha da cidade. Temer assumiu a presidência depois que o Senado aprovou a abertura de processo contra Dilma Rousseff (PT), num golpe de estado. Com a abertura, Dilma ficará afastada até julgamento, que não poderá exceder 180 dias.
Para as moradoras Rhayane de Almeida e Suelen Garcia, o fato de Temer estar na presidência não traz esperanças para a cidade. Segundo elas, não mudará nada para o município. "Nunca vimos ele falando aqui em Tietê. Ele tem vergonha daqui, pois só vem aqui em época de eleição. Para a cidade não vai mudar nada. Vão continuar os buracos e vamos continuar a ver postagens nas redes sociais reclamando de demora no hospital", contam.
O desempregado Paulo Maciel, que acompanhou a votação do Senado desde o início da manhã, também afirma que Temer tem vergonha da cidade. "Ele só fala que é da região de Piracicaba. Acho que não é interessante para ele falar que é de uma cidadezinha do interior", afirma.
Paulo Maciel acompanhou as notícias sobre o conterrâneo (Foto: Caio Gomes Silveira/G1)
Michel Temer nasceu em Tietê em 1940 (Foto: Reprodução/TVTEM)
Michel Miguel Elias Temer Lulia nasceu em Tietê em 1940. Ele é filho dos imigrantes libaneses Miguel e March Temer. É o caçula de uma família que chegou ao Brasil em 1925. Logo que pisou no país, Miguel Temer comprou uma casa em Tietê, onde Michel nasceu e viveu até os 16 anos. Atualmente, no local onde ficava a residência, na rua Vila Nova, existe apenas um terreno baldio.
Histórico escolar de Michel Temer está exposto na escola onde estudou (Foto: Reprodução/TVTEM)
Temer tinha fama de bom aluno. Na escola onde estudou, a Escola Estadual Plínio Rodrigues de Moraes, o histórico escolar está exposto em uma galeria.
Em uma chácara na cidade, a família Temer instalou uma beneficiadora de grãos e os negócios deram certo, o que permitiu que ele e outros irmãos fossem estudar em São Paulo.
A última vez que Temer esteve em Tietê foi no aniversário de 174 anos do município em março deste ano. Amigos e parentes afirmam que, quando pode, Temer vem ao município de 40 mil habitantes para uma rápida visita e sempre se hospeda na chácara da "Vovó March", nome da mãe dele. O local é o ponto de encontro com a família em Tietê.
Em 2013, ele foi homenageado pela Prefeitura de Tietê, que colocou na praça Dr. Elias Garcia, área central, uma placa com o poema "O relógio", publicado no mesmo ano no seu livro "Anônima Intimidade". O poema é sobre um antigo relógio que a família mantinha na chácara.
Chácara da família de Temer é conhecida como 'Chácara Vovó March' (Foto: Caio Gomes Silveira/G1)
Escola Estadual Plínio Rodrigues de Moraes, onde Temer estudou (Foto: Caio Gomes Silveira/G1)
Placa na praça da Matriz com o poema escrito por Temer (Foto: Caio Gomes Silveira/G1)
Para o amigo de infância de Michel Temer, James Antônio Milanelo, que conviveu com o presidente durante sua infância e adolescência em Tietê, é uma honra ter um amigo presidente. James conta que conheceu Michel ainda na infância. Os dois moravam perto e iam para a escola juntos todos os dias. “Nos aproximamos mais porque íamos e voltávamos juntos para a escola. Era um tempo que tinha estrada de terra e somos amigos desde sempre. Lembro que meu pai tinha uma capa, essas de cavalo, e usávamos para descer no frio. Tempos de ginásio. Nos separamos quando ele foi para São Paulo (SP), mas sempre fomos amigos. Mesmo após se envolver na política, ele continua nos visitando”, afirma.
Em entrevista ao G1, a sobrinha de Temer, Cleusa Tamer Schincariol, de 66 anos, afirma que se sente orgulhosa de ter um tio Presidente da República. "Estou muito feliz e orgulhosa. É um orgulho para a família. Soube da notícia logo cedo pelo meu marido e filha que me falaram que era sobrinha de presidente. Estou confiante que ele fará um bom trabalho, mas apreensiva por ele. Não por política, mas pela responsabilidade de ser presidente", afirma.
Substituto de Dilma Rousseff durante o período de afastamento da presidente, o vice é reconhecido, por aliados como um articulador político de bastidores que domina as engrenagens do Congresso Nacional e como conspirador pelos adversários.
Presidente nacional do partido há 15 anos, o jurista Michel Temer se elegeu vice-presidente da República, pela primeira vez, em 2010, ao lado de Dilma. Na época, além de comandar oPMDB, ele presidia a Câmara dos Deputados, pela terceira vez em 13 anos.
Respaldado pelo poder que acumulava no Legislativo e na cúpula partidária, Temer impôs ao PT o próprio nome para a vaga de vice como condição para o PMDB apoiar a candidatura da afilhada política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Inicialmente, Lula resistiu e tentou obter uma lista tríplice de peemedebistas para escolher quem entraria na corrida eleitoral ao lado da candidata. Temer negou. Embora exibisse significativa força política como presidente do maior partido do país e da Câmara dos Deputados, Michel Temer vinha de uma eleição apertada para o parlamento.
Cerimônia de posse de Dilma e Temer em janeiro de 2015 (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
Em 2006, ao se reeleger para o quarto mandato consecutivo de deputado federal por São Paulo, não conseguiu contar apenas com os próprios votos para se manter no Legislativo. Na ocasião, obteve 99.046 votos, menos da metade dos 252.229 votos que somou na eleição de 2002. Mas mesmo com a significativa queda de rendimento nas urnas, o peemedebista conseguiu se reeleger "puxado" pelo conjunto dos votos dos demais integrantes da coligação do PMDB.
Apesar do receio que tinha em relação ao perfil de Temer, Lula não podia abrir mão do tempo de rádio e TV dos peemedebistas na eleição em que tentaria fazer a ex-ministra da Casa Civil sua sucessora no Palácio do Planalto. Além disso, ele sabia que Dilma precisaria do apoio do PMDB no Congresso Nacional para garantir a governabilidade.
Com a "bênção" de Lula, o casamento político entre Dilma e Temer foi consumado. A aliança acabou bem sucedida nas urnas, com a dupla derrotando José Serra (PSDB-SP) no segundo turno da eleição de 2010.
No primeiro mandato de Dilma, Temer teve um papel discreto. Fez questão de manter uma relação protocolar com a chefe do Executivo, sempre chamando-a de “senhora presidente”. Nas ocasiões em que substituiu a petista na Presidência por motivos de viagens, fazia questão de despachar do próprio gabinete, no anexo do Palácio do Planalto, onde fica a estrutura da Vice-Presidência.
No anexo, Temer passou os primeiros quatro anos de mandato recebendo uma romaria de peemedebistas insatisfeitos com o dote que o partido havia recebido na Esplanada dos Ministérios – a legenda ocupou cinco pastas no primeiro mandato de Dilma – e com a suposta exclusão do PMDB nas decisões do governo.
À época, ele ouvia atentamente a todas as queixas dos colegas de partido, mas nunca esboçava qualquer intenção de deflagrar um motim contra a presidente.
Michel Temer no prédio anexo ao Palácio do Planalto, em Brasília (Foto: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo)
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